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20/01/2015

De boas intenções está o inferno cheio (27) – A religião é a política por outros meios? (II)

Uma espécie de continuação daqui.

Instintivamente, desconfiei do Papa Francisco. Tive e tenho dúvidas que seja um bom papa para a Igreja e tenho dúvidas de que seja um bom papa para o mundo. É o estilo e a substância. Cheira-me a teologia da libertação. E não só a mim cheira – vejam-se os narizes sensíveis da esquerdalhada, sempre excitadíssima en masse com qualquer trivialidade de Francisco.

Escrevi o que antecede há cerca de um ano e, se fosse hoje, voltaria a escrevê-lo depois de ler as suas declarações sobre os limites para a liberdade de expressão onde a título de exemplo admite que se alguém «ofender a minha mãe, deve estar preparado para levar um soco. É normal. Não se pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros. Não se pode ridicularizar a religião dos outros».

É claro que há uma distância grande entre dar um murro numa criatura por ter ofendido a religião de outra criatura e dar-lhe uma rajada de kalashnikov, mas a substância é semelhante: a recusa da liberdade de expressão se esta for usada para ridicularizar a religião. Há até uma certa proporcionalidade, considerando que o murro seria oferecido pelo chefe religioso da igreja católica, que propugna oferecer a outra face ao ofensor, e a rajada de kalashnikov seria dada por jihadistas que costumam resolver as diferenças com a decapitação do infiel.

Para que não haja dúvida, esclareço que acho o Charlie Hebdo um jornal de  humor medíocre e classifico de um mau gosto atroz os seus cartunes em geral, seja sobre seja Maomé seja sobre o papa. E seja o Charlie, seja o o Expresso, onde há uns anos foi publicado um cartune com um preservativo no nariz do papa João Paulo II. Et pourtant. não acho nada que isto se resolva a murro.

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