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27/01/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (I)

E será um purgatório se o novo governo Syriza-Gregos Independentes retiver apenas a retórica e deixar cair o seu programa. Será um inferno se o não fizer.

Não fora a excitação pueril à volta de mal-entendidos, que vão desde imaginar que a austeridade é uma política e não um mero constrangimento resultante da bancarrota, até ao pensamento milagroso que substitui a trivial aritmética pelas poções mágicas, excitação fundada na dificuldade do homo sapiens vulgaris lidar com a realidade («… human kind / Cannot bear very much reality» - T. S. Eliot), não fora tudo isto, a mitologia grega em construção não resistiria a um simples exercício de racionalidade.

Desde logo porque a coligação do Syriza com os Gregos Independentes que corporiza essa mitologia é fundada não numa base positiva do que se aceita mas do que se recusa e inclui uma espécie de Bloco de Esquerda e um partido de direita, anti-semita, antieuropeísta e que rejeita o casamento gay. Se não fizessem parte da coligação salvífica, os Gregos Independentes seriam provavelmente classificados pela esquerdalhada como fascistas.

Coligação que sustenta um governo entusiasticamente congratulado por Marine Le Pen, governo que indicou um assessor para fazer a transição com outro assessor do anterior governo, que dá prioridade a um encontro com o embaixador russo e que nomeia ministro das Finanças Yanis Varoufakis, um marxista professor na Universidade do Texas.

E imagine-se o que fará um ministro das Finanças que professa uma doutrina cuja adopção fundamentou regimes despóticos que conduziram à miséria quase um terço da humanidade e cuja teoria subjacente suportou previsões comparáveis às profecias de Nostradamus.

Este é um governo que está fadado para ser atropelado pela realidade porque, como escreveu João Miguel Tavares, «a demagogia não está cotada em bolsa, e por isso frases como as proferidas por um entusiástico Pablo “Podemos” Iglesias na noite de domingo – “resgatamos gente, não resgatamos bancos” – podem ser de grande efeito em comícios e tascas, mas não são solução alguma para a Europa.»

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