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16/06/2013

ARTIGO DEFUNTO: Um jornalista bom, no género mau

O director do Expresso Ricardo Costa é em minha opinião um dos melhores jornalistas de causas, no sentido de aviar as suas causas com inteligência e subtileza suficientes para parecer que está a fazer um jornalismo profissional. Contudo e inevitavelmente, com alguma frequência, acomoda os factos às causas com alguma falta de jeito.

Foi o caso no seu artigo «No Ritz com o FMI» onde pratica o segundo exercício jornalístico mais popular nos últimos dois anos que é vilipendiar o FMI - o mais popular é vilipendiar Vítor Gaspar. Para demonstrar a incompetência, ou, para ser benevolente, o irrealismo do FMI que defende ser necessário baixar ainda mais os salários para Portugal ser competitivo, RC, em vez de se socorrer dos dados do Eurostat, ou pedir a alguém que o faça, dá-lhe jeito citar as impressões e palpites de António Melo Pires da Autoeuropa, evidentemente influenciado pela sua experiência comparativa no grupo VW, que tem pouco a ver com o resto da economia, para concluir muito a propósito que «os custos do trabalho ... já estão em níveis que não colocam qualquer problema de competitividade a Portugal».

E, no entanto, 3 páginas mais à frente do seu artigo escreve-se «o custo unitário do trabalho desceu 8%, mas essa correcção é ainda insuficiente segundo os técnicos do FMI, por corresponde, apenas, a 25% do disparo nesses custos desde 2000». Pois claro que é insuficiente, veja-se o gráfico já velhinho da Economist, e considere-se a produtividade do trabalho medida por hora de trabalho que nos últimos dez anos se mantém praticamente constante ao redor de 53% da média EU27. Dito de outra maneira, não houve desde 2001 quaisquer ganhos relativos de produtividade que são indispensáveis, quando Portugal tem uma mão-de-obra que produz metade da média e, já agora, menos de 1/3 da Irlanda em 2012 (fonte: Eurostat). Irlanda, que pela sua produtividade continuou competitiva, apesar de um aumento ainda maior dos custos unitários do trabalho.

2 comentários:

Vivendi disse...

O Costa irmão do Costa Xuxialista.

Os salários da função pública a média andam em + de 1500 € contra a média da privada de cerca de 800 €. É aqui que é preciso cortar a fundo.

Anónimo disse...

Veja-se o crescimento salarial na Alemanha no mesmo período, uma economia que é a mais pujante da Europa e com o mais baixo nível de desemprego. Conseguirá Tó-Zero Seguro convencer a senhora Merkel e os restantes alemães que a receita da austeridade não funciona e que por isso eles nos têm de dar mais dinheiro para alimentar o nosso sacrossanto estado social? Boa sorte Tó-Zero.
JEM