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15/06/2013

ARTIGO DEFUNTO: O casamento perfeito entre a incompetência comunicacional do governo e o agitprop do jornalismo de causas

«Eu estava nos estúdios da TVI, às 23h00 de terça-feira, quando ouvi a notícia pela primeira vez: o Conselho de Ministros deu ordem aos serviços para não processarem este mês os salários que o TC mandou 'devolver'. Soube assim, sem contexto.

Como sabia do atraso da Assembleia em aprovar a nova legislação - o Diário Económico noticiou-o - pensei que havia alguma coisa mais, para justificar a notícia. Por exemplo, que nem os subsídios abaixo dos 600 euros fossem pagos na altura prevista. Esperei à noite e nada.


Acordei cedo. Ouvi as notícias abertura, claro, sem grande enquadramento. Apenas a bomba. Passaram umas horas. Levei as miúdas à escola e já estavam os sindicatos a acusar o Governo de desrespeitar o TC, de cometer uma ilegalidade, de não querer pagar o subsídio. Do Governo nada, nem uma palavra. A SIC dizia mesmo que tinha pedido uma explicação e que lha tinham negado ("dado o adiantado da hora").

Eram dez horas quando entrei no Parlamento - e já o PS seguia os sindicatos. Entre os factos e a demagogia, todos espalhavam o medo. Do Governo, nada. Dez e meia. Na Comissão Parlamentar do Orçamento, o secretário de Estado era questionado sobre o assunto. Finalmente alguém se ouviu. Às 11h20 o PSD fez então uma declaração. Às 11h45 foi o primeiro-ministro a responder aos jornalistas. Por esta hora as Finanças faziam um comunicado.

Quem olhasse para os títulos das notícias - que se seguiam em catadupa - via uma resposta desconexa: uns alegavam que a decisão tinha como motivo um problema financeiro, outros que não, outros ainda se tratava de garantir que os limites trimestrais acordados com a troika seriam respeitados.

Uns diziam esperar que o Presidente promulgasse a lei a tempo de contornar uma ilegalidade, os outros que não havia como processar salários sem que o Orçamento estivesse adequado.

Pelo meio, claro, a oposição passava a mensagem: a este Governo de liberais loucos só faltava mesmo a ilegalidade pura. Como se toda a mesma discussão não tivesse já sido feita na Assembleia uns parcos dias antes, quando o diploma do Governo que estipula como vão ser devolvidos os subsídios foi finalmente votado.

Foi, portanto, um dia típico.

Agora, os factos

OTC decidiu, mas a lei demora a ser aprovada na AR - deixando tudo na mão de uma rápida promulgação do Presidente;

O Governo gere todas as decisões de acordo com um único critério: passar a próxima avaliação (esqueçam aquilo da economia, enquanto o FMI não sair daqui);

A oposição faz de Gaspar o bode expiatório perfeito;

E a gestão mediática do Executivo continua tão afinada como nos melhores dias de Miguel Relvas.

Dito isto, tenho uma triste notícia: a política vai continuar a ser barulhenta e pouco clara. Podia ser pior? Podia. Ora tentem ver a TV pública da Grécia

Um dia exemplar, David Nunes no SOL

Pergunto-me, como pode um cidadão comum, ocupado no exercício diário da sobrevivência, distinguir a verdade da mentira no nevoeiro noticioso produzido pela militância jornalística? Pode com dificuldade e a ajuda de jornalistas profissionais desalinhados como David Nunes. Obrigado.

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