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«O chanceler alemão, acossado pela trágica dependência do gás russo, aceita, obviamente, tudo o que permita minimizar tal. O espanhol Sánchez vendeu-lhe então o reforço das interligações gasistas entre Espanha e França através da construção do primeiro troço do gasoduto MidCat (Midi-Catalonia Pipeline), que levaria nove meses a executar, permitindo a utilização dos seis terminais espanhóis de gás natural liquefeito (GNL) para abastecer em gás natural (GN) a Alemanha. O nosso primeiro-ministro aproveitou e vendeu-nos na silly season um gasoduto de Sines à Alemanha, fazendo crer que Sines salvaria energeticamente a Alemanha, ao mesmo tempo que tal permitiria exportar o hidrogénio verde produzido em Sines, em substituição da ideia inicial de o exportar para os Países Baixos por via marítima.
Ora, não seria necessário um novo gasoduto, mas apenas reforçar alguns troços, como o MidCat referido, e fazer uma nova interligação Portugal-Espanha entre Celorico da Beira e Vilar Formoso (162 km, €244 milhões), continuada em Espanha até Zamora (86 km, €110 milhões), em complemento das atuais ligações em Rio Maior e em Valença do Minho, lançadas no nosso projeto de introdução do GN em Portugal, as quais são perfeitamente suficientes para o funcionamento do mercado ibérico.
Mas Sines, por razões económicas, estando os terminais espanhóis mais subutilizados do que o nosso, e geográficas, não será competitivo em relação aos terminais espanhóis. Será mais prático e eficiente os metaneiros descarregarem em Bilbau e Barcelona, e, a partir daí, injetar o GN na rede europeia, do que virem a descarregar em Sines. O único porto praticamente à mesma distância da rede francesa de Sines será Huelva, todos os outros terminais espanhóis estão mais perto. E no fim do ano esses barcos até poderão vir a descarregar já mais perto da Alemanha, em Wilhelmshaven e Brunsbüttel, e em 2023 em Stade e Lubmin.
E os franceses, que nunca concordaram com o MidCat, chamam a atenção que será sempre mais barato fazer terminais de GNL mais perto do Centro da Europa e da Alemanha do que investir nas interligações referidas para levar o GN da Península Ibérica para a Alemanha e que, face às incertezas que ainda existem na produção e transporte do hidrogénio verde, é prematuro redimensionar interligações para fazer esse transporte.
Mas, numa perspetiva de reduzir na energia a quase ilha ibérica, fará sentido o reforço das interligações gasistas e elétricas, estas prioritárias para nós, entre Espanha e França.»
De Sines para a Alemanha?, Luís Mira Amaral no Expresso
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