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01/06/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (35) - Em tempo de vírus (XII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

«A nossa televisão parece a da Coreia do Norte»

Foi o que disse um médico reformado de Castelo de Vide, que aproveito para saudar, citado pelo jornal SOL, a propósito da presença constante do Dr. Costa e de S. Exª no canal estatal e nos dois canais paraestatais.

Danos colaterais da bazuca de Ursula

Em dissonância com a comunidade dos políticos, o jornalismo de várias causas, a comentadoria e as luminárias do regime e o povo em geral, para quem a cavalo dado não olha o dente, ouve-se uma voz singular e portanto impertinente, sem medo da solidão, que agradece a Mark Rute a sua resistência a enviar para o Portugal dos Pequeninos «dinheiro a fundo perdido». Obrigado Fernando Sobrinho.

É claro que a um povo empurrado para uma queda «queda monumental» por uma troika composta pelo Dr. Costa, S. Ex.ª e uma pandemia, é muito difícil resistir porque durante décadas deixou que a nomenclatura do regime triturasse recursos e criasse défices e dívida, enquanto os sacerdotes dos amanhãs que cantam invocavam Santo Keynes, santo que, quando mais precisaríamos dele, não nos acode por estar vazio o saco das esmolas.

Ineficiente, sempre. Ineficaz sempre que possível

No passado usaram-se guardas-florestais para prevenir incêndios. Os guardas foram desaparecendo por falta de "cabimento" e por falta de candidatos dispostos a suportar o desconforto de percorrer montes e vales em vez de estarem sentados ao fresco. Talvez com esse pretexto, há dois anos o exército torrou quase 6 milhões na compra de drones para a vigilância de fogos que, como é habitual no Estado Sucial geridos por socialistas, não foram usados. E o que faz um governo socialista nestas circunstâncias? Ora, o mesmo de sempre: compra mais 12 drones para a Força Aérea e começa a contratar guardas-florestais.

Da encomenda à China de 500 ventiladores chegaram esta semana mais 60 depois de vários meses. Não se pense, porém, que daí resultaram inconvenientes. Segundo a DGS, nenhum dos que chegaram foi utilizado.

Demonstrando uma grande iniciativa no combate à pandemia, o Estado-Maior do Exército comprou por ajuste directo a uma empresa portuguesa especializada em brinquedos de peluche dez mil testes de Covid-19 e 100 mil máscaras por 74 mil euros e 329 mil euros, respectivamente. Eles podem deixar morrer os comandos. mas o SARS-CoV-2 não fará nem uma baixa na nossa gloriosa tropa.

«Queda monumental»

Diz a ministra que o lay-off simplificado já abrangeu 140 mil empresas e 1,2 milhões de trabalhadores e custou 470 milhões de euros. Na sua simplicidade, estes três números dizem imenso sobre a economia do Portugal dos Pequeninos que o cagaço geral do povo e o especial do governo puseram de pantanas. Dizem-nos que as empresas assistidas têm em média menos de 9 trabalhadores e que cada um destes recebeu em média da segurança social menos de 400 euros em dois meses. A maioria (80%) das empresas pediu já renovação do lay-off e há mais 12 mil na fila de espera.

O BCE já reviu a previsão da queda do PIB da Zona Euro de 5%-12% para 8%-12%. É prudente suspeitar que, mais do que exercício de astrologia. estas previsões são provavelmente fruto de wishful thinking ou mesmo inspiradas no propósito de não desanimar os animal spiritsNós por cá também não poupamos na animação dos animal spirits e concluímos com alívio que afinal PIB caiu ligeiramente menos. Contraiu 2,3% em vez de 2,4%». É muito animador de facto concluir que com um confinamento de 12 dias no trimestre o PIB "só" caiu 2,3%, por isso no segundo trimestre talvez o PIB "só" caia uns 10% à conta de um confinamento no mínimo de 60 dias, a que haverá de adicionar a queda do turismo que o ano passado representou mais de 50% das exportações de serviços, 20% das exportações totais e 9% do PIB. Tudo por junto, o limite superior das previsões deverá passar a ser o limite inferior, confirmando que a única previsão que se mantém é a de S. Ex.ª.

«Já virámos a página da austeridade»

Não virámos, foi mais um truque de ilusionista. Diz agora a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública (louvemos, mais uma vez, o talento para merchandising deste governo a botar nomes nos ministérios) que quanto às carreiras (lembram-se?) ao falar «em rejeitar a austeridade o que quero dizer é (...) não serão as primeiras medidas a privilegiar». O Dr. Costa sabe escolher ministros e é um grande mestre.

O choque da realidade com a Boa Nova

Em retrospectiva: seis meses atrás havia dois programas de renda acessível promovidos pelos putativos sucessores do Dr. Costa. O da câmara de Lisboa, e o do ministro da Habitação no país. Este último já se tinha revelado um flop, o primeiro, que prometeu disponibilizar 6 mil casas a curto prazo e 20 mil a longo prazo, abriu nessa altura candidaturas para 120 casas e só 10 estavam prontas a habitar. Sem esquecer que com contratos a 5 anos a sua renovação vai cair em plena campanha para eleições para a câmara, com as consequências possíveis que Victor Reis aqui antecipa (leitura recomendada).

Resíduos do Estado Sucial socrático

O homem pode ter ido para Paris mas a sua obra ficou cá. E dois dos pilares da obra foram o GES e a EDP. E para a obra foram precisos empreiteiros e directores de obra. Um deles o Dr. Pinho - o ministro dos corninhos - é suspeito de ter recebido uns 4,5 milhões de euros por serviços prestados aos donos da obra. A agora, com quase uma década de atraso, o MP quer aplicar medidas de coacção a três directores da obra, incluindo o eterno gestor do regime Dr. Mexia. E o que fazem os putativos coagidos? Ora, o que haveriam de fazer? «Pedem afastamento do juiz» porque «não garante as condições de imparcialidade». Têm toda a razão. Há muito que deveriam ter um juiz imparcial que os acusasse em tempo útil para que fossem imparcialmente condenados e detidos.

«Deixem-nos trabalhar»

Assim se queixava o Dr. Cavaco do Tribunal de Contas, na altura presidido pelo Dr. Sousa Franco, mais tarde ministro das Finanças do Eng. Guterres, cargo onde esqueceu tudo o que tinha prescrito ao Dr. Cavaco e até foi uma espécie de antecessor do Ronaldo das Finanças ao jurar que «o défice pelos anos que fui responsável foi o mais baixo de toda a história democrática portuguesa e a dívida pública teve a maior redução de sempre, sem quaisquer truques e trampolinices».

A história repete-se e o governo do Dr. Costa - o governo e o seu anexo CM de Lisboa, onde pontifica o putativo sucessor - também se queixa do TdC e por isso quer usar o Programa de Estabilização Económica e Social «como Cavalo de Troia para enfiar, a mata-cavalos, leis que vão enfraquecer o papel do Tribunal de Contas» a pretexto de que tem dificultado o investimento público. Com uma cajadada pretende matar dois coelhos: o coelho do TdC e o coelho da justificação das obras públicas constante e repetidamente anunciadas raramente serem adjudicadas, expediente em que o TdC está inocente e se deve a preços fantasiosos de licitação em que ninguém pega, o que tem a vantagem de propiciar mais anúncios da mesma obra.

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