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08/06/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (36) - Em tempo de vírus (XIII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Para um primeiro-ministro normal ter um paraministro seria paranormal

«Não é admissível que uma pessoa seja ministro para todos os efeitos menos para o estatuto constringente da função ministerial. É um escândalo aceitar, e escrever-se olimpicamente, que Fulano é o n.º ministro.».

Quem disse isso? António Costa, há 9 anos no Quadratura do Círculo, um programa em que se promoveu pela mão do comentador do regime Pacheco Pereira. E disse-o a respeito de António Borges, um consultor a quem Passos Coelho nunca encomendou fazer um plano em dois dias para os próximos dez anos nem negociar com ministros e a quem nunca foram ouvidas palavras como «nós, pura e simplesmente, decidimos não investir mais em Portugal, não vale a pena» ditas por António Costa e Silva há dois anos.

Aparte a duplicidade de critérios, que faz parte da natureza dos Drs. Costa e Costa e Silva, imaginar que uma luminária rabisca um documento em dois dias e o milagre da recuperação económica acontece, faria do Dr. Costa um vidente pela segunda vez em cinco anos. A primeira vez foi quando encarregou o Dr. Centeno na companhia de uma dúzia de luminárias de produzir umas dúzias de páginas de um plano para dez anos a que chamaram Uma Década para Portugal (que autopsiámos no Impertinências em sete posts) de que ninguém, incluindo ele próprio, se lembra hoje. É claro que o Dr. Costa é tudo menos um pateta que acredite nestas coisas e, por isso, temos de concluir que é mais uma manifestação do seu conhecido talento para o ilusionismo.

A solução dos socialistas para as falhas do socialismo é mais socialismo e mais Estado Sucial

Não sei se o Dr. Costa e Silva é filiado no PS. Se não for, deveriam oferecer-lhe o cartão logo após a sua declaração de fé no Estado português como salvador da economia, que sem ele «entra em estado de coma». É muita ousadia sua atribuir tais propriedades a um Estado que com o PS no governo deixou por três vezes a economia nos cuidados intensivos enquanto era intervencionado pelo FMI e pela troika.

A regionalização como desígnio do Dr. Costa

Se podemos considerar o semanário de reverência cada vez o jornal oficial onde o governo anuncia na primeira página as suas próximas grandes medidas, então o Expresso de sábado passado com o seu título «Costa acelera regionalização» diz-nos que, depois de ter cultivado a sua freguesia eleitoral de funcionários públicos durante cinco anos (agora isentados do lay-off), o Dr. Costa pretende agora premiar uns milhares de apparatchiks que se acotovelam no aparelho socialista. Para um Portugal dos Pequeninos com uma população que se fosse uma cidade com o Dr. Costa como presidente da câmara seria apenas a 14.ª cidade do mundo, inventar uma nova camada de burocratas a pretexto da criação de governos regionais só pode ter esse propósito.

Todos são iguais perante a lei, mas há uns mais iguais do que outros

Entre os menos iguais encontramos os foliões dos Santos Populares, os participantes no 10 de Junho e a populaça em geral. Entre o grupo selecto dos mais iguais podemos encontrar o Dr. Ferro Rodrigues e os seus convidados, os comunistas da CGTP que fizeram comícios na Alameda, os comunistas do PCP que fazem comícios no parque Eduardo VII e festas no Seixal, e o comediante do regime Bruno Nogueira que realizou dois espectáculos no Campo Pequeno com a presença do Dr. Costa e de S. Ex.ª.

«Queda monumental»

Continuam os exercícios de astrologia. O ISEG que em Abril previra uma queda do PIB entre -4% e -20%, dois meses depois estreita o intervalo para entre -15% e -20%. O Conselho das Finanças Públicas prevê uma queda do PIB entre -7,5% e -11,8%, com a taxa de desemprego a duplicar para 13,1%, o défice a atingir 9,3% e a dívida pública 141,8%.

É uma espécie de realidade alternativa

Na apresentação do Programa de Estabilização Económica e Social (que não contém o cenário macro-económico!), o Dr. Costa previu uma queda de 6,9% do PIB e uma taxa de desemprego de 10%. No caso dele não se trata de astrologia, é mais ilusionismo.

O Dr. Centeno, que está nas suas últimas exibições, prevê a subida do défice para 6%-7% ou «treze mil milhões de euros para financiar no mercado» e garantiu que não haverá austeridade, garantia que ele certamente cumprirá no seu novo posto no BdP. O mercado a que o Dr. Centeno se refere chama-se BCE que está no fim da linha a comprar a dívida aos bancos.

Boa Nova

Quanto mais se conhece a dimensão da queda monumental, mais o governo se multiplica a anunciar amanhãs que cantarão. Vem Siza Vieira a anuncia o banco de fomento nas «próximas semanas», um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, tinha ressuscitado há três anos e segundo o mesmo ministro já estava criado em Janeiro.

Vem o Dr. Costa e anuncia que as linhas de crédito com garantia do Estado vão aumentar de 6,2 para 13 mil milhões de euros.

Vem o ministro e promete aumentar o investimento público 28% este ano e 20% no próximo, investimento público que todos os anos aumenta no orçamento e baixa na execução e no ano seguinte volta a comparar-se o orçamentado com o executado no ano anterior, que foi menos do que o orçamentado, e assim sucessivamente com aquele toque ilusionista que fez a fama do Dr. Centeno.

Fonte
O choque da realidade com a boa nova

A verdade é que só chegaram às empresas 3,5 mil milhões dos 6,2 mil milhões de euros de linhas de crédito que o Dr. Costa anunciou ir aumentar para 13 mil milhões de euros

A probabilidade dessas boas novas se concretizarem no tempo e no modo anunciado é poucachinha. Em contrapartida um novo imposto sobre a banca, a que chamam carinhosamente «contribuição adicional de solidariedade», para financiar Segurança Social é bem mais provável.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

As vacas gordas com que o Dr. Costa se emplumou devem-se aos exportadores, aos turistas, às taxas nulas e aos bolsos fundos do BCE e, também, às medidas impopulares que o governo anterior teve de tomar para limpar o lixo deixado pelo socratismo, de que fez parte o Dr. Costa. O que seguramente se lhe deve e ao seu governo é o aumento de 27 mil milhões de euros em cima da dívida pública que recebeu do governo anterior e, como a procissão ainda vai no adro, são as consequências dos efeitos colaterais da sua "guerra" à pandemia.

Fonte

A família socialista tem imenso jeito para o negócio

E como diz o presidente do Tribunal de Contas, que sabe do que fala, «a contratação pública em contextos de emergência é uma das áreas identificadas como mais permeável à corrupção» e para a facilitar o governo criou um regime de excepção que é uma espécie de vale-tudo. E se o limite para o visto prévio do TdC aumentar de 350 para 750 mil euros aumentarão proporcionalmente as oportunidades para a família socialista exercitar o seu talento para os negócios.

A maldição da tabuada. Alguém sabe qual é a taxa de desemprego?

A taxa de desemprego oficial é 6,3%, sem contar com mais de uma centena de milhar de trabalhadores classificados como inactivos e não desempregados que não procuraram emprego ou estão em lay-off total. Por isso a taxa de desemprego pode ser o dobro.

«Estamos preparados»

«A 7 de Maio, já íamos em 1151 ventiladores comprados à China, mas dos tais ventiladores que estavam sempre a chegar, a ser entregues e a ser recebidos, tinham chegado 73. A 3 de Junho, o Correio da Manhã diz que dos ventiladores comprados à China 887 estão por chegar e a 6 de Junho anuncia-se que os ventiladores chegarão a 8 de Junho.» (Helena Matos)

Enquanto os ventiladores não chegam, gente que nunca investiu um chavo, nem criou um posto de trabalho, nem ao menos entrou numa empresa, inventa dúzias de regras completamente chaladas para as praias, os restaurantes, os jardins infantis, e até para os nadadores-salvador fazerem os salvamentos sem entrar na água.

Numa economia socialista a bolsa não tem lugar

Em vinte anos o número de empresas cotadas diminuiu de 148 para 55, o PSI20 deveria mudar o nome para PSI18, a capitalização bolsista total só vale 30% do PIB, quem tivesse investido mil euros na bolsa há uma dúzia de anos teria hoje umas poucas centenas de euros.

2 comentários:

Zé Muacho disse...

Quantos tentáculos tem o polvo?

Se ainda não leu, aconselho a leitura do post "Costa & Costa & companhia", no blog "Do Portugal Profundo", aqui:
http://doportugalprofundo.blogspot.com/2020/06/costa-costa-companhia.html

Anónimo disse...

o Do Portugal Profundo tem umas excelentes informações legais sobre os 'expert'os.
Abraço