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27/06/2020

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (34) - O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco a caminho

Outras botas para descalçar

Recapitulando: o Dr. Galamba, actual secretário de Estado «para a Transição», que «frequentou um doutoramento em Filosofia Política na London School of Economics» (não me perguntem o que é frequentar um doutoramento) e foi uma espécie apoderado do Sr. Eng. José Sócrates, anunciou há três meses uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines» em parceria com a Holanda. Seis dias depois a Holanda esclareceu que «ainda é cedo» para falar disso.

Desde então o Dr. Galamba, à míngua de obra «para a Transição», vem vendendo a sua imagem numa campanha pessoal a pretexto do hidrogénio, que tudo indica será mais um daqueles projectos megalómanos e economicamente inviáveis de que o animal feroz e agora os seus discípulos tanto apreciam para torrar dinheiro dos contribuintes.

Fiz referência há dias o artigo sobre o tema hidrogénio solar de Mira Amaral que desmistifica os fundamentos técnico e económico do balão do Dr. Galamba. No mesmo sentido, transcrevo de seguida um artigo de Clemente Pedro Nunes, um professor de engenharia que tem obra publicada sobre os temas da energia e em particular do hidrogénio:

 «E em vez de se enfrentar o problema da eletricidade intermitente com inteligência e eficácia, temos agora em consulta pública a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, que propõe promover ainda mais potências intermitentes, pondo novamente os consumidores a pagar todos os custos e os promotores a ficarem com todos os benefícios.

O hidrogénio não é uma fonte de energia primária e, sendo um gás muito leve, exige pressões muito altas e temperaturas muito baixas para poder ser armazenado, o que implica custos e riscos muitíssimo elevados.

Tal como Sócrates e Pinho tinham feito em 2008, o pretexto mediático é que “Portugal vai salvar o planeta sozinho armazenando eletricidade através do hidrogénio”.

E, de novo, “os consumidores portugueses irão pagar por decreto o que for preciso por tecnologias que ainda não existem”, indo-se buscar aos fundos europeus, que se espera venham salvar a economia portuguesa, 7 mil milhões de euros para este “delírio tecnológico” que o próprio documento em consulta pública assume irá ter prejuízos até 2030.

Embora António Costa Silva tenha sido, em 2010, um dos defensores do lóbi das elétricas intermitentes, nomeadamente num artigo publicado no Expresso e intitulado “O plágio dos Orangotangos”, espera-se que, nas suas atuais funções de supervisor do plano económico para aplicar os fundos europeus, saiba defender o reforço das empresas de bens transacionáveis e não deixe que sejam utilizados num desastre tecnológico que põe em causa o que foi aprovado na Cimeira de Lisboa, em 2018.»

Excerto de A catástrofe da eletricidade intermitente: da dívida tarifária à bomba de hidrogénio, no jornal i.

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