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09/04/2020

As luminárias das esquerdas têm sonhos húmidos com pandemias e catástrofes em geral

Entre as esquerdas, mais numas do que noutras, vive-se um momento de excitação com a pandemia. Como paradigma, cito o jornalista de causas / militante / comentador / analista,  ex-comunista, ex-Plataforma de Esquerda, ex-Política XXI, ex-bloquista, ex-Livre, ex-Tempo de Avançar, ufa!, Daniel Oliveira, que até recentemente desempenhou o papel de bactéria diligente-mor da fossa séptica socialista, papel que abandonou desgostoso com o fim da geringonça.
«Pressinto, pressentimos quase todos, a grandeza fundadora deste momento. Ele será recordado como o momento em que muitas coisas mudaram. (...) marca mesmo a História. Provoca ruturas.»
Assim escreveu a criatura em tom apologético, falando, imagina ele, em nome de quase todos. Repare-se grandeza fundadoramarca a História, provoca rupturas. E porquê essa excitação? Simplesmente porque todos os cataclismos, ou eventos que as esquerdas considerem como tais, como é o caso desta pandemia, obrigam geralmente, ou acham as esquerdas que obrigam, a uma maior intervenção do Estado, intervenção que as esquerdas sempre aplaudem. Evidentemente que o cataclismo que mais excita a esquerda das esquerdas é a revolução social, culminando com a tomada de um palácio de Inverno. Nesse sentido, esta pandemia é apenas um pálido ersatz, mas quem não tem cão caça com gato.

E porque aplaudem em geral as esquerdas uma maior intervenção do Estado procurando ocupar o Estado proporcionalmente ao seu grau de radicalismo?  A explicação geral é porque a esquerda é um credo que sacrifica a liberdade em nome da igualdade, na dúvida (esquerda «democrática») ou sempre (a «outra» esquerda) e a igualdade só pode ser conseguida coercivamente, o que requer a ferramenta adequada - o Estado controlado pela esquerda evidentemente. Por isso, sonha Daniel de Oliveira com os amanhãs que cantarão.

E será que os amanhãs vão mesmo cantar? Talvez não, lamenta  Ricardo Paes Mamede, um economista académico e mediático da Mouse School of Economics, com um poucochinho mais de sofisticação do que o padrão dessa escola, num artigo cujo título é, só por si, uma lamentação:  «Não, o vírus (ainda) não trouxe o socialismo de volta».

Comparando a actual crise da pandemia com a crise financeira de 2008, Paes Mamede lembra que «os Estados foram chamados a intervir em força, é certo», mas nem por isso o socialismo chegou. «Também agora a crise do covid-19 põe muitas pessoas a defender coisas inesperadas. Mas apesar do volume inaudito de socialização dos riscos e do papel activo dos Estados no combate ao vírus, há pouco de socialismo na situação actual». Porque, explica «não há socialismo numa sociedade onde a participação democrática e a representação dos trabalhadores estão suspensas.»

Temo, como agora se diz a propósito de tudo, que Paes Mamede esteja equivocado. Dependendo da modalidade de socialismo, onde há socialismo costuma haver pouca ou nenhuma participação democrática e costumam estar ausentes ou serem meramente formais os mecanismos e as instituições próprias de uma democracia liberal.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sobre sonhos húmidos da esquerda:

Que tal:

-> cancelar a religião. (Mesmo com um papa comunista
-> Cancelar as greves, (nunca vi uma greve num regime comunista)
-> Legislar sobre a propriedade. (propriedade é liberdade)

isto é um mudar lençois ....

majoMo disse...

- Este 'Douto', típico representante da Elite dominante de Estórias para Totós, quer torcer a realidade, dizendo que o Socialismo é sinónimo de Democracia...
- Tal como há uns anos (socráticos...) determinava - do alto da sua Catedratice p/ Totós:
> “o dinheiro que Portugal pede emprestado é receita.”

Anónimo disse...

Aleksandr Dugin (...sim, eu sei qual é a vossa opinião sobre Putin...) considera que esta crise terá mais impacto na História que 1968, ou mesmo 1945. Talvez seja mesmo o fim de algo que começou em 1789. E pensa que o futuro pertencerá a uma ditadura tecnocrática-sanitária com assistência da AI - um "upgrade" da actual China, digo eu...
Talvez ele esteja equivocado. É bom que esteja. Mas numa coisa tem razão: "isto" nunca mais voltará a ser o que era. Os Danieis Oliveiras que por aí andam são os últimos dinossauros que caminham nesta terra. O tempo deles acabou.