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04/12/2017

Era uma vez um Centeno que foi para Bruxelas

Há o Mário Centeno economista académico, considerado competente, com uma formação sólida e um currículo digno de nota.

Há o Mário Centeno ministro das Finanças que tem sido um executor fiel das políticas indispensáveis para apaziguar comunistas e bloquistas e manter o seu apoio ao governo. Políticas que não são as do Centeno economista, nem mesmo são as previstas no programa do governo e ainda menos no documento dos 12 sábios, e consistem essencialmente em medidas one-off, no aumento dos impostos indirectos, no expediente das cativações para conter as despesas com bens e serviços e o investimento, comprometendo a eficácia da máquina administrativa. Com o aumento da despesa estrutural em reposições e restituições para satisfazer a clientela eleitoral de funcionários públicos, só o crescimento económico induzido pelas exportações e o turismo, que não devem nada nem a Centeno nem ao governo, permitiu reduzir o défice. Até agora não houve o que se possa chamar de consolidação orçamental.

Talvez o Centeno economista, percebendo ao fim de dois anos onde conduz esse caminho, sem a coragem de Campos e Cunha que saltou do barco de Sócrates dois meses depois de tomar posse, tenha procurado afastar-se gradualmente do pântano em que se transformará a gestão das finanças públicas e refugiar-se nas suas responsabilidade no Eurogrupo.

Com a nomeação surge uma terceira persona, o Centeno presidente do Eurogrupo, o que empresta algum brilho à imagem internacional tradicionalmente embaciada de um Portugal dos Pequeninos e alimenta a fome de reconhecimento de um povo com complexos de inferioridade que vê assim mais um «português no topo do mundo». Mais ou menos o mesmo brilho que emprestaram os comissários Cardoso e Cunha 1985-8), Deus Pinheiro (1993-4, a maior parte do tempo nos greens de golfe) e António Vitorino (1999-2004, a maior parte do tempo a fazer conferências) - alguém se lembra destes três? - ou do que o comissário Moedas (2014-2020, uma parte significativa do tempo a preparar o seu futuro em Lisboa). Menos do que a eleição de Barroso para presidente da CE, longe da eleição de Guterres para secretário-geral das Nações Unidas e a uma distância galáctica das cinco Bolas de Ouro de Cristiano Ronaldo.

Que daí resulte munição para Costa continuar a seguir este caminho contando com bloquistas e comunistas é bastante duvidoso (mais duvidoso os segundos do que os primeiros). Inevitavelmente, o Centeno presidente do Eurogrupo será um mero porta-voz e moderador das reuniões dos 19 ministros das Finanças cujas decisões serão ditadas, ou pelo menos grandemente influenciadas, pelos pesos-pesados Alemanha e França. Pelo contrário, é mais provável que o Centeno na encarnação de ministro das Finanças de Costa fique mais condicionado do que actualmente. Seja como for não creio que faça sentido dramatizar.

Como seria de esperar, quase todas as múltiplas reacções a esta nomeação são encomiásticas, algumas imbecis e entre estas destaco as duas mais notáveis. A de Pacheco Pereira (a caminhar velozmente para o esquerdismo senil e a irrelevância) - «é a mesma coisa que a gente nomear um general para o exército inimigo» - e a de João Galamba (igual a si próprio, começou por apresentar reservas à sua nomeação e acabou com uma declaração hiperbólica) - «não é o Eurogrupo que vem para Portugal, é Portugal que vai para o Eurogrupo com as políticas seguidas por Mário Centeno nos últimos dois anos».

2 comentários:

Anónimo disse...

O seu erro está precisamente onde diz "Centeno ... indispensável para apaziguar comunistas e bloquistas...)
Só por ingenuidade se produz essa ideia.
Em que país ou em que momento é que apaziguou um comunista que não tenha nas mãos o poder?
E se, e quando chegam ao poder quando é que um comunista deixou de ser ditador e opressor do seu próprio povo?
Cite um único país comunista onde habite a abundância, a felicidade, o bem estar do povo?
Todos eles sustentados por regimes militares e policiais

Impertinente disse...

Explico-me: é a teoria do salame. Os comunistas são momentaneamente apaziguáveis enquanto lhes forem dando fatias do salame e eles não tiverem condições para tomar o salame todo - e no actual contexto social e político europeu não têm essas condições; portanto têm de contentar com as fatias e vão sempre exigindo mais.