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19/10/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Costa enfiado na Lisbolha

«Quando olhamos para os seus dois anos como primeiro-ministro, aquilo que vemos é uma gestão política confinada ao eixo Terreiro do Paço-São Bento, com incursões pontuais a Bruxelas. O governo leva muito mais tempo a reunir com o Bloco e com o PCP do que a pensar no futuro de Portugal, até porque as grandes reformas estão bloqueadas à esquerda. A chamada “geringonça” é uma máquina carente de assistência técnica permanente, pelo que não é de espantar que quando o país real telefona para São Bento a linha esteja ocupada. Não são só os bombeiros e a GNR que não conseguem contactar a Protecção Civil – o Portugal profundo também não consegue falar com o primeiro-ministro.

António, rapaz de Lisboa, começou na política aos 14 anos, aos 22 já estava na Assembleia Municipal, e excepto o curto ano em que foi deputado europeu sempre viveu e trabalhou nos meios políticos da capital. A falta de empatia de António Costa após a dupla tragédia deste Verão pode ter a ver com isto: o primeiro-ministro sempre olhou para o país a partir do Terreiro do Paço. Foi tanta a frieza com que reagiu ao apocalipse do fim-de-semana que é como se o Portugal profundo fosse para ele uma entidade abstracta, tão distante como as colónias para Salazar. Costa vive e respira dentro de uma bolha política, que ele domina como ninguém. Quando as arestas da realidade mais bruta explodem essa bolha, o que sobra do primeiro-ministro? Ainda é cedo para uma avaliação final, mas até agora sobrou muito pouco.»

Excerto de «António Costa, primeiro-ministro de Lisboa», João Miguel Tavares no Público 

1 comentário:

Anónimo disse...

Já viram um peixe morrer, asfixiado, dentro de uma bolha de ar?

É, sempre, indigno,
É, agora, legítimo.