Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

02/10/2017

DIÁRIO DE BORDO: Estórias do outro mundo (5) - As autárquicas vistas de Melmac

[Outras estórias do outro mundo: (1), (2), (3) e (4)]

Conheci Alf, aka Gordon Shumway, em pessoa, por assim dizer, no Verão de 2002, quando ele passava férias com os Tanners na Quinta da Balaia. A primeira vez que o vi teria uns 245 anos e corria atrás de um gato, um dos muitos que lhe atribuíram ter comido nas redondezas. A estadia em Portugal foi curta mas muita intensa - Alf apreciava e papava gatos algarvios com a mesma voracidade com que os Tanners degustavam feijoada de lingueirão. Tão intensa que Alf desde essa altura passou a interessar-se por tudo quanto respeitava a Portugal. 

A penúltima vez que Alf telefonou foi em 2011 a propósito do manifesto de um grupo de lunáticos (ele chamou-lhe outra coisa) a exigir «saber quem são os credores» (da dívida pública). Três anos mais tarde voltou a ligar, através do Skype que em Melmac se chama Skalpe, depois de ter lido um artigo do Dr. Mário Soares, então ainda não falecido, que Alf acreditava ter sido raptado por alienígenas do planeta Kepler-186f e devolvido à terra com alterações de hardware para escrever o celebrado artigo «A crise e Portugal» no DN (já então um paradigma da imprensa independente).

Desta vez Alf ligou-me através do WhatsApp que em Melmac se chama WhatheFack. Aliás, foi com o nome desta aplicação que Alf disparou ... se passou com as vossas eleições? O DN escreve na 1.ª página «PSD esmagado», o Público «Derrocada», o ionline «Costa o Conquistador», o CM «Costa arrasa Passos Coelho» e por aí fora. Foi isso mesmo, respondi, tentando explicar a hecatombe.

Hecatombe? questionou Alf. Sim, vê por exemplo a 1.ª página do DN que mostra o PS com 37,82% e o PSD 16,07%, expliquei. Homem, isso é o resultado do PSD sozinho. Com coligações tem 28,1% e em conjunto com o CDS têm 31,8% e só perdeu 0,7% relativamente a 2013. E o PS só teve mais 1,5%.

OK, disse para mudar de assunto, mas isto eram eleições locais e o que interessa são os resultados das câmaras e aí foi mesmo uma hecatombe. Em Lisboa o PSD perdeu 11,2%... E o PS perdeu 8,9% e a direita ganhou 4%, interrompeu Alf.  OK, disse tentando outra vez, mas o PSD de 106 câmaras perdeu 10. E o PCP que Costa disse que não tinha tido uma derrota perdeu o mesmo número que no caso dos komunas (é assim que ele fala, com k) é um terço?

Ganhando embalagem Alf debita: das 20 capitais de distrito, o PSD tinha 8… e ficou com 8. Em 20, subiu a votação em 9 e desceu em 11. Nas 20 câmaras, a média simples de votos era de 31,89%. Nestas eleições até agora foi de 31,82%. Uma queda de 0,07%. Achei estranha tanta erudição autárquica e confirmei mais tarde que ele também lê o Insurgente. Ah e há mais, acrescentou, o PS perdeu 10 câmaras, 7 para o PSD e 3 para PSD-CDS.

Foi nesta altura que chutei para o lado e comecei a perguntar aos gritos ainda estás aí Alf? Estás-me a ouvir. Não ouço nada. Deve ser uma aurora boreal que está a interferir. Vou ter de desligar.

Sem comentários: