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17/08/2017

Uma mão só lava a outra se houver sabão

Entendamo-nos, considerar Donald Trump um mau presidente para os Estados Unidos e um péssimo presidente americano para o mundo não implica considerar que tudo o que defende é errado ou condenável e não implica considerar que os seus detractores têm razão por direito divino quando se lhe opõem; por outro lado, considerar que muitos dos seus detractores defendem ideias erradas ou condenáveis não implica dar razão a Trump quando se lhes opõe.

Vem isto a propósito dos incidentes de Charlottesville em cuja génese se encontra mais um episódio da estupidez revisionista da história: a tentativa de remover do Emancipation Park uma estátua de Robert E. Lee, um herói da Guerra de Secessão, general do exército dos Estados Confederados, que por acaso não era esclavagista e por acaso defendia a integridade da União e até foi escolhido pelo presidente Lincoln para comandar o exército da União; confrontado com a secessão da Virgínia, não aceitou e escolheu o Estado onde nasceu.

É claro que isso justifica e legitima a manifestação contra a remoção da estátua. É igualmente claro que a contra-manifestação, começando por ter legitimidade perde-a a partir do momento em que uma facção dos contra-manifestantes, a Antifa ou "activistas anti-fascistas" se manifestaram violentamente com bastões e líquidos coloridos contra os "supremacistas brancos", segundo o testemunho insuspeito de repórteres do New York Times. E é ainda mais claro que tudo isto não pode justificar a violência dos manifestantes e muito menos um acto extremo como o atropelamento deliberado por um "neo-nazi"de contra-manifestantes de que resultou a morte de um deles. E, já agora, repare-se como os mídia na sua maioria utilizam os adjectivos para instilar nas meninges qual o lado certo (anti-fascistas) e o lado errado (supremacistas brancosneo-nazis) dispensando-se de mais argumentos.

Face a esta situação compreende-se que Trump, mostrando por uma vez algum senso, tenha tentado evitar tomar partido e resistido a condenar os "supremacistas brancos". Já não se percebe e não se desculpa que a incapacidade de Trump para lidar com situações complexas como esta e com as pressões que naturalmente foi sujeito o tenha levado a perder a distância, a tomar partido limpando a folha do alt-rigth e atacando a alt-left que é uma espécie de alt-right de esquerda que inspirou a contra-manifestação. (NYT, NYT)


É possível que as coisas não fiquem por aqui porque continua a fúria de remoção de símbolos históricos a quem a esquerdalhada americana pretende julgar pelos padrões da sua vulgata e colar rótulos que nem hoje fazem sentido quanto mais no século XIX. O episódio mais recente é o da remoção retratada na imagem das estátuas de Robert E. Lee (outra vez) e de um outro general e herói sulista Thomas Jonathan "Stonewall" Jackson. (NYT)

Esta onda de imbecilidade que ameaçar submergir os Estados Unidos seria comparável a uma outra onda, que esperemos não venha a ser formada pelos pamonhas locais da esquerdalhada, e que levaria entre nós a desmantelar, entre muitas outras estátuas e monumentos, a Fonte Luminosa (porque foi um símbolo do salazarismo e, já agora, onde Mário Soares iniciou o ataque a comunistas e esquerdistas), o Cristo-Rei (porque uma parte da hierarquia católica colaborou com o salazarismo), o monumento a Gomes da Costa em Braga (porque comandou o golpe de estado que acabou com a baderna da 1.ª república), as dezenas de estátuas de colonialistas como Afonso de Albuquerque ou o Monumento ao Esforço Colonizador Português (Foz do Douro), sem esquecer o derrube de todos os padrões dos descobrimentos espalhados por esse mundo.

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