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13/02/2016

ACREDITE SE QUISER: Foi encontrado o nucleótido da liberdade no ADN da TAP (2)

Depois de re-verter a venda da TAP, a geringonça decidiu re-baptizar o Aeroporto da Portela dando-lhe o nome de Humberto Delgado, o «General Sem Medo». Vem por isso a propósito re-publicar parcialmente o post que escrevi faz um ano acerca da notícia «TAP: Nascida há 70 anos com liberdade no ADN».

Tudo o que temos pensado e escrito aqui no (Im)pertinências sobre a «companhia de bandeira» fica posto em causa porque, afinal, o ácido desoxirribonucleico da TAP tem lá uns nucleótidos de Humberto Delgado. Fica-nos a dúvida se na altura da criação da TAP nos idos de 1945 o «General Sem Medo» já teria expurgado todos os nucleótidos do fascismo até então predominantes, desde 1926 quando participou no golpe de 28 de Maio e em 1941 quando publicou artigos na revista «Ar» de grande simpatia para com o nazismo em que escreveu sobre Hitler
«O ex-cabo, ex-pintor, o homem que não nasceu em leito de renda amolecedor, passará à História como uma revelação genial das possibilidades humanas no campo político, diplomático, social, civil e militar, quando à vontade de um ideal se junta a audácia, a valentia, a virilidade numa palavra
Ou quando foi nomeado em 1944 pelo governo de Salazar Director do Secretariado da Aeronáutica Civil, ou em 1951 e 1952 quando foi procurador à Câmara Corporativa ou quando foi nomeado em 1952 adido militar na embaixada em Washington onde viveu durante cinco anos. É nesse período que a lenda situa a sua conversão à liberdade, a caminho dos 50 anos e após 3 décadas de situacionista emérito - dizem os detractores que a conversão se deve mais a vaidades e ambições insatisfeitas do que a convicções.

É claro que pelo meio, em 1945 e 1946, Delgado criou a TAP e lá deixou nucleótidos não fascistas que trazia escondidos no seu ADN. Nucleótidos que passaram despercebidos até ao atento PCP, quando em 1958 Delgado se candidatou a PR, e, talvez por isso, começou por apoiar o anticomunista Cunha Leal, uma relíquia da I República, para finalmente apoiar o compagnon de route Arlindo Vicente e praticamente só depois do assassinato de Delgado, numa manobra típica do tacticismo de Cunhal, o recuperou para o património antifascista.

E assim assistimos, 5 décadas depois, a propósito da «resistência» à privatização da TAP, ao reescrever da história pelo jornalismo de causas em cujo ADN encontramos mais facilmente os nucleótidos do PCP do que os nucleótidos da liberdade.

1 comentário:

Unknown disse...

O ridiculo de mudar nomes de obras feitas é igual ao de andar a "criar" passados a pedido.
Felizmente que temos a net hoje e podemos ter informação sem ser dos "educadores" das massas.