Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
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05/10/2024

Dúvidas (341) - O que está por detrás da decisão de continuar a usar a bitola ibérica? (2)

Continuação de (1)

Aparte as teorias da conspiração que não subscrevo, o artigo no Observador de Henrique Neto, que escreve regularmente sobre o tema, salienta uma vez mais o absurdo de justificar a bitola ibérica com mentiras, à falta de argumentos. Coloquei esta questão ao ChatGPT e obtive a seguinte resposta que confirma a falta de fundamento da história da carochinha do vice-presidente da empresa pública IP:

«A bitola ibérica (1.668 mm), utilizada tradicionalmente na rede ferroviária da Espanha e de Portugal, está passando por um processo de transformação significativa, com o governo espanhol priorizando cada vez mais a mudança para a bitola padrão europeia (1.435 mm). Essa transição faz parte de uma política de integração com o sistema ferroviário da União Europeia, com o objetivo de melhorar a conectividade internacional, facilitar o transporte de mercadorias e promover uma maior eficiência logística.

Intenções Futuras do Governo Espanhol em Relação à Bitola Ibérica

Conversão para Bitola Europeia: A principal intenção do governo espanhol é aumentar o uso da bitola padrão europeia, que facilita a interoperabilidade com as redes ferroviárias do resto da Europa. A expansão da rede de trens de alta velocidade (AVE) é um exemplo claro dessa tendência, pois todos os novos projetos de alta velocidade estão sendo construídos na bitola padrão europeia. Esse movimento visa melhorar as conexões internacionais, sobretudo com a França, permitindo trens de passageiros e de carga que possam cruzar as fronteiras sem a necessidade de ajustes nos eixos dos vagões.

Manutenção Parcial da Bitola Ibérica: Embora a tendência seja a transição para a bitola padrão, o governo pretende manter parte significativa da rede em bitola ibérica, especialmente para as linhas regionais e para algumas conexões de carga dentro da Península Ibérica. Isso se deve ao elevado custo e complexidade técnica de converter todas as linhas existentes e à necessidade de manter a conectividade local. As linhas regionais, que são muito importantes para a economia de regiões menos conectadas, continuarão operando em bitola ibérica por enquanto.

Adaptação Gradual e Sistemas de Bitola Variável: Outro aspecto importante das intenções do governo é o uso de tecnologia de bitola variável, que permite que alguns trens transitem tanto na bitola ibérica quanto na bitola padrão sem troca de eixos. A Espanha já possui trens com eixos ajustáveis e vários pontos de troca na fronteira com a França, e é provável que esse tipo de tecnologia continue sendo utilizado durante o período de transição.

Prioridade para o Transporte de Mercadorias: Uma das razões para a mudança gradual para a bitola europeia é o desejo de aumentar a competitividade do transporte ferroviário de mercadorias. Com a bitola europeia, o governo pretende facilitar o transporte internacional de carga, tornando-o uma alternativa viável ao transporte rodoviário, que domina atualmente a logística transfronteiriça. Essa integração busca diminuir os custos e o tempo de transporte, favorecendo as exportações e a logística em geral.

Conclusão

O governo espanhol parece decidido a avançar com a transição para a bitola europeia em novas linhas, principalmente aquelas de alta velocidade e de importância para o transporte internacional de mercadorias. No entanto, parte significativa da rede em bitola ibérica será mantida por razões econômicas e logísticas, e tecnologias de bitola variável serão usadas para garantir a continuidade do serviço durante o processo de transição. Assim, a Espanha está adotando uma estratégia híbrida, visando equilibrar a integração europeia e a manutenção de uma rede ferroviária eficiente dentro da Península Ibérica.»

04/10/2024

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia


Cito este pensamento atribuído a várias criaturas diferentes como um pretexto para ignorar comentários ocasionais que considero preguiçosos, preconceituosos e por vezes insultuosos a alguns posts publicados.

03/10/2024

Sem o turismo a economia do Portugal dos Pequeninos estaria em sérias dificuldades

 Em 2023, o Turismo gerou um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de 9,1% do VAB nacional em 2023 (8,6% em 2022) e estima-se que gerou um contributo total de 33,8 mil milhões de euros para o PIB em 2023 (12,7% do total e 12,1% em 2022). (*)  Este ano o crescimento do turismo continua a puxar pela economia como mostram os gráficos seguintes.

Expresso

Expresso

Em 2022 o peso percentual do Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) foi em Portugal de 15,5%, superior ao da Espanha (12,5%) e muito superior ao dos Países Baixos (9,6%) e da Áustria (6,9%), 

Não seria preciso mais do que a queda do turismo para os níveis de 2016, em que o VAB gerado pelo turismo em relação ao VAB nacional foi menos 4 pontos percentuais inferior ao de 2023, para a economia começasse a tropeçar. Basta comparar o PIB per capita (pc) português com o dos países onde o turismo tem um peso maior que é menos de metade dos Países Baixos e da Áustria, até mesmo a Espanha que tem um PIB pc 25% superior ao português. 

E não, não se trata de reduzir o turismo, trata-se fazer crescer a economia aumentando a produtividade. Como?, perguntareis e eu respondo: não fazendo a mesma coisa que os governos vêm fazendo, uns mais outros menos, há 50 anos (pelo menos).  

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(*) «O VAB e o consumo do turismo no território económico reforçaram o seu peso relativo no total da economia, atingindo máximos históricos», INE, 1 de agosto de 2024, Conta Satélite do Turismo

02/10/2024

CASE STUDY: Um imenso Portugal (66) - O problema maior deles (e o nosso) é a mediocridade

Outros imensos Portugais

«Na verdade, tanto nos governos de Lula - sobretudo este Governo atual -, como no Governo de Bolsonaro, o que conduz o país é um casamento entre os interesses do rentismo financeiro, de um lado, e o "pobrismo", do outro. O "pobrismo" é a distribuição de esmolas aos pobres, à massa popular. E o rentismo é a rendição do Governo aos interesses financistas, nacionais e estrangeiros, na suposição inteiramente sem fundamento de que essa rendição aos interesses financeiro levará a um investimento e ao crescimento, e de que o que sobrará do crescimento poderá ser usado para pacificar a maioria popular. Isso nunca aconteceu. Nenhum país no mundo se desenvolveu com dinheiro dos outros ou pela rendição aos interesses financistas. Mas foi isso que tivemos no Brasil: o rentismo financeiro, o pobrismo - e o terceiro elemento são as guerras culturais da direita, que são a imagem inversa da política identitária da esquerda. Ou seja, duas maneiras de evadir dos problemas estruturais do país. O resultado de tudo isto é que, embora o Brasil seja um dos países mais desiguais na História da Humanidade, o nosso problema maior não é a desigualdade. O nosso problema maior é a mediocridade.»

Excerto da entrevista ao Expresso de Roberto Mangabeira Unger, brasileiro e professor de Harvard

01/10/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (27)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Apertado entre a espada da oposição interna e a parede de umas eleições que não deseja…

… o Dr. Pedro Nuno Santos resolveu desculpar-se com a alegada irredutibilidade do governo para negociar e fazer o que lhe deve ter parecido uma jogada de mestre - colocar o governo AD entre a espada de umas eleições que também não deseja e uma de duas paredes. 

Por um lado, a parede de um acordo com o Chega que levaria o Dr. Montenegro do “não é não” para o não é talvez, ou o que for preciso, e a parede do governo deixar cair duas medidas emblemáticas: o IRS Jovem que o Dr. Montenegro, em qualquer caso, deveria deixar cair, fingindo que era para tentar salvar o acordo, e a redução do IRC que provavelmente é a única medida que o PS tentará afastar e que o governo deveria tentar manter, em ambos os casos mesmo à custa de eleições antecipadas que nenhum deles deseja.

O BdP como rampa de lançamento para Belém

Escreve o jornalista António Costa que «Centeno tem de decidir o que quer», se quer ser candidato a um mandato de governador do BdP ou a presidente da República, como se o Dr. Centeno não soubesse perfeitamente o que quer, e com ele um bom número de figuras de cera do regime que gostavam de o sentar em Belém, como revelou o Observador.