A semana passada recordei aos distraídos que a opção pela compra de habitação própria depende desde logo da facilidade de acesso ao crédito e das taxas de juro e que nos últimos 10 anos e até recentemente as taxas de juro resultantes das políticas monetárias do BCE foram artificialmente baixas o que tornou mais atractiva a opção compra. Nem de propósito, o +Liberdade publicou nos dias imediatos o seguinte diagrama, que é tão claro que dispensa explicações.
De onde, com toda a probabilidade, a procura de habitações para comprar vai reduzir-se, eventualmente poderão até baixar os preços, excepto os dos apartamentos da gama alta dirigidos a um segmento que pode suportar mais facilmente aumentos substanciais das mensalidades. A verdade é que os preços da habitação contêm o factor localização e por isso os aumentos nuns locais coexistem com reduções noutros locais, como no caso dos 50 concelhos cujos preços baixaram o ano passado enquanto a média subiu 14,4%.
Enquanto isso, o pensamento mágico do governo e da comentadoria oficial continua a imaginar que existe um direito a ter uma casa no sítio que se gosta, por exemplo no Bairro Alto. Um exemplo ao acaso: esta peça do Expresso cujo leitmotiv é «Cada vez mais ter dinheiro para comprar ou arrendar casa na zona litoral do país e, particularmente, em Lisboa e Porto é um luxo e um direito de poucos».
Na cabecinha desta gente não entra a ideia de que, inevitavelmente, as áreas mais centrais das cidades com melhores infraestruturas e geralmente mais próximas das grandes zonas de serviço onde se concentra o emprego das zonas urbanas atraem mais gente o que também inevitavelmente se traduz em preços mais elevados, porque os espaços para construir não se fabricam. Foi assim, é assim e assim será, aqui como em todo o mundo. E qualquer política realista e exequível de habitação social tem de ter isso em conta.
(Continua
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