1 – O populismo demagógico foi muito evidente ao longo do último século numa região onde imperam democracias incompletas e ditaduras – caudilhos e juntas militares, ditadores socialistas e movimentos marxistas de “libertação” ou pseudo-ideologias indígenas. (...)
Lula é um exemplo de um político que pretende ser uma figura mundial e que, como outros (e.g. Macron), usa essa pretensão para ser popular e fugir da resolução dos problemas reais. Desde que foi eleito já apresentou o que julga serem propostas de um grande líder: uma moeda única com a Argentina e outros países da América Latina, e outra com a China, Índia e outros países asiáticos. O que as propostas demonstram é que Lula não faz a mínima ideia do que implica uma moeda única e as condições que requer em termos de políticas públicas. (...)
2 – A corrupção generalizada na América Latina também contribui para o declínio da região. O problema não são só os casos de corrupção económica ou de fraude eleitoral, mas especialmente a cultura de permissividade e de aceitação que lhes estão associados. (...)
A passividade e a permissividade da população para com a corrupção reflecte-se na aceitação acrítica de que o Estado seja cada vez maior. Quanto mais cresce o Estado maiores são as oportunidades de corrupção a todos os níveis, quer a grande organizada pelo poder político e empresas públicas, quer a pequena que abrange todos os sectores da sociedade. (...)
3 – A ideologia igualitária que mina a região é talvez a principal razão para o seu declínio. O igualitarismo é pior porque assenta numa percepção errada: confunde justiça com igualdade e essa confusão contribui para o atraso ao resultar na manutenção da pobreza. A promoção do igualitarismo até pode ter uma boa intenção, mas apenas cria injustiça pois em vez de se focar em ajudar os mais necessitados interfere com a vida de todos para obter a igualdade.
O engano parte de uma frase que é comum ouvirmos e que é apelativa, mas que também é literalmente falsa: “as desigualdades são chocantes”. Na América Latina existe uma classe média maioritária que vive relativamente bem e esse modo de vida não é chocante quando comparado com a pobreza. O que choca na América Latina não são as desigualdades, mas a pobreza e a falta de acesso de uma parte da população a condições básicas como saneamento, higiene, ruas limpas e uma habitação condigna. (...)
O exemplo da Venezuela mostra que a procura por igualdade não elimina a pobreza. Muito pelo contrário, a procura de igualdade “perpétua” a pobreza. Esta motivação ideológica dura há muitas décadas e esteve sempre a par com o declínio relativo da América Latina.»
«América Latina, um século de declínio e um aviso a Portugal», Ricardo Pinheiro Alves no jornal Eco
Sem comentários:
Enviar um comentário