Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/02/2004

CONDIÇÃO MASCULINA / STATE OF MEN : Macho? Moi?

Summary for the sake of
Portugal, especially Portuguese men have nurtured, since long time, a macho myth, as a kind of redemption for the profound and entrenched feminism paradigm that impregnates Portuguese society.

According to Hofstede studies, Portuguese culture has a high feminism score, ranking in 9th worldwide.
Portuguese men like to see themselves as resolute, aggressive, lady hunters, and winners. The true is much more the opposite. They are rather the sheep than the wolves.

During Carnival, nationwide, and locally in other traditional festivities, many men use to dress like women. Eventually they show at those moments their true faces.


Escreveu o Abrupto aqui:
«De longe, de outro carnaval, olho com estranheza o carnaval português. Num país machista, em que a cultura masculina dominante é machista, em que os valentões de café, de escritório, de praia, de carro, proliferam, subitamente chega o carnaval e todos eles descem à rua vestidos de mulher, aos magotes, aos milhares, exibindo as mamas falsas e os collants. Há qualquer coisa de estranho em tudo isto

Esquecemos, por agora, os valentões de café, etc., hoje um paradigma da condição masculina has been. Concentremo-nos no mais comum dos lugares comuns e, ao mesmo tempo, um dos maiores mitos lusitanos: um «país machista, em que a cultura masculina dominante é machista».

Vou directo ao assunto a que um dia voltarei, com mais tempo. Há 20 anos o antropólogo holandês Geert Hofstede fez um notável e extensivo estudo comparativo das culturas de dezenas de nações, usando um modelo que desenvolveu que distingue 4 dimensões na cultura dominante numa sociedade. Há uma 5ª dimensão, aplicável ao confucionismo, que não é para aqui chamada.
Uma dessas dimensões é a masculinidade/feminilidade, definida com base nos estereótipos comuns a quase todas as culturas (confronto/consenso, simpatia pelo sucesso/simpatia pelo desgraçadinho, grande e rápido/pequeno e lento, orientação para as coisas/orientação para as pessoas, performance/qualidade de vida, concorrência/cooperação, etc.). Esse estudo tem vindo a ser regularmente actualizado e é frequentemente adoptado para o treino em Intercultural Management de gestores com carreiras internacionais.

Qual o score português e o seu lugar no ranking das nações?
Segundo o mito, o Portugal macho deveria ser o campeão na liga da masculinidade. Segundo os dados de 1995, em cerca de 90 países analisados de todos os continentes, Portugal é o 9º menos masculino. A sociedade portuguesa só é superada em feminilidade pelas do norte da Europa e pouco mais.

O país não é machista, a cultura masculina não é socialmente dominante e o machismo não é dominante nessa cultura. Os nossos valentões ao primeiro sinal de perigo correm todos a agarrar-se às saias das mães. E, claro, no Carnaval deixam cair as máscaras.

Um dia voltarei a este tema, na perspectiva mais ampla dos obstáculos ao desenvolvimento que representa a particular combinação dessas dimensões na cultura portuguesa.

Sem comentários: