Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

11/02/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA / CONTINUOUS APPRAISAL: Terá a pátria remédio? / What medicine for this country?

SUMMARY for the sake of those foreign souls coming from outer space who are not able to read Portuguese:
Sorry, folks. This is a strictly internal affair. Be patient. I’ll be back in a couple of hours.


Antes de continuar, declaro estar consciente que, num país normal, um título destes dava-me acesso directo a uma instituição psiquiátrica. Prometo fechar o blogue se alguém me sugerir o check in numa dessas instituições nas próximas 24 horas.

Secção Óbvio Ululante
Quinhentas luminárias que se reuniram ontem (3ª feira) no Convento do Beato para se assumir em «Compromisso com Portugal» acham que sim, que a pátria tem remédio. Só posso dizer que se trata de um local apropriado para pedir a interferência do Divino.
A minha fé, essa, ficou ainda mais abalada depois de ler o Texto Introdutório do Debate, com 3 páginas A4, que, provavelmente, quase todos os eleitores deste país e quase toda a classe política, com as excepção conhecidas, assinariam por baixo.
No meio dos óbvios ululantes há uma ideia que talvez seja ululante mas não é nada óbvia para quem tenha um módico de conhecimentos da dismal science e do mundo onde vivemos. Trata-se de ressurreição do modelo de desenvolvimento baseado na substituição das importações, que é apresentado no documento como um NOVO Modelo Económico. Nem no Brasil (um mercado com 170 milhões de consumidores e uma procura 8 vezes superior) a coisa resultou. Como é possível, 18 anos após a adesão ao mercado comum europeu, alguém pensar em termos de «mercado interno»?
A demonstração que, de facto, «somos um país tradicionalmente resistente à mudança a todos os níveis da nossa Sociedade» está feita no próprio documento, que é uma sopa insonssa de generalidades triviais e, por isso, tão consensuais que pouco serão discutidas e, portanto, jamais serão aplicadas. Deliberadamente escrito para não fracturar o consenso possível das 500 luminárias, é mais um repositório de intenções inócuas que não levará a lado nenhum. Teria sido preferível deixar cair 400 das 500 das luminárias e avançar com ideias e acções realmente reformistas e liberais.
3 chateaubriands para as talvez 100 luminárias reformistas e 3 bourbons para outras.

Secção Sol na eira e chuva no nabal
Não desesperemos. A coisa poderia ser pior. Segundo os jornais, a Comissão Europeia pretende compensar a perda de 2,4 mil milhões de euros do fundo de coesão e dos fundos estruturais para o 4º Quadro Comunitário de Apoio (2007/2013) de forma que haja apenas uma redução de menos de 5% em relação ao 3º QCA.
O governo está satisfeito com proposta de Bruxelas. E com razão. São boas notícias. Tudo como dantes, quartel general em Abrantes.
Afinal para quê se consomem no Beato 500 luminárias? Melhor seria se partissem todas para Bruxelas para esgravatar mais uns cobres.
5 bourbons para o governo, mais 2 chateaubriands para as talvez 100 luminárias reformistas e mais 2 bourbons para as outras.

Secção Assaults of thoughts
Salvou-nos da depressão total o doutor António Carrapatoso, presidente da Vodafone, que no encontro de luminárias de ontem disse, segundo o Público, considerar «que Portugal tem que apostar na educação com o objectivo de em 20 anos ter mais de 70 por cento da população entre os 30 e os 35 anos com o 12º ano de escolaridade, o que representa um esforço considerável face aos actuais números, que rondam os 30 por cento ... e defende um Estado mais leve e mais eficiente e propõe a redução da despesa pública para 40 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2008».
Ao menos deu com o martelo em dois dos pregos que precisamos para segurar a tábua de salvação. Precisaria ser com mais força, mas na circunstância (que é má) leva dois afonsos.

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