Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

15/02/2004

ESTÓRIA E MORAL / SHORT STORY AND BIG MORAL: Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à vista. / No pain no gain.

SUMMARY for the sake of those foreign souls coming from outer space who are not able to read Portuguese:
Portugal had not faced any of the constraints that Spain had suffered in the last hundred years, such as a devastating civil war, terrorism and separatism. Why on earth Portugal have been progressively outperformed by Spain?
Some think that the underlying reason is precisely because Portugal hasn’t been defied enough.

Estória
O tema Espanha, sempre presente na história portuguesa, nos momentos de crise, como agora, torna-se um tema recorrente. As almas do Beato também não esqueceram o espectro da «ameaça» espanhola, rebaptizando os «centros de decisão nacionais» dos seus patrões do Manifesto dos 40 para «centros de competência nacionais»
Li só agora, atrasadamente, que o cataláxia também abordou aqui o tema, relatando dois episódios que evidenciam o fosso que nos separa dos nossos vizinhos. Interroga-se o cataláxia como é isso possível, se «a Espanha teve uma guerra civil devastadora, uma ditadura que a isolou do mundo, tem o terrorismo, os separatismos e, contudo, funciona incomparavelmente melhor do que Portugal. Que não tem terrorismo nem separatismos, não conheceu a guerra civil no século XX, e, quanto a ditaduras férreas, vou ali e já venho…»
Um mês atrás jantava em Madrid com três alemães e um catalão. Um dos alemães puxou duns óculos sofisticadissimos que dobrados cabiam num pequeno estojo cilíndrico com 4 cm de diâmetro por 2 cm de altura. Explicou-nos que tinha uma certo fascínio por óculos, que deveria ter usado desde muito pequeno para corrigir um defeito de visão, mas, devido à penúria na Alemanha do pós-guerra, só conseguiu tê-los na adolescência e, ainda assim, bastante primitivos. Falou longamente das suas memórias infantis e adolescentes na Alemanha do pós-guerra, no esforço de reconstrução para levantar um país em escombros e transformá-lo em 25 anos na locomotiva económica da Europa. O catalão, muito mais jovem, também comentou, a propósito, a miséria, recordada pelos seus pais, que se viveu nos 10 ou 15 anos seguintes à guerra civil espanhola, que fez 1 milhão de mortos e foi o ensaio geral para a 2ª guerra de onde a Alemanha saiu derrotada e em ruínas.
O cataláxia termina o seu post interrogando-se: «O que se passa, então, com Portugal?» onde nada disto se passou.

Moral
«Agora, que nos faria muito bem um choque com o impacto de 1580, não duvidem por um segundo!», diz o cataláxia.
Talvez. As nações, como as empresas e como os indivíduos, precisam de desafios e é muitas vezes perante as ameaças que sacodem o torpor e vencem a decadência.

Sem comentários: