Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

05/02/2004

CASE STUDY: Muitos, digo eu. Sôfregos, diz a doutora Teresa.

As opiniões da doutora Teodora Cardoso interessam especialmente a quem alimenta um insaciável blogue desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e, apesar de não vir agora ao caso, homofóbico, como este.

Porquê interessam assim tanto, as opiniões da doutora Teodora se ela é uma senhora aparentemente tão alinhada e conforme? Só aparentemente, porque com a abundância de contrabandistas de estatísticas, uma mente rigorosa é inevitavelmente desalinhada e desconforme. É por isso que quem quiser formar uma opinião fundamentada sobre as trapalhadas orçamentais deve ir com urgência ao site da Ordem dos Economistas ler o trabalho «Discutir a Política Orçamental – I» da doutora Teodora, aqui.

A minha boa acção de hoje, em intenção dos apressados, é aviar a seguir um executive summary da análise da doutora Teodora, com os incontornáveis comentários impertinentes.

1º Facto (TC)
As despesas públicas com pessoal cresceram estupidamente em dois períodos (mais no primeiro): de 1986 a 1992 (consolado do doutor Cavaco) e 1998 a 2000 (consolado do engenheiro Guterres). O resultado final é 15,2% do PIB português e 10,7% na Zona Euro.

1º Comentário impertinente
É por isso que as próximas presidenciais podem ser o grande combate dos chefes despesistas.

2º Facto (TC)
Apesar do aumento das despesas, o emprego no sector público português é (ou melhor, era em 1998) próximo da média internacional – Portugal aumentou de 12,1% em 1985 para 15,2% em 1998, valor este pouco superior ao da Irlanda e dos Estados Unidos e ligeiramente inferior ao da Espanha.

1ª Conclusão (TC)
O aumento da despesa pública com pessoal, desde 1989 acima das referências internacionais, deve-se menos ao aumento dos efectivos e mais à política de remunerações do Sistema Retributivo da função pública com promoções automáticas por “mérito”, prémios de produtividade, horas extraordinárias, et alia.

2º Comentário impertinente
Este inchaço do aparelho mamário da vaca marsupial pública deve-se mais ao poder de sucção do que ao aumento do nº de utentes das tetas. Compare-se o salário médio na função pública e no sector privado – dois para um, mais coisa, menos coisa.

3º Comentário impertinente
Mas o pior de tudo é que se o input é pesado o output é leve. Veja-se a qualidade medíocre dos serviços públicos, a burocracia paralisante, a falta geral de diligência, etc.

Recomendação (TC)
Promover a profissionalização da administração pública (um civil service britânico à portuguesa?)

Como chegar lá? (pergunta impertinente)

Resposta (TC)
«Numa democracia avançada, aos partidos compete a missão de defender alternativas políticas e não a de conquistar o aparelho de Estado. Esta é uma opção terceiro mundista, que leva inevitavelmente à instabilidade, tanto financeira como política.»

3º Comentário impertinente
Pois. Ó doutora Teodora, vá lá contar essa à tropa sedenta de sinecuras dos exércitos do PS e do PSD, para não falar das guerrilhas classe A do PP e classes A e B do BE, que não precisam, e das classes C e D do PCP que precisam, mas já estão habituados a passar fome.

Nota impertinente:
Gosto do som retro de «opção terceiro mundista». E eu a pensar que já não havia terceiro mundo, só havia países em desenvolvimento.

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