Em boa verdade, o Programa "Mais Habitação" não criou do nada os equívocos à volta da "crise da habitação", apenas acrescentou mais uns quantos aos que existiam e aos que depois se lhes vieram a adicionar. Um dos mais mais recentes teve origem no Idealista, um site que se atribui a missão de «dar transparência ao setor imobiliário (e) disponibilizar dados do setor imobiliário de forma estruturada.»
Vejamos os vários factores apontados:
Mais Habitação - como pode um «programa que entrou em vigor em outubro do ano passado» ter tido um efeito desta magnitude (aumento de 55% da oferta)?
Restrições no Alojamento Local - como se «por cada alojamento local cancelado em 2023, foram registados mais de dois»?
Fim do regime de Residentes Não Habituais - como se o próprio Idealista concluiu em Outubro «Fim do regime dos residentes não habituais preocupa imobiliário»?
Penalizações das casas devolutas - Como se, por exemplo em Lisboa, o presidente da câmara diz ser «totalmente irrealista pensar que a Câmara de Lisboa tem a capacidade de analisar as listas de ausência de consumos ou consumos baixos»?
Redução de impostos sobre as rendas - é uma anedota que não vale a pena comentar.
A explicação cheira a pensamento milagroso, parece ter sido inventada por um porta-voz do governo para justificar as medidas tomadas e passa ao lado do mais óbvio. E o mais óbvio é que o aumento fortíssimo das taxas de juros reduziu a compra de habitação (em 2023 o número dos novos créditos à habitação foi inferior em 12%, segundo BdP), ao tornar menos atractiva a compra comparativamente com o arrendamento. De facto, com as taxas de juro vigentes entre 2010 e 2022, em média, a amortização mensal era inferior à renda de uma habitação equivalente e isso, de resto, é uma das razões para a distorção do mercado de habitação. Por outro lado, a redução da procura para compra está a fazer baixar os preços (ver aqui e ali) e a tornar o arrendamento mais atractivo para os proprietários o que justifica o aumento da oferta.
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