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02/11/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (57) - Em tempo de vírus (XXXIV)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Um Estado Policial après la lettre

Tem mais de dez anos a série de posts Vivemos num estado policial? onde venho ironizando sobre a abundância de agentes das várias polícias, dos seus sindicatos e dos delegados sindicais, abundância de efectivos sempre em crescimento e nunca suficientes.

Pois bem, agora é oficial. Vivemos num Estado onde a polícia, que durante o fássismo pouquíssimas vezes entrou na universidade, entrou há dias sem autorização na Faculdade de Arquitectura para multar um professor que não usou máscara durante uma aula, sem um protesto das resmas de professores áctivistas

 Enquanto Magina da Silva, il capo dei capi da bófia (Dr. Mamadou Ba dixit), fazendo de intendente Pina Manique, dizia com uma cara ameaçadora ao lado do ministro da Administração Interna que «há cidadãos que não se deixam ensinar e sensibilizar (...) Vão ter de cumprir regras quer queiram quer não».

É possível enganar toda a gente durante algum tempo, …

Falando de portugueses, o aforismo em título não é inteiramente aplicável. Em todo o caso, até no Portugal dos Pequeninos vai havendo menos gente que se deixa enganar. Segundo a sondagem da Aximage, a avaliação positiva de S. Ex.ª piorou 4 pp e as do Dr. Costa e do seu governo pioraram 3 pp. A oposição a fingir também não se ficou a rir porque tendo menos 7 pp de avaliações negativas teve menos 1 pp nas positivas.

Quem ganha as eleições governa? Depende de quem ganha

Se forem as eleições da região dos Açores e ganhar o PS sem maioria, governa o PS. Se forem as eleições nacionais e ganhar o PSD-CDS, governa o PS encavalitado na geringonça. Capisci?

A Insegurança Social

O relatório da Provedora de Justiça revela «atropelos sistemáticos (até institucionalizados)» pela Segurança Social que vão desde a cobrança de dívidas inexistentes, penhoras ilegais de contas bancárias, demora no reembolso de valores indevidamente cobrados, falta de uma notificação dos prazos de pagamento de dívidas, you name it. Mais outra nomeada que não terá o mandato renovado devido ao princípio quem se mete com o PS...

«Estamos preparados»

Numa carta aberta à ministra da Saúde, a Ordem dos Médicos relata um situação catastrófica: «100 mil cirurgias atrasadas no SNS, a que se junta um milhão de consultas nos hospitais, milhares de rastreios que ficaram por fazer, designadamente em oncologia, 17 milhões de meios e exames de diagnóstico e terapêutica, 5 milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários.» De onde resultaram «mais 7144 mortes entre março e setembro do que a média dos mesmos meses dos últimos cinco anos». Não é nenhum segredo, porque até nesta modesta crónica isso é referido regularmente. 

Duas semanas depois, numa conferência de imprensa em que apenas estiveram presentes a RTP e a Lusa, ou seja o aparelho socialista a falar para o aparelho socialista, a ministra admitiu a gravidade da situação e despejou uma montanha de dados (ver este resumo do Observador) que mostram não apenas que a situação é “complexa” e “grave” como mostram que os recursos não são insuficientes em absoluto, são insuficientes pela má gestão. Por exemplo, como se pode falar de esgotamento da capacidade de resposta se o SNS dispõe de 17.225 camas em enfermaria e 825 em UCI e em 25 de Outubro estavam ocupadas com doentes com Covid , respectivamente, 1.432 e 240? Curiosamente a ministra só divulga os números de camas ocupadas por doentes não Covid nas UCI.

Curiosidade: segundo a ministra, dos 2,4 milhões de downloads da aplicação StayAway Covid só foram inseridos 566 códigos, ou seja menos de 1 em cada 100 infectados, o que confirma a inutilidade da aplicação.

O Dr. Costa bate o recorde do Eng. Guterres com dois queijos limianos

Em boa verdade, o facto mais notável sobre a aprovação na generalidade do OE2021 foi o Dr. Costa tê-lo conseguido graças a duas deputadas, as quais, obedecendo aos mais elevados cânones da identidade de género, são uma loura do partido dos animais e outra negra, perdão afro-lusitana, que tem um assessor de saias. Espera-se que sejam devidamente compensadas com outras concessões que não o reconhecimento do queijo limiano.

Volte Sr. Eng., o Dr. Costa precisa de si (e o pedronunismo também)

Durante os cinco anos do Dr. Costa, os seus governos só conseguiram vender 63 milhões de imóveis do Estado. O governo do Sr. Eng. Sócrates só em dois anos realizou 80% do valor dos imóveis vendidos nos últimos 11 anos.

Unintended consequences

Na crónica da semana passada falei dos 35 mil milhões de euros e 727 mil moratórias que ameaçam desabar sobre os bancos. O Conselho das Finanças Públicas já reconheceu que «a eventual incapacidade de solvência dos compromissos por parte (dos bancos) poderá implicar perdas para o sistema financeiro Português e obrigar à intervenção do Estado através de apoios financeiros». Em português corrente isso significa que isso acabará a ir aos bolsos dos contribuintes e, em boa verdade, no final, é mais uma transferência indirecta dos bolsos dos sujeitos passivos (os contribuintes) para os detentores de créditos malparados.

A coisa começa a ser tão óbvia que até o Dr. Centeno saiu do remanso do seu gabinete no BdP e, a propósito das moratórias, prescreveu que as empresas inviáveis não devem receber apoios que poderiam ser melhor utilizados em empresas viáveis.

Há vida para além do orçamento?

No mesmo dia em que falou sobre o risco das moratórias para os bancos, a Dr.ª Nazaré da Costa Cabral enumerou dez razões para o OE2021 correr mal e é conhecida a lei de Murphy que aplicada aos orçamentos nunca falha: se pode correr mal, vai correr mal. A dar más noticias, a Dr.ª Nazaré é mais uma nomeada a pôr-se a jeito para o Dr. Costa não lhe renovar o mandato.

«Queda monumental»

Não deveria ser surpresa para ninguém com um ou dois neurónios activos que a obra de "consolidação fiscal" do Dr. Centeno à custa de aumentos da carga fiscal e de cativações, sem mexer um dedo na máquina de torrar recursos que é o Estado Sucial, colapsaria sem remição em pouco tempo. O impacto da pandemia apenas veio acelerar o colapso: o saldo da execução orçamental das administrações público teve um agravamento de -7,8 mil milhões de euros, passando de um superavit para um défice.

Tudo isso em cima de uma dívida pública mastodôntica em crescimento rápido, e não ajuda o facto da dívida privada também estar a crescer rapidamente, incluindo a das famílias sem paraquedas porque estão há décadas a poupar cada vez menos e só agora, em plena pandemia quando deveriam usar as inexistentes aforros acumulados, a poupança aumentou.

Também não ajuda o turismo ter continuado deprimido em Setembro com uma redução superior a 50% em relação ano passado, tanto em hóspedes como em dormidas.

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