Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

16/11/2020

Pro memoria (406) – gone with the wind (republicação e nova actualização)

 Há nove anos publiquei o seguinte post


Ao ler no Expresso a promoção de mais um futuro sucesso das empresas amigas do regime, levo sempre instintivamente a mão à carteira. Desta vez, com honras de uma chamada de meia primeira página do suplemento de Economia e um desenvolvimento noutra página completa, amplamente ilustradas com duas enormes fotos, é o projecto Windfloat da EDP – um gerador eólico Vestas montado numa estrutura sobre uma plataforma flutuante, a ser construída na Lisnave em Setúbal e destinada a ser ancorada ao largo da Póvoa do Varzim. O brinquedo custa 15 milhões segundo o Expresso ou 20 milhões segundo outras versões

Falece-me o tempo e a ciência para escalpelizar as razões da minha suspeição quanto ao sucesso desta inovação e sobretudo à sua viabilidade económica. Direi apenas que este projecto me reavivou a memória do projecto Pelamis, naufragado também ao largo da Póvoa do Varzim, em tempos uma das meninas dos olhos do ex-ministro Pinho (o dos corninhos) e agora enferrujando ao largo de S. Pedro de Moel, salvo erro. 

Por agora, registo para futura verificação. 

Há seis anos fiz o ponto de situação neste outro post:

«Até 2019, o parque eólico flutuante que o consórcio liderado pela EDP quer instalar ao largo de Viana do Castelo tem de estar ligado e a produzir energia de fonte renovável. O risco de falhar o prazo é o de o projecto Windfloat Atlantic, cujo custo estimado ronda os 115 milhões de euros, perder os fundos comunitários de 30 milhões atribuídos em 2012 pelo Programa NER300.» (fonte)

Repare-se o efeito Lockheed Tristar em todo o seu esplendor. Um projecto eventualmente inviável que custaria 15 ou 20 milhões há seis anos custará agora 115 milhões ou seis a oito vezes mais. À maneira habitual, provavelmente irão ser gastos ainda mais do que os 115 milhões para não perder os 30 milhões de fundos comunitários. Foi assim que uma parte significativa dos mais de cem mil milhões de subsídios comunitários pagos extorquidos aos contribuintes europeus, o equivalente a mais de 55% do PIB anual actual, foi delapidada.

Nove anos depois estamos aqui:

O brinquedo, que era para custar 15 ou 20 milhões há nove anos e 115 milhões há seis anos, ficou este ano por 125 milhões, financiados por 60 milhões pelo Banco Europeu de Investimento, por um subsídio de 30 milhões do programa europeu NER 300 e outro de €6 milhões do Fundo Ambiental). Resta dizer que o parque Windfloat disfrutará de um preço garantido de venda de energia de €140/MWh quando o preço atual de mercado está abaixo de €40/MWh. Apesar deste maná que os consumidores de electricidade pagarão, a Windfloat está a dever vários milhões as dezenas de empresas subcontratadas. (fonte)

1 comentário:

Camisa disse...

Sem palavras, quantos destes projectos não pululam por aí, semi zombies autênticos buracos negros