Outras avarias da geringonça e do país.
Depois de três anos a anunciar-nos os seus milagres, o maior crescimento do século, o «melhor desempenho de sempre para as contas públicas» (desde dona Maria II ou antes?), entre outros, Costa descoseu-se no seu discurso do Natal e confessou afinal ter virado a «página dos anos difíceis» e não a «página da austeridade». Poderia ter sido um lapsus linguae que lhe fez fugir a boca para a verdade do estrangulamento dos serviços públicos pelas cativações e pela falta de investimento, mas o mais provável é estar a falar para dentro da geringonça tentando sofrear as exigências comunistas e bloquistas.
Seja como for, gradualmente as habilidades e o contorcionismo oportunista de Costa parecem estar a cansar o eleitorado com a sua avaliação na sondagem da Aximage a atingir o ponto mais baixo de sempre e a descer até mais do que as intenções de voto no PS as quais, ainda assim, colocam os socialistas com 37% quase 5 pontos percentuais acima de PSD + CDS.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/12/2018
29/12/2018
COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (20) - A fuga para a frente
Outras botas para descalçar
Numa conjuntura favorável, para a qual nada contribuiu, com a economia a ser puxada pela procura externa (exportações e turismo), o governo de Costa não faz reformas, não reduz a dívida pública e retrocede as poucas reformas do governo PSD-CDS, aumenta a despesa corrente com a redução do horário para 35 horas e o descongelamento dos salários da sua clientela eleitoral e, para não entrar em rota de colisão com Bruxelas, reduz drasticamente o investimento público evitando a derrapagem do défice. As consequências são agora visíveis: administração pública à beira da paralisia, SNS e transportes públicos em rotura e, last but not least, destapada a caixa de Pandora das exigências da função pública.
Como é habitual nos socialistas, quando a realidade aparece a cobrar os dividendos das suas políticas, a conjuntura a arrefecer e os tractores a perderem gás, evadem-se do país como fizeram Guterres e Sócrates ou da realidade como está Costa a fazer.
E que melhor fuga da realidade do que virar mais uma página, desta vez a página da austeridade socialista que paralisou o Estado? E que melhor forma de virar essa página do que depois da secura do deserto prometer o dilúvio dos investimentos?
E aí está o pomposo Programa Nacional de Investimentos 2030 que termina quando já estará na reforma a maioria da direcção política socialista que andou nos governos de Guterres, Sócrates e Costa e é responsável por alguns dos maiores desastres desde a queda do Estado Novo.
Mais de 20 mil milhões em 65 projectos assim resumidos (ver lista detalhada no final):
Numa conjuntura favorável, para a qual nada contribuiu, com a economia a ser puxada pela procura externa (exportações e turismo), o governo de Costa não faz reformas, não reduz a dívida pública e retrocede as poucas reformas do governo PSD-CDS, aumenta a despesa corrente com a redução do horário para 35 horas e o descongelamento dos salários da sua clientela eleitoral e, para não entrar em rota de colisão com Bruxelas, reduz drasticamente o investimento público evitando a derrapagem do défice. As consequências são agora visíveis: administração pública à beira da paralisia, SNS e transportes públicos em rotura e, last but not least, destapada a caixa de Pandora das exigências da função pública.
Como é habitual nos socialistas, quando a realidade aparece a cobrar os dividendos das suas políticas, a conjuntura a arrefecer e os tractores a perderem gás, evadem-se do país como fizeram Guterres e Sócrates ou da realidade como está Costa a fazer.
E que melhor fuga da realidade do que virar mais uma página, desta vez a página da austeridade socialista que paralisou o Estado? E que melhor forma de virar essa página do que depois da secura do deserto prometer o dilúvio dos investimentos?
E aí está o pomposo Programa Nacional de Investimentos 2030 que termina quando já estará na reforma a maioria da direcção política socialista que andou nos governos de Guterres, Sócrates e Costa e é responsável por alguns dos maiores desastres desde a queda do Estado Novo.
Mais de 20 mil milhões em 65 projectos assim resumidos (ver lista detalhada no final):
- Ferrovia €4.010 milhões
- Rodovia €1.564 milhões
- Rodo-ferroviários €405 milhões
- Mobilidade e transportes públicos €3.390 milhões
- Aeroportos €800 milhões
- Portos €2.596 milhões
- Ciclo urbano da água €1.500 milhões
- Resíduos €350 milhões
- Proteção do litoral €720 milhões
- Passivos ambientais 130 milhões de euros
- Recursos hídricos três projetos - €570 milhões
- Energia €3.650 milhões
- Regadio €750 milhões
- Fundos europeus €6.503 milhões (32%)
- Fundo ambiental €1.800 milhões (9%)
- Orçamento do Estado €3.172 milhões (16%)
- Privados e sector empresarial do Estado €7.375 milhões (36%)
- Poupanças por redução de encargos com as parcerias PPP rodoviárias €1.586 milhões (8%)
Quase 1/3 dos contribuintes europeus, um pouco mais de 1/3 dos privados e o que faltasse desse 1/3 seria o orçamento a injectar nas empresas públicas ou, em resumo, metade ou mais do plano não seria financiado pelo governo. E o que dizer das poupanças nas PPP que o governo ainda não foi capaz de fazer mas conta com elas para financiar 8% do plano?
Tomai nota nas vossas agendas para fazermos o ponto de situação quando Costa sair de S. Bento para Paris, Belém, ONU ou qualquer outro sítio.
Detalhe dos projectos
28/12/2018
Os professores como idiotas úteis das manobras políticas do regime
Entendamo-nos bem, não tenho o propósito de insultar os professores como classe profissional. Tive professores que admirei, tenho professores na minha família e eu próprio já leccionei centenas de horas de cursos profissionais.
Também não tenho o propósito de tratar o problema dos professores sobre o qual apenas refiro que a lengalenga da contagem do tempo de carreira não passa de capa para repor as promoções automáticas e é um equívoco para evitar a verdadeira questão que é os professores, e todos os funcionários públicos, disporem de um sistema de avaliação que distinga o mérito e não os considere colectivamente como um rebanho.
Uso a expressão «idiotas úteis» num sentido semelhante ao usado pelos dirigentes comunistas para designar os jornalistas e intelectuais em geral que propagavam a doutrina comunista e se deixavam instrumentalizar pelo regime tirânico soviético detractando as democracias em que viviam.
Neste caso, os professores serviram de tropa de choque sucessivamente aos socialistas que lhes prometeram a reversão dos direitos adquiridos para abalarem o governo "neoliberal", deixaram-se anestesiar pelos sindicatos comunistas quando ao PC convinha sustentar a geringonça e agora, que o PC receia tornar-se supérfluo se o PS tiver maioria e receia perder terreno para o anarco-sindicalismo via WhatsApp, deixaram-se capturar pelos comunistas e servem-lhes de arma de arremesso via Fenprof.
Como se fosse pouco, estão agora a ser usados por Marcelo nos seus joguinhos com um veto que não veta nada e apenas visar entalar Costa, porque a Marcelo também não convém uma maioria socialista.
Também não tenho o propósito de tratar o problema dos professores sobre o qual apenas refiro que a lengalenga da contagem do tempo de carreira não passa de capa para repor as promoções automáticas e é um equívoco para evitar a verdadeira questão que é os professores, e todos os funcionários públicos, disporem de um sistema de avaliação que distinga o mérito e não os considere colectivamente como um rebanho.
Uso a expressão «idiotas úteis» num sentido semelhante ao usado pelos dirigentes comunistas para designar os jornalistas e intelectuais em geral que propagavam a doutrina comunista e se deixavam instrumentalizar pelo regime tirânico soviético detractando as democracias em que viviam.
Neste caso, os professores serviram de tropa de choque sucessivamente aos socialistas que lhes prometeram a reversão dos direitos adquiridos para abalarem o governo "neoliberal", deixaram-se anestesiar pelos sindicatos comunistas quando ao PC convinha sustentar a geringonça e agora, que o PC receia tornar-se supérfluo se o PS tiver maioria e receia perder terreno para o anarco-sindicalismo via WhatsApp, deixaram-se capturar pelos comunistas e servem-lhes de arma de arremesso via Fenprof.
Como se fosse pouco, estão agora a ser usados por Marcelo nos seus joguinhos com um veto que não veta nada e apenas visar entalar Costa, porque a Marcelo também não convém uma maioria socialista.
27/12/2018
26/12/2018
Dúvidas (247) - Serão os monopólios modernos mais duradouros do que os antigos?
«Monopolies have been as ephemeral as classical economics would predict. That is unless they benefit from a government scheme to keep out competition, such as the championing of AT&T during the 20th century. Once state support for AT&T's monopoly status was removed, the phone market became cut-throat.
One of the last acts of Lyndon Johnson's administration was to file an antitrust suit against IBM. Described by Robert Bork as the antitrust division's Vietnam, the suit was dismissed in 1982 during the Reagan administration. A few years after the launch of the Apple II computer, IBM was no longer feared as a monopolist. People used to worry that Microsoft's Internet Explorer had a stranglehold on the browser market. Who thinks that today? In both cases, time and technological innovation played their roles.
Today some worry about Google and Facebook monopolising their spheres of the online world. But their days on the top will end. Consumers' preferences will change, or some unimagined technology will displace them. Consumers and capitalism would be better served if governments followed The Economist's recommendations to lower barriers to enter markets and to eliminate incumbent supporting rents. That is what causes monopolies.»
ANDREW TERHUNE, um leitor de Filadélfia, escrevendo a propósito do Special report on competition, publicado com o número de 7 de Novembro da Economist
A expressão «monopólio» na carta não deve ser lida à letra porque se trata de empresas dominantes coexistindo com várias ou mesmo muitas outras empresas. Repare-se igualmente que a dúvida só faz sentido se existirem condições concorrenciais e uma regulação forte. De contrário, um monopólio moderno poderá manter-se por tempo indefinido. Dito isto, a carta chama a atenção para a facilidade com se que esquece a história económica e se imagina constantemente que desta vez será diferente.
One of the last acts of Lyndon Johnson's administration was to file an antitrust suit against IBM. Described by Robert Bork as the antitrust division's Vietnam, the suit was dismissed in 1982 during the Reagan administration. A few years after the launch of the Apple II computer, IBM was no longer feared as a monopolist. People used to worry that Microsoft's Internet Explorer had a stranglehold on the browser market. Who thinks that today? In both cases, time and technological innovation played their roles.
Today some worry about Google and Facebook monopolising their spheres of the online world. But their days on the top will end. Consumers' preferences will change, or some unimagined technology will displace them. Consumers and capitalism would be better served if governments followed The Economist's recommendations to lower barriers to enter markets and to eliminate incumbent supporting rents. That is what causes monopolies.»
ANDREW TERHUNE, um leitor de Filadélfia, escrevendo a propósito do Special report on competition, publicado com o número de 7 de Novembro da Economist
A expressão «monopólio» na carta não deve ser lida à letra porque se trata de empresas dominantes coexistindo com várias ou mesmo muitas outras empresas. Repare-se igualmente que a dúvida só faz sentido se existirem condições concorrenciais e uma regulação forte. De contrário, um monopólio moderno poderá manter-se por tempo indefinido. Dito isto, a carta chama a atenção para a facilidade com se que esquece a história económica e se imagina constantemente que desta vez será diferente.
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um comissário para todo o serviço
Secção Albergue espanhol
Confessamos: aqui no (Im)pertinências o comissário Carlos Moedas tem vindo a provocar urticária. A primeira vez que surgiu no nosso radar em plena crise do resgate foi a descerrar uma lápide em Beja com o seu nome, a pretexto de ser lá da terra, numa escola sem alunos (um projecto do tempo de Sócrates), na qualidade de secretário de estado adjunto do primeiro-ministro.
Ainda restava alguma boa impressão na segunda vez que nos apareceu, em plena crise do resgate, como porta-voz do governo numa conferência de imprensa onde apresentou um relatório do FMI («Portugal rethinking the state—selected expenditure reform options») recheado de medidas para apertar ainda mais o cinto. Fê-lo com o ar de totó sem a mínima ideia do impacto que essas medidas iriam provocar nos portugueses a quem a esquerdalhada apresentava como uma maldade da direita as medidas negociados pelo governo de Sócrates, recorde-se. Cúmulo da patetice, referiu-se ao repositório de mais maldades da direita com «um relatório muito bem feito», como se estivesse a falar para os alunos do mestrado de finanças da Católica.
Confessamos: aqui no (Im)pertinências o comissário Carlos Moedas tem vindo a provocar urticária. A primeira vez que surgiu no nosso radar em plena crise do resgate foi a descerrar uma lápide em Beja com o seu nome, a pretexto de ser lá da terra, numa escola sem alunos (um projecto do tempo de Sócrates), na qualidade de secretário de estado adjunto do primeiro-ministro.
Ainda restava alguma boa impressão na segunda vez que nos apareceu, em plena crise do resgate, como porta-voz do governo numa conferência de imprensa onde apresentou um relatório do FMI («Portugal rethinking the state—selected expenditure reform options») recheado de medidas para apertar ainda mais o cinto. Fê-lo com o ar de totó sem a mínima ideia do impacto que essas medidas iriam provocar nos portugueses a quem a esquerdalhada apresentava como uma maldade da direita as medidas negociados pelo governo de Sócrates, recorde-se. Cúmulo da patetice, referiu-se ao repositório de mais maldades da direita com «um relatório muito bem feito», como se estivesse a falar para os alunos do mestrado de finanças da Católica.
25/12/2018
CASE STUDY: A conferência de imprensa do czar Vlad ou a quinta-essência da hipocrisia
A habitual conferência de imprensa de fim de ano do czar Vlad Putin teve desta vez uma audiência massiva com 1.700 jornalistas credenciados (não incluindo os jornalistas personae non gratae) e prolongou-se por quatro longas horas da manhã de quinta-feira passada.
Sem surpresa, toda a conferência foi um exercício de hipocrisia e de doublespeak que poderia ter inspirado Orwell na construção do Big Brother, desde lamentações sobre a escalada militar que a Rússia estaria a ser vítima até incentivos ao Brexit (tudo quanto dividir a Nato é bem vindo).
O exercício de hipocrisia atingiu o apogeu com as suas preocupações pela corrida ao armamento comprometer a segurança do planeta («se, Deus nos livre, algo desse género acontecer, isso levará ao fim de toda a civilização e talvez também do planeta») e pelo «desrespeito para com os eleitores» de quem punha em causa a referendo do Brexit ou a eleição de Trump.
Nada mal para um antigo apparatchik do KGB.
Sem surpresa, toda a conferência foi um exercício de hipocrisia e de doublespeak que poderia ter inspirado Orwell na construção do Big Brother, desde lamentações sobre a escalada militar que a Rússia estaria a ser vítima até incentivos ao Brexit (tudo quanto dividir a Nato é bem vindo).
O exercício de hipocrisia atingiu o apogeu com as suas preocupações pela corrida ao armamento comprometer a segurança do planeta («se, Deus nos livre, algo desse género acontecer, isso levará ao fim de toda a civilização e talvez também do planeta») e pelo «desrespeito para com os eleitores» de quem punha em causa a referendo do Brexit ou a eleição de Trump.
Nada mal para um antigo apparatchik do KGB.
Etiquetas:
apparatchik,
dissonância cognitiva,
é muito para um homem só,
incorrigível
24/12/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (167) - NÚMERO ESPECIAL DE NATAL
Outras avarias da geringonça e do país.
Quereis um exemplo notável de um misto de manipulação descarada e pensamento milagroso de Costa e do seu governo? Atentai no que anuncia um governo que corta há três anos o investimento público ao ponto de comprometer o funcionamento do aparelho do Estado, um governo que deixa exangues as empresas públicas do sector de transportes e, em particular, uma CP incapaz de manter operacional uma parte do material circulante mas que quando não gosta da mensagem mata o mensageiro e não hesita em exonerar um director que põe em causa medidas que afectam a segurança.
Agora que já atentastes, lede o Expresso que, fazendo de sucedâneo do Acção Socialista em papel, anuncia na sua primeira página «Governo promete ligação Lisboa-Porto em duas horas» e dedica duas páginas a descrever o «Programa Nacional de Investimentos» para a próxima década com 20 mil milhões em grandes obras públicas, dos quais 3,5 mil milhões para a ferrovia. Tomai nota na vossa agenda e conferi por alturas do novo resgate.
Quereis um exemplo notável de um misto de manipulação descarada e pensamento milagroso de Costa e do seu governo? Atentai no que anuncia um governo que corta há três anos o investimento público ao ponto de comprometer o funcionamento do aparelho do Estado, um governo que deixa exangues as empresas públicas do sector de transportes e, em particular, uma CP incapaz de manter operacional uma parte do material circulante mas que quando não gosta da mensagem mata o mensageiro e não hesita em exonerar um director que põe em causa medidas que afectam a segurança.
Agora que já atentastes, lede o Expresso que, fazendo de sucedâneo do Acção Socialista em papel, anuncia na sua primeira página «Governo promete ligação Lisboa-Porto em duas horas» e dedica duas páginas a descrever o «Programa Nacional de Investimentos» para a próxima década com 20 mil milhões em grandes obras públicas, dos quais 3,5 mil milhões para a ferrovia. Tomai nota na vossa agenda e conferi por alturas do novo resgate.
23/12/2018
Dúvidas (246) - Empresária do Ano 2018?
O Expresso elegeu Empresária do Ano 2018 Paula Amorim, filha do empresário Américo Amorim falecido o ano passado.
Estará o semanário de reverência a corrigir a falha do ano passado por não ter eleito Paula Amorim Herdeira do Ano 2017?
Estará o semanário de reverência a corrigir a falha do ano passado por não ter eleito Paula Amorim Herdeira do Ano 2017?
Etiquetas:
Ridendo castigat mores,
semanário de reverência
CASE STUDY: O assalto ao BCP pela clique socialista de José Sócrates onze anos depois
O (Im)pertinências dedicou cerca de uma centena de posts a este tema (por exemplo aqui), uma das maiores vergonhas do regime que envolveu além do maestro José Sócrates, homens de mão como Santos Ferreira e Vara, facilitadores como o ministro anexo Vítor Constâncio (à época governador do BdP), homens do negócio socialista como Joe Berardo e muitos outros. Aproveitando a efeméride, Filipe Pinhal, administrador do BCP e no final sucessor de Jardim Gonçalves, escreveu no jornal SOL o artigo seguinte.
22/12/2018
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (85) - "Quero e não quero, gibão amarelo"
A iniciativa dos coletes amarelos foi um completo fiasco com grande alívio quase geral. Alívio da direita, porque o seu monopólio da oposição preguiçosa à geringonça não foi ameaçado. Da esquerda, porque o seu monopólio da rua também não foi ameaçado. Há quem defenda, mas não é o meu caso, que a esquerda ficou decepcionada por ter perdido um pretexto para agitar o fantasma do populismo.
Podia ser de outra maneira? Provavelmente não. Desde logo essa entidade mítica chamada «povo» não tem ainda razões para interromper as compras e sair à rua a manifestar-se, ainda para mais na última sexta-feira antes do Natal. Depois porque o um por cento do povo que costuma manifestar-se foi mandado ficar sossegado pela esquerdalhada.
Ah, já me esquecia. Ficou comprometida a tese do efeito mágico das redes sociais e ficou patente que as redes sociais não criam o que não existe, apenas ampliam o que existe.
Podia ser de outra maneira? Provavelmente não. Desde logo essa entidade mítica chamada «povo» não tem ainda razões para interromper as compras e sair à rua a manifestar-se, ainda para mais na última sexta-feira antes do Natal. Depois porque o um por cento do povo que costuma manifestar-se foi mandado ficar sossegado pela esquerdalhada.
Ah, já me esquecia. Ficou comprometida a tese do efeito mágico das redes sociais e ficou patente que as redes sociais não criam o que não existe, apenas ampliam o que existe.
CASE STUDY: Um imenso Portugal (50) - Justiça à medida
[Outros imensos Portugais]
Primeiro o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro decidiu em Abril que era constitucional a prisão de condenados em segunda instância antes do trânsito em julgado. Em consequência, Lula está preso desde Abril apesar de ainda estarem pendentes outros recursos.
Mais tarde o Partido Comunista do Brasil requereu ao Supremo Tribunal Federal que reconhecesse a constitucionalidade da prisão só ter lugar após o trânsito em julgado, isto é depois de esgotados todos os recursos. O juiz do Supremo Marco Aurélio decidiu que não havia dúvida sobre a constitucionalidade dessa disposição e em consequência Lula poderia ser libertado.
Menos de uma hora depois da decisão do juiz Marco Aurélio, o advogado de Lula pediu a sua libertação. A decisão de libertação caberia à juíza Carolina Lebbos, que não a quis tomar de imediato. Entretanto, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu da decisão do juiz Marco Aurélio e nesse dia (quarta-feira) à noite o presidente do STF suspendeu a decisão de Marco Aurélio porque o plenário do STF já tinha decidido anteriormente.
Podemos discutir em tese até ao fim dos tempos se o princípio da presunção de inocência deve prevalecer enquanto estiverem a decorrer recursos sejam eles quais forem. No caso português, por exemplo, pode haver recursos para um ou mais Tribunais da Relação, para o Supremo Tribunal, para o Tribunal Constitucional e até, por absurdo, para as três instâncias dos Tribunais Administrativos.
Lá poder, podemos, mas olhando para este lado do Atlântico, os Varas e os Duartes Limas, condenados há anos, foram apresentando os mais absurdos recursos em todas as instâncias e ainda continuam em liberdade. Conviria, pois, dar conta que quem tem meios para usar uma bateria de advogados pagos a peso de ouro para explorar as subtilezas jurídicas e usar os expedientes e alçapões processuais para prolongar o percurso judicial não são os pobres ou os remediados ou os zés ninguéns. São aqueles que até puderam usar o seu dinheiro e a sua influência para plantar nos códigos penais e nos códigos processuais as armadilhas que lhes permitem escapar. Recorde-se, a este respeito, que o Código Penal de 1982 foi alterado 42 vezes em 36 anos e o Código de Processo Penal de 2004 foi alterado 21 vezes em 14 anos.
Primeiro o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro decidiu em Abril que era constitucional a prisão de condenados em segunda instância antes do trânsito em julgado. Em consequência, Lula está preso desde Abril apesar de ainda estarem pendentes outros recursos.
Mais tarde o Partido Comunista do Brasil requereu ao Supremo Tribunal Federal que reconhecesse a constitucionalidade da prisão só ter lugar após o trânsito em julgado, isto é depois de esgotados todos os recursos. O juiz do Supremo Marco Aurélio decidiu que não havia dúvida sobre a constitucionalidade dessa disposição e em consequência Lula poderia ser libertado.
Menos de uma hora depois da decisão do juiz Marco Aurélio, o advogado de Lula pediu a sua libertação. A decisão de libertação caberia à juíza Carolina Lebbos, que não a quis tomar de imediato. Entretanto, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu da decisão do juiz Marco Aurélio e nesse dia (quarta-feira) à noite o presidente do STF suspendeu a decisão de Marco Aurélio porque o plenário do STF já tinha decidido anteriormente.
Podemos discutir em tese até ao fim dos tempos se o princípio da presunção de inocência deve prevalecer enquanto estiverem a decorrer recursos sejam eles quais forem. No caso português, por exemplo, pode haver recursos para um ou mais Tribunais da Relação, para o Supremo Tribunal, para o Tribunal Constitucional e até, por absurdo, para as três instâncias dos Tribunais Administrativos.
Lá poder, podemos, mas olhando para este lado do Atlântico, os Varas e os Duartes Limas, condenados há anos, foram apresentando os mais absurdos recursos em todas as instâncias e ainda continuam em liberdade. Conviria, pois, dar conta que quem tem meios para usar uma bateria de advogados pagos a peso de ouro para explorar as subtilezas jurídicas e usar os expedientes e alçapões processuais para prolongar o percurso judicial não são os pobres ou os remediados ou os zés ninguéns. São aqueles que até puderam usar o seu dinheiro e a sua influência para plantar nos códigos penais e nos códigos processuais as armadilhas que lhes permitem escapar. Recorde-se, a este respeito, que o Código Penal de 1982 foi alterado 42 vezes em 36 anos e o Código de Processo Penal de 2004 foi alterado 21 vezes em 14 anos.
Etiquetas:
Brasil,
justiça de causas,
teorias da conspiração,
verdade inconveniente
21/12/2018
Lost in translation (314) - Temos boas e más notícias
«Temos muito boas notícias para Portugal, para os nossos pescadores e armadores de pesca, com um aumento de 24% do total de capturas possível, atingindo as 131 mil toneladas», disse a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, no final do Conselho de ministros das Pescas.
A gente percebe que a senhora ministra faz parte de um governo especializado em inventar boas notícias, ainda assim, considerando que o stock sustentável no Atlântico Nordeste e no Mediterrâneo de muitas espécies comercialmente capturáveis está ameaçado, a senhora ministra deveria esforçar-se um pouco mais por disfarçar a alegria.
A gente percebe que a senhora ministra faz parte de um governo especializado em inventar boas notícias, ainda assim, considerando que o stock sustentável no Atlântico Nordeste e no Mediterrâneo de muitas espécies comercialmente capturáveis está ameaçado, a senhora ministra deveria esforçar-se um pouco mais por disfarçar a alegria.
20/12/2018
O Ronaldo das Finanças perdeu a vergonha
Ontem de manhã , o ministro das Finanças Mário Centeno revelou no parlamento o bem que governo da geringonça já fez ou promete fazer pela sua freguesia eleitoral, nomeadamente:
- "a despesa com pessoal das Administrações Públicas aumentará 1950 milhões de euros ao longo da legislatura";
- "nos 13 anos anteriores (desde 2002) esta despesa aumentou apenas 170 milhões de euros. São mais 11 vezes em apenas 4 anos do que nos 13 anos anteriores";
- "o salário horário médio dos trabalhadores da Administração Pública aumentou cerca de 20% em apenas 4 anos";
- "permitiu, já em 2018, que perto de 350 mil trabalhadores tenham registado valorizações salariais";
- "com o novo biénio de avaliações e com o reposicionamento dos 70 mil trabalhadores com salários abaixo dos 635 euros, este número pode subir para mais de 500 mil";
- "em 2019 a remuneração média na Administração Pública crescerá perto de 3,7%. As progressões na carreira serão uma realidade em dois anos consecutivos. Pela primeira vez em 10 anos."
DIÁRIO DE BORDO: Menos denúncias de abusos não significa menos abusos
O bispo do Porto considera que o fenómeno dos abusos sexuais na Igreja Católica foi «foi um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos. Na Europa aconteceu em alguns lados, aconteceu na Alemanha, mas não aconteceu com a mesma escala que consta que aconteceu nos Estados Unidos e na Austrália. O que é que se passou? Houve uma altura, nos anos 60 e 70, em que um determinado género de psicologia falava exatamente de uma aproximação, talvez demasiado íntima, afetiva, entre os mais velhos e os mais novos, até como forma de integração dos mais novos».
É factualmente verificável que as denúncias dos abusos sexuais na Igreja Católica têm sido um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos. Daí a concluir-se, como fez o bispo, que esses abusos são um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos vai uma longa distância.
Não pode percorrer-se essa distância sem considerar outros factos, como a religião católica ser minoritária nos países anglo-saxónicos face às religiões protestantes e a influência de 6 séculos da Reforma protestante que modificou as ideias e os valores dominantes e em particular as noções de verdade, culpa e responsabilidade.
Daí que as denúncias serem um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos não significa necessariamente que nos países de influência católica dominante os abusos sexuais sejam menos frequentes. Por um lado, nestes últimos países a igreja católica tem ainda uma influência forte, ainda que em regressão, suficiente para abafar os escândalos e, por outro, nestes países há uma maior tolerância aos interditos morais, convive-se melhor com a mentira e aceita-se mais facilmente a duplicidade.
É factualmente verificável que as denúncias dos abusos sexuais na Igreja Católica têm sido um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos. Daí a concluir-se, como fez o bispo, que esses abusos são um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos vai uma longa distância.
Não pode percorrer-se essa distância sem considerar outros factos, como a religião católica ser minoritária nos países anglo-saxónicos face às religiões protestantes e a influência de 6 séculos da Reforma protestante que modificou as ideias e os valores dominantes e em particular as noções de verdade, culpa e responsabilidade.
Daí que as denúncias serem um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos não significa necessariamente que nos países de influência católica dominante os abusos sexuais sejam menos frequentes. Por um lado, nestes últimos países a igreja católica tem ainda uma influência forte, ainda que em regressão, suficiente para abafar os escândalos e, por outro, nestes países há uma maior tolerância aos interditos morais, convive-se melhor com a mentira e aceita-se mais facilmente a duplicidade.
19/12/2018
Pro memoria (388) – a nacionalização do BPN não custou nada e o nada vai já em ? mil milhões (XII)
Posts anteriores (I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII), (VIII), (IX), (X) e (XI)
Em retrospectiva: Teixeira dos Santos, co-autor com José Sócrates do desastre da nacionalização de um banco que valia 2% do mercado, ainda em 2012, decorridos 4 anos da sua decisão fatídica, justificava a inevitabilidade da sua decisão porque não custaria nada e a falência do BNP, segundo ele, levaria à quebra do PIB em 4%.
Recordemos ainda que a nacionalização do BPN foi entusiasticamente apoiada pelo Berloque na pessoa do seu Querido Líder Louçã, agora semi-aposentado, o que não impediu sete anos depois a sua sucessora Querida Líder Catarina Martins dizer com grande descaro que o Novo Banco «é cada vez mais o novo buraco (...) e cada vez lembra mais o BPN».
Recordemos ainda que a nacionalização do BPN foi entusiasticamente apoiada pelo Berloque na pessoa do seu Querido Líder Louçã, agora semi-aposentado, o que não impediu sete anos depois a sua sucessora Querida Líder Catarina Martins dizer com grande descaro que o Novo Banco «é cada vez mais o novo buraco (...) e cada vez lembra mais o BPN».
De vez em quando são tornadas públicas estimativas de quanto já custou e de quanto ainda vai custar a nacionalização do BPN. Nesta altura, estou a imaginar-vos a perguntar: quanto já custou? estimativas? Então as contas não são do passado e as estimativas para futuro? Sim, respondo, num país normal; num país que não sofresse da maldição da tabuada. Em Portugal fazem-se estimativas para o passado e palpites para o futuro.
Voltando à vaca fria, a estimativa mais recente de quanto já foi torrado é da responsabilidade do Tribunal de Contas (no melhor pano cai a pior nódoa) e sendo de 4,1 mil milhões de euros é inferior aos 5 mil milhões da última estimativa que registei há dois anos. O que nos leva a outra originalidade, a saber: em Portugal o futuro pode reduzir os custos do passado. Ou talvez não, porque os números de passado não eram contas, eram estimativas.
Seja como for, os milhares de milhões, que talvez ninguém nunca venha a saber quantos são, não se evaporaram (tese de Marcelo) nem foram «destruídos» pela banca (tese da esquerdalhada). Estes e outros milhares de milhões foram torrados em elefantes brancos públicos e privados do regime, como estes promovidos pelos amigos do regime, e a conta vai sendo apresentada aos sujeitos passivos - quem mais além deles?
Seja como for, os milhares de milhões, que talvez ninguém nunca venha a saber quantos são, não se evaporaram (tese de Marcelo) nem foram «destruídos» pela banca (tese da esquerdalhada). Estes e outros milhares de milhões foram torrados em elefantes brancos públicos e privados do regime, como estes promovidos pelos amigos do regime, e a conta vai sendo apresentada aos sujeitos passivos - quem mais além deles?
18/12/2018
Um Rio cada vez mais parecido com um socialista (2)
Continuação daqui
Já se sabia que Rui Rio é uma espécie de socialista tresmalhado. Ficou também a saber-se que, ao escolher lugares-tenentes como Barreiras Duarte, Elina Fraga, Salvador Malheiro, etc. (um etc. cada vez maior), a sua tão proclamada ética se distingue pouco da chamada ética republicana do Homo Socialisticus vulgaris.
Se dúvidas houvesse sobre a sua pertença a essa espécie, teriam desaparecido com a sua soi-disant reforma da justiça e em particular a sua proposta para a maioria do Conselho Superior do Ministério Público (*) ser constituída por apparatchiks nomeados por direcções partidárias que podem ser os próximos alvos da justiça.
É injusto comparar Rio como Sócrates, como fez o político-comentador Marques Mendes, mas não deixam de ser evidente os tiques controleiros de um e outro em relação aos mídia e à justiça.
(*) Aditamento: e a maioria do Conselho Superior de Magistratura.
Já se sabia que Rui Rio é uma espécie de socialista tresmalhado. Ficou também a saber-se que, ao escolher lugares-tenentes como Barreiras Duarte, Elina Fraga, Salvador Malheiro, etc. (um etc. cada vez maior), a sua tão proclamada ética se distingue pouco da chamada ética republicana do Homo Socialisticus vulgaris.
Se dúvidas houvesse sobre a sua pertença a essa espécie, teriam desaparecido com a sua soi-disant reforma da justiça e em particular a sua proposta para a maioria do Conselho Superior do Ministério Público (*) ser constituída por apparatchiks nomeados por direcções partidárias que podem ser os próximos alvos da justiça.
É injusto comparar Rio como Sócrates, como fez o político-comentador Marques Mendes, mas não deixam de ser evidente os tiques controleiros de um e outro em relação aos mídia e à justiça.
(*) Aditamento: e a maioria do Conselho Superior de Magistratura.
17/12/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (166)
Outras avarias da geringonça e do país.
Num país normal seria insólito. Em Portugal, um país insólito, é normal as conclusões de uma auditoria à Caixa terminada o ano passado que identificam inúmeras operações ruinosas de crédito às empresas do complexo político-empresarial socialista, sobretudo no período entre 2005 e 2008, quando por lá passaram Santos Ferreira e Armando Vara, uns figurões nomeados pelo governo socialista de José Sócrates, serem reveladas no seu púlpito na SIC por um político disfarçado de comentador (outra luso-especialidade), por sinal sucessor de um outro político disfarçado de comentador, agora residente no palácio de Belém.
Se não é justiça de causas, bem parece a decisão do Tribunal Constitucional que arquivou o processo contra o amigo Siza Vieira, pela incompatibilidade de ser ministro e sócio-gerente de uma imobiliária, com o fundamento de «ser um cargo que já não ocupa». Isto é, a criatura que era ministro-adjunto do primeiro-ministro passou a ser ministro da Economia e... ministro-adjunto do primeiro-ministro.
Num país normal seria insólito. Em Portugal, um país insólito, é normal as conclusões de uma auditoria à Caixa terminada o ano passado que identificam inúmeras operações ruinosas de crédito às empresas do complexo político-empresarial socialista, sobretudo no período entre 2005 e 2008, quando por lá passaram Santos Ferreira e Armando Vara, uns figurões nomeados pelo governo socialista de José Sócrates, serem reveladas no seu púlpito na SIC por um político disfarçado de comentador (outra luso-especialidade), por sinal sucessor de um outro político disfarçado de comentador, agora residente no palácio de Belém.
Se não é justiça de causas, bem parece a decisão do Tribunal Constitucional que arquivou o processo contra o amigo Siza Vieira, pela incompatibilidade de ser ministro e sócio-gerente de uma imobiliária, com o fundamento de «ser um cargo que já não ocupa». Isto é, a criatura que era ministro-adjunto do primeiro-ministro passou a ser ministro da Economia e... ministro-adjunto do primeiro-ministro.
Mitos (286) - Os coletes amarelos são o povo em revolta
Segundo o Monde, um jornal de centro-esquerda, nos cinco sábados consecutivos de manifestações dos gilets jaunes o número de manifestantes em toda a França e a percentagem que representam do escalão 15-64 anos foram:
- 17 de Novembro: 282 mil, 0,67%
- 24 de Novembro: 106 mil, 0,25%
- 1 de Dezembro: 75 mil, 0,18%
- 8 de Dezembro: 125 mil, 0,30%
- 15 de Dezembro: 66 mil, 0,15%
[População da França: 67,2 milhões, dos quais aproximadamente 42 milhões entre os 15 e os 64 anos]
Em média participaram nos 5 dias de manifestações em toda a França 131 mil pessoas, o equivalente a 0,31% da população entre os 15 e os 64 anos ou a 2 em cada mil franceses.
A cedência em toda a linha de Macron não demonstra a força de um movimento de tipo anarquista cavalgado pelos populismos de esquerda e de direita e infiltrado pela marginalidade que aproveita para pilhar. Ao invés, demonstra a incapacidade de Macron reformar um país com uma cultura profundamente centralizadora e colectivista e uma elite dirigista e demonstra a fraqueza de um político de aviário que chegou ao palácio do Eliseu sem nunca ter sido posto à prova fora dos gabinetes da banca e do governo.
Leia-se o que disse Eric Drouet, um dos iniciadores dos gilets jaunes, num vídeo no Facebook:
«Ce que Macron a fait lundi, c'est un appel à continuer, parce qu'il commence à lâcher quelque chose et, venant de lui, c'est inhabituel.»Compare-se a reacção de Emanuel Macron com a acção de Charles de Gaulle que no dia 30 de Maio de 1968, depois dos levantamentos de estudantes que sublevaram Paris durante esse mês, anunciou na televisão ao povo francês:
«J'ai pris mes résolutions. Dans les circonstances présentes, je ne me retirerai pas. J'ai un mandat du peuple, je le remplirai, je ne changerai pas le premier ministre dont la valeur, la solidité, la capacité méritent l'hommage de tous. Il me proposera les changements qui lui paraîtront utiles dans la composition du gouvernement. Je dissous aujourd'hui l'assemblée nationale.»Algumas horas depois, 800 mil pessoas manifestaram-se pacificamente em Paris em apoio ao presidente de Gaulle. O discurso de Macron do dia 10 bem poderia ter começado assim: J'ai cédé à mes irrésolutions,
16/12/2018
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (69) - O repórter das notícias locais
Outras preces
Descarrila um eléctrico na Lapa e a criatura que faz as vezes de PR vai a correr ao "local da ocorrência", onde chega um pouco atrasado, logo a seguir aos bombeiros, e fala à Nação através das televisões:
Descarrila um eléctrico na Lapa e a criatura que faz as vezes de PR vai a correr ao "local da ocorrência", onde chega um pouco atrasado, logo a seguir aos bombeiros, e fala à Nação através das televisões:
«Felizmente houve uma capacidade de resposta imediata e muito eficiente e o número de pessoas que já foi resgatado é muito superior àqueles que falta desencarcerar. (...) Vamos esperar, a ver se o saldo global é um saldo que não tenha vítimas que não sejam feridos.»Sabe-se lá porquê, ocorreu-me, a conhecida estória verídica do último presidente da República do Estado Novo, almirante Américo Thomaz, que numa das suas visitas a um qualquer local pronunciou à Nação: «esta é a primeira vez que aqui venho, desde a última que cá estive».
O plano de Piketty para a Europa: mais do mesmo
Thomas Piketty, o mediático autor de «Capital in the 21st Century», 700-páginas-700 de economia de causas (ler aqui, aqui e aqui o que escrevemos sobre o homem e a obra), obra que fez durante uns meses a felicidade de keynesianos e da esquerdalhada (grupos em parte coincidentes, sendo que os segundos interpretaram Keynes usando só o hemisfério cerebral direito), voltou agora às causas sem economia, desta vez liderando um manifesto de eurófilos progressistas apresentando um plano para tornar a «Europa mais justa».
A ideia central é a quadruplicação do orçamento europeu actual para os 800 mil milhões de euros - grosso modo quatro vezes o PIP português - que seria financiado com aumento dos impostos sobre os lucros (uma taxa única europeia de 37%), um imposto adicional sobre os rendimentos (10% acima de 100 mil e 20% acima de 200 mil) , um imposto adicional sobre imóveis (1% acima de 1 milhão e 2% acima de 5 milhões) e um imposto sobre as emissões de CO2 de 30€ por tonelada.
Os 800 milhões seriam torrados em inovação e pesquisa (25%), tecnologias verdes (15%), refugiados (10%) e last but not least a restante metade dividida proporcionalmente à população para cada governo gastar como lhe aprouver.
Não me parece que valha a pena gastar muitos neurónios a examinar o lunatismo do projecto, bastando constatar que a ideia base é extorquir mais dinheiro e gastar metade como de costume e outra metade como aprouver a cada um dos governos. A Alemanha, por exemplo, tem um PIB per capita duplo do português e pagaria por pessoa cerca do dobro, recebendo por pessoa o mesmo que Portugal para gastar discricionariamente. A contribuição finlandesa seria superior à portuguesa e com metade da população receberia metade do financiamento para utilização discricionária. E todos sabemos como discricionário tem significados muito diferentes nas várias geografias.
A União Europeia do plano Piketty |
No ponto em que a «construção europeia» está, este plano para tornar a Europa mais justa, enfiado pela garganta abaixo dos cidadãos dos países contribuintes, muito provavelmente faria implodir o que resta do edifício, apesar dos previsíveis esforços da eurocracia, cujo poder aumentaria, e naturalmente apesar do gáudio dos governos e de muitos cidadãos da Europa subsidiada.
Etiquetas:
Lunatismo,
mais do mesmo,
Óropa,
unintended consequences
15/12/2018
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Seria perigoso se fosse para levar a sério
«Há dias, em Marraquexe, a ONU juntou os membros, salvo seja, e adoptou um Pacto Global para a Migração, ou o “Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular”. A primeira peculiaridade do Pacto é não ser um pacto, leia-se um acordo entre partes. Mal se anunciou o acordo, percebeu-se que algumas partes não estavam para aí viradas. (...) No fundo, o Pacto acabará restrito a meia dúzia de países que recebem migrantes, 150 países que os exportam e o Vaticano, fechado às turbulências terrenas. A coisa promete.
A segunda peculiaridade de um pacto celebrado por estados é o pormenor de uns 99,8% das respectivas populações nunca terem ouvido falar do dito até vinte minutos antes do certame marroquino. Compreende-se o segredo. Em regimes democráticos, submeter estas matérias à discussão popular acaba por correr mal. Parecendo que não, o povo é um bocadinho retrógrado, para não dizer “fascista”, pelo que tenderia a desconfiar de aberturas e progressos. Para sossego da plebe, os signatários garantem que o Pacto não é vinculativo, logo não belisca a soberania nacional. Para inquietação da plebe, nos lugares em que a plebe se inquieta (não é connosco), a discrição utilizada no processo prova que a soberania já faleceu há tempos. Quem discordar é livre de emigrar para paragens livres de o recusar. A coisa marcha.»
E você, já adoptou um migrante?, Alberto Gonçalves no Observador
A segunda peculiaridade de um pacto celebrado por estados é o pormenor de uns 99,8% das respectivas populações nunca terem ouvido falar do dito até vinte minutos antes do certame marroquino. Compreende-se o segredo. Em regimes democráticos, submeter estas matérias à discussão popular acaba por correr mal. Parecendo que não, o povo é um bocadinho retrógrado, para não dizer “fascista”, pelo que tenderia a desconfiar de aberturas e progressos. Para sossego da plebe, os signatários garantem que o Pacto não é vinculativo, logo não belisca a soberania nacional. Para inquietação da plebe, nos lugares em que a plebe se inquieta (não é connosco), a discrição utilizada no processo prova que a soberania já faleceu há tempos. Quem discordar é livre de emigrar para paragens livres de o recusar. A coisa marcha.»
E você, já adoptou um migrante?, Alberto Gonçalves no Observador
Etiquetas:
eu diria mesmo mais,
guterrar,
Lunatismo,
pactologia
14/12/2018
Dúvidas (244) - Os coletes amarelos são um movimento contra o neoliberalismo?
Tenho vindo a debater-me com esta dúvida existencial até que encontrei aqui a resposta que procurava sob a forma de um argumento do tipo reductio ad absurdum:
«A ideia de que os protestos dos "coletes amarelos" são uma espécie de grande movimento contra o neoliberalismo é uma interpretação criativa. O protesto nasce de proprietários de automóveis (logo pequeno burgueses) contra uma taxa do estado criada para subverter a lógica do mercado automóvel. Tudo isto num país com uma gigantesca carga fiscal que alimenta um gigantesco estado social. Sim. O protesto é contra o neoliberalismo.»
Costa virou a página da austeridade. Eis as novas páginas
«Virada a página da austeridade, será neste novo ciclo que se irão reforçar as condições para que Portugal vença os desafios estratégicos da próxima década»
Moção "estratégica" aprovada por Costa no Congresso do PS de Maio deste ano
Página um
Página dois
Moção "estratégica" aprovada por Costa no Congresso do PS de Maio deste ano
Página um
Jornal Económico |
13/12/2018
A nova Liga Hanseática nossa amiga
Como se pode confirmar pelo excerto citado do artigo Northern member states unite on euro-zone reform, na Economist, o «nossa» do título deste post não se refere nem ao governo, nem à geringonça, nem mesmo a muitos portugueses que parecem apreciar pouco a prudência fiscal, o livre comércio, e até a liberdade em geral, e preferem pular para o colo do Estado pagando como tributo uma sociedade onde predominam os valores da mediocridade, uma democracia asmática e uma economia pouco competitiva com um potencial anémico de crescimento.
«No final da Idade Média a Liga Hanseática, uma confederação de corporações mercantis no norte da Europa, dominava o comércio marítimo nos mares Báltico e Norte. Agora, os ministros das Finanças dos estados do norte, caracterizados por suas visões de prudência fiscal e de mercado livre, esperam influenciar o rumo para as reformas na União Europeia. Composto pela Dinamarca, Estónia, Finlândia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Holanda e Suécia, o grupo, apelidado de Nova Liga Hanseática, está começar a ter alguma influência.
O impulso imediato para a aliança, que se reuniu pela primeira vez durante um jantar em Bruxelas há cerca de um ano, é o Brexit. O grupo considerou que os seus interesses estavam bem representados com a posição de comércio livre da Grã-Bretanha e a prudência fiscal da Alemanha abrandassem o entusiasmo francês pela "solidariedade" (isto é, redistribuição) e pelo proteccionismo. Mas a saída da Grã-Bretanha significa que eles perderam um defensor da abertura.
Ao mesmo tempo, os franceses e os alemães têm o hábito irritante de discutir entre eles reformas na área da moeda única. O exemplo mais recente disso foi em Junho, quando Emmanuel Macron e Angela Merkel concordaram com uma posição comum. A declaração deles formou a base para o pacote de reformas que os ministros das Finanças da UE divulgaram em 4 de Dezembro, e que será formalmente acordado pelos chefes de estado em Bruxelas no dia 14 de Dezembro. (...)
Os oito países hanseáticos, que juntos constituem apenas um décimo da população da UE , não podem bloquear as decisões do Conselho de Ministros da Europa. (A maioria dos votos formais exige uma maioria “qualificada”; para que uma proposta seja rejeitada, pelo menos quatro países representando 35% da população do bloco devem votar contra.) Mas as propostas de reforma tendem a ser baseadas em consenso político e não em votos formais. por isso a liga ainda tem influência. Recrutou outros membros para sua causa. A Eslováquia, por exemplo, também assinou o documento sobre o fundo de resgate soberano em Novembro. Também pode esperar endurecer a Alemanha - cujas cidades ajudaram a fundar a Liga Hanseática medieval, e que é vista como uma parceira silenciosa de seu homónimo moderno - nas suas conversas com a França.»
«No final da Idade Média a Liga Hanseática, uma confederação de corporações mercantis no norte da Europa, dominava o comércio marítimo nos mares Báltico e Norte. Agora, os ministros das Finanças dos estados do norte, caracterizados por suas visões de prudência fiscal e de mercado livre, esperam influenciar o rumo para as reformas na União Europeia. Composto pela Dinamarca, Estónia, Finlândia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Holanda e Suécia, o grupo, apelidado de Nova Liga Hanseática, está começar a ter alguma influência.
O impulso imediato para a aliança, que se reuniu pela primeira vez durante um jantar em Bruxelas há cerca de um ano, é o Brexit. O grupo considerou que os seus interesses estavam bem representados com a posição de comércio livre da Grã-Bretanha e a prudência fiscal da Alemanha abrandassem o entusiasmo francês pela "solidariedade" (isto é, redistribuição) e pelo proteccionismo. Mas a saída da Grã-Bretanha significa que eles perderam um defensor da abertura.
Ao mesmo tempo, os franceses e os alemães têm o hábito irritante de discutir entre eles reformas na área da moeda única. O exemplo mais recente disso foi em Junho, quando Emmanuel Macron e Angela Merkel concordaram com uma posição comum. A declaração deles formou a base para o pacote de reformas que os ministros das Finanças da UE divulgaram em 4 de Dezembro, e que será formalmente acordado pelos chefes de estado em Bruxelas no dia 14 de Dezembro. (...)
Os oito países hanseáticos, que juntos constituem apenas um décimo da população da UE , não podem bloquear as decisões do Conselho de Ministros da Europa. (A maioria dos votos formais exige uma maioria “qualificada”; para que uma proposta seja rejeitada, pelo menos quatro países representando 35% da população do bloco devem votar contra.) Mas as propostas de reforma tendem a ser baseadas em consenso político e não em votos formais. por isso a liga ainda tem influência. Recrutou outros membros para sua causa. A Eslováquia, por exemplo, também assinou o documento sobre o fundo de resgate soberano em Novembro. Também pode esperar endurecer a Alemanha - cujas cidades ajudaram a fundar a Liga Hanseática medieval, e que é vista como uma parceira silenciosa de seu homónimo moderno - nas suas conversas com a França.»
Etiquetas:
bons exemplos,
Desfazendo ideias feitas,
ecoanomia,
esquerdalhada,
Óropa
12/12/2018
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A importância de ser importante
«Por estranho que possa parecer, em Portugal, quem for suficientemente bom a parecer que é uma pessoa importante pode fazer carreira como se fosse uma pessoa importante. Não é uma coincidência que o intrujão Artur Baptista da Silva tenha passado, em 2012, por grande especialista económico da ONU, ao ponto de ser entrevistado em horário nobre por um dos mais experientes jornalistas portugueses – nós somos encandeados pelo paleio dos vendedores de banha da cobra como os coelhos são encandeados pelos faróis dos automóveis. Com frequência, em ambos os casos acabamos atropelados.
Dado que ser uma pessoa importante é mais relevante para a carreira do que efectivamente ter feito alguma coisa importante na vida, o país valoriza muito mais o penacho do que o mérito, já que o único local onde exigimos talento e provas dadas é nos campos de futebol. Não havendo relva à vista, pouco nos importa.»
João Miguel Tavares no Público
Dado que ser uma pessoa importante é mais relevante para a carreira do que efectivamente ter feito alguma coisa importante na vida, o país valoriza muito mais o penacho do que o mérito, já que o único local onde exigimos talento e provas dadas é nos campos de futebol. Não havendo relva à vista, pouco nos importa.»
João Miguel Tavares no Público
11/12/2018
História da carochinha
A propósito da visita do Imperador Xi Jinping escreveu Paulo Portas (e com ele muitos outros por palavras parecidas) na sua nova encarnação como sinólogo: «Portugal tem, pela historia, uma ligação especial com a China, que nem todos os países têm — antes pelo contrário — e que gostariam de ter. Portugal foi dos países que levou o Ocidente para o Oriente e a transição de Macau — sobretudo em comparação com Hong Kong — é lembrada por Beijing como exemplar. Quem tem essas vantagens comparativas não as desperdiça.»
Imaginemos o que a respeito de ligações especiais com a China poderia escrever um britânico com a lábia de Paulo Portas. É com estes e outros argumentos patéticos parecidos que nos fazem engolir a pílula amarga de uma distopia estar a usar a nossa dependência para transformar Portugal num instrumento das suas ambições de potência mundial emergente a troco de um prato de lentilhas.
Imaginemos o que a respeito de ligações especiais com a China poderia escrever um britânico com a lábia de Paulo Portas. É com estes e outros argumentos patéticos parecidos que nos fazem engolir a pílula amarga de uma distopia estar a usar a nossa dependência para transformar Portugal num instrumento das suas ambições de potência mundial emergente a troco de um prato de lentilhas.
CASE STUDY: Um mês de salário mínimo comunista para aceder à internet comunista
No princípio de Dezembro, a ETECSA, o monopólio de telecomunicações do governo comunista cubano, anunciou que iria disponibilizar pela primeira vez o serviço 3G de acesso à internet via telemóveis.
O acesso custará 10 cêntimos de dólar por MB, em pacotes desde 600 MB a USD 7 até 4 GB por USD 30 (fonte), o que equivale aproximadamente a um mês do salário mínimo médio (225 pesos)
O acesso custará 10 cêntimos de dólar por MB, em pacotes desde 600 MB a USD 7 até 4 GB por USD 30 (fonte), o que equivale aproximadamente a um mês do salário mínimo médio (225 pesos)
Etiquetas:
comunismo,
pesada herança,
verdade inconveniente
Eis uma bela causa fracturante...
... ou, mais precisamente, três belas causas anti-colonialistas, aqui sugeridas por Helena Matos, a saber:
- dos portugueses contra a França, para devolução do “Cabinet de Lisbonne” estacionado no Museu de História Natural de Paris, bem como das obras de arte, pedras preciosas, livros raros e colecções várias levadas pelos invasores franceses;
- dos brasileiros contra Portugal por parte desse património que Junot levou ter sido trazido do Brasil no século XVIII;
- das tribos índias contra o governo fascista de Bolsonaro pelas peças que lhes foram subtraídas pelos colonialistas portugueses e posteriormente devolvidas ao Brasil.
Moral da estória: de uma cajadada matam-se três coelhos, ou, na versão da PETA, com uma cenoura alimentam-se três coelhos.
10/12/2018
O grande problema da democracia, segundo um anti-democrata
«O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.»Pensamento de José Saramago, hoje evocado na newsletter do semanário de reverência, Saramago que nunca viu nenhum grande problema nos regimes autocráticos comunistas e que durante o PREC, quando estava em curso a instalação de uma «democracia popular», dirigiu um jornal de onde expulsou os jornalistas desalinhados.
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (165)
Outras avarias da geringonça e do país.
A semana passada tivemos a visita muito celebrada do Imperador Xi Jinping recebido por uma nomenclatura do regime babada, em sentido literal e em sentido figurado, em cerimónias tão vergonhosamente untuosas que envergonhariam um país que tivesse vergonha. A falta de vergonha só é igualada pela falta de sentido estratégico dessa nomenclatura que se dispõe a ser um instrumento da política externa e das ambições de um regime despótico de partido único que agressivamente se afirma como uma potência global. Também notável foi a correspondente falta de vergonha de uma esquerdalhada, sempre a fingir-se sensível aos direitos humanos, que não esboçou um protesto pela presença da clique dirigente de um dos país onde é mais notória o desrespeito por esses direitos.
Falando na 5.ª feira passada sobre o endividamento na conferência sobre a Reforma das Finanças Públicas, o investidor internacional Paul Kazarian alertou Costa que «pode acabar cozido como o sapo na panela», aludindo à conhecida metáfora do sapo que vai ficando na panela ao lume até que a água começa ferver e é tarde de mais para sair.
A semana passada tivemos a visita muito celebrada do Imperador Xi Jinping recebido por uma nomenclatura do regime babada, em sentido literal e em sentido figurado, em cerimónias tão vergonhosamente untuosas que envergonhariam um país que tivesse vergonha. A falta de vergonha só é igualada pela falta de sentido estratégico dessa nomenclatura que se dispõe a ser um instrumento da política externa e das ambições de um regime despótico de partido único que agressivamente se afirma como uma potência global. Também notável foi a correspondente falta de vergonha de uma esquerdalhada, sempre a fingir-se sensível aos direitos humanos, que não esboçou um protesto pela presença da clique dirigente de um dos país onde é mais notória o desrespeito por esses direitos.
Falando na 5.ª feira passada sobre o endividamento na conferência sobre a Reforma das Finanças Públicas, o investidor internacional Paul Kazarian alertou Costa que «pode acabar cozido como o sapo na panela», aludindo à conhecida metáfora do sapo que vai ficando na panela ao lume até que a água começa ferver e é tarde de mais para sair.
09/12/2018
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Se Costa não gosta dos jornalistas é porque provavelmente estão a fazer um bom trabalho
A propósito de um dos muitos dislates do presidente Marcelo questionando-se sobre «a obrigação do Estado intervir na situação de emergência da comunicação social», escrevi que a incapacidade de uma parte dos mídia responderem aos novos desafios da emergência do digital e das redes sociais, incapacidade a que chamam crise da comunicação social, tem a mesma lógica dos carroceiros do início do século passado chamarem crise dos transportes à emergência do automóvel.
Luís Cabral, professor da universidade de Nova Iorque, que escreve regularmente uma da meia dúzia de peças a que se poderia limitar a edição pletórica de quase 200 páginas do Expresso, tirou-me mais uma vez as palavras da boca:
«Há alguns meses, António Costa dizia que “um dos maiores problemas do país é a péssima qualidade da nossa informação”. Uma perspectiva diferente: o facto de o primeiro-ministro não gostar dos jornalistas é provavelmente sinal de que estão fazendo um bom trabalho.
Por outras palavras, tal como as grandes editoras de música confundiram o fim do mundo com o fim do seu mundo, é possível que Marcelo esteja confundindo a crise do jornalismo com a crise dos jornais. (...)
O que me preocupa mais é o modus operandi do regime em que os governos tentam (e por vezes conseguem) ameaçar e influenciar as redacções. O que me preocupa mais é o fluxo de promissores jornalistas que se ‘vendem’ aos salários mais altos no Governo. O que me preocupa mais, enfim, é a promiscuidade entre políticos e comentadores políticos, uma ‘roda giratória’ que abafa por completo os famosos lóbis americanos.
É neste contexto que devemos analisar a pergunta do Presidente: “A grande interrogação que eu tenho formulado a mim mesmo é a seguinte: até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?” Pelo que escrevi nos parágrafos anteriores, penso que a resposta é clara: a obrigação do Estado é justamente não intervir. Neste aspecto, o que se pede ao Governo não é que faça mais, é que faça menos.
Luís Cabral, professor da universidade de Nova Iorque, que escreve regularmente uma da meia dúzia de peças a que se poderia limitar a edição pletórica de quase 200 páginas do Expresso, tirou-me mais uma vez as palavras da boca:
«Há alguns meses, António Costa dizia que “um dos maiores problemas do país é a péssima qualidade da nossa informação”. Uma perspectiva diferente: o facto de o primeiro-ministro não gostar dos jornalistas é provavelmente sinal de que estão fazendo um bom trabalho.
Por outras palavras, tal como as grandes editoras de música confundiram o fim do mundo com o fim do seu mundo, é possível que Marcelo esteja confundindo a crise do jornalismo com a crise dos jornais. (...)
O que me preocupa mais é o modus operandi do regime em que os governos tentam (e por vezes conseguem) ameaçar e influenciar as redacções. O que me preocupa mais é o fluxo de promissores jornalistas que se ‘vendem’ aos salários mais altos no Governo. O que me preocupa mais, enfim, é a promiscuidade entre políticos e comentadores políticos, uma ‘roda giratória’ que abafa por completo os famosos lóbis americanos.
É neste contexto que devemos analisar a pergunta do Presidente: “A grande interrogação que eu tenho formulado a mim mesmo é a seguinte: até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?” Pelo que escrevi nos parágrafos anteriores, penso que a resposta é clara: a obrigação do Estado é justamente não intervir. Neste aspecto, o que se pede ao Governo não é que faça mais, é que faça menos.
Etiquetas:
democracia asmática,
eu diria mesmo mais,
jornalismo de causas
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (68) - A baba literal ainda vai. A outra é indesculpável
Outras preces
«Não há outra maneira de dizer isto: junto do presidente chinês, o prof. Marcelo babou-se. Não falo da baba literal, que proporcionou um pitoresco momento televisivo e, no fundo, não significa nada. O problema é a baba figurada, ou a subserviência com que o principal representante do estado português recebe um ditador, aliás adequada à própria subserviência do país ao dinheiro da ditadura em questão. Da anexação provisória do Ritz e do trânsito lisboeta à tomada definitiva da EDP, do BCP e etc., é natural notar-se quem manda e quem obedece. Mas o prof. Marcelo escusava de tornar a diferença de estatuto tão evidente. Uma coisa é a diplomacia, outra são os sorrisos escancarados, e os salamaleques tão prolongados que arriscam hérnias discais. Prolongados e recorrentes. Agora foi a China. Antes, fora Angola. E, antes ainda, a peregrinação a Cuba para a bênção de São Fidel, que diplomacia nenhuma justifica. Pelo meio, ficaram os “avisos” contra Bolsonaro e as graçolas a Trump. Assim de repente, fica a ideia de que o prof. Marcelo só antipatiza com estadistas eleitos. Nisso compreendo-o: alguns são de facto embaraçosos.»
Alberto Gonçalves no Observador
«Não há outra maneira de dizer isto: junto do presidente chinês, o prof. Marcelo babou-se. Não falo da baba literal, que proporcionou um pitoresco momento televisivo e, no fundo, não significa nada. O problema é a baba figurada, ou a subserviência com que o principal representante do estado português recebe um ditador, aliás adequada à própria subserviência do país ao dinheiro da ditadura em questão. Da anexação provisória do Ritz e do trânsito lisboeta à tomada definitiva da EDP, do BCP e etc., é natural notar-se quem manda e quem obedece. Mas o prof. Marcelo escusava de tornar a diferença de estatuto tão evidente. Uma coisa é a diplomacia, outra são os sorrisos escancarados, e os salamaleques tão prolongados que arriscam hérnias discais. Prolongados e recorrentes. Agora foi a China. Antes, fora Angola. E, antes ainda, a peregrinação a Cuba para a bênção de São Fidel, que diplomacia nenhuma justifica. Pelo meio, ficaram os “avisos” contra Bolsonaro e as graçolas a Trump. Assim de repente, fica a ideia de que o prof. Marcelo só antipatiza com estadistas eleitos. Nisso compreendo-o: alguns são de facto embaraçosos.»
Alberto Gonçalves no Observador
08/12/2018
O newspeak da PETA
Segundo o seu programa (versão de 1986, três anos antes da queda do muro de Berlim e do colapso da União Soviética), «o objetivo final do PCUS é construir o comunismo em nosso país (...) O comunismo é um sistema social sem classes, com uma forma de propriedade pública dos meios de produção e com plena igualdade social de todos os membros da sociedade. Sob o comunismo, o desenvolvimento integral das pessoas será acompanhado pelo crescimento das forças produtivas com base no progresso contínuo em ciência e tecnologia, todas as fontes da riqueza social fluirão abundantemente, e o grande princípio "De cada um de acordo com sua capacidade, para cada um de acordo com suas necessidades "será implementada. O comunismo é uma sociedade altamente organizada de trabalhadores livres e socialmente conscientes, uma sociedade em que se estabelecerá o autogoverno público, uma sociedade em que o trabalho pelo bem da sociedade se tornará o principal requisito vital de todos, uma necessidade claramente reconhecida.»
Tudo boas intenções que qualquer criatura ou pelo menos muitas criaturas de bem adoptariam sem problemas. Hoje, passados 30 anos do colapso da União Soviética e depois de 20 milhões de mortos só à conta de Estaline, todos podemos saber o que se passou durante sete décadas entre 1917 e 1989 e como terminou.
George Orwell no seu romance distópico 1984, publicado em 1949 e inspirado na União Soviética onde a manipulação da língua foi levada bastante longe, incluiu o seguinte diálogo a propósito da construção do newspeak, a nova língua que estava a ser criada na Oceania:
«Como está o dicionário?" disse Winston, levantando a voz para superar o barulho. "Lentamente", disse Syme. 'Eu estou nos adjectivos. É fascinante.' (...)
"A décima primeira edição é a edição definitiva", disse ele. 'Estamos a colocar a língua na sua forma final - a forma que terá quando ninguém falar mais nada. Quando terminarmos, pessoas como você terão que aprender tudo de novo. Você pensa, ouso dizer, que nosso principal trabalho é inventar novas palavras. Mas não é nada disso! Estamos destruindo palavras - dezenas delas, centenas delas, todos os dias. Estamos cortando a língua até o osso. A décima primeira edição não conterá uma única palavra que se torne obsoleta antes do ano de 2050. ' »
Segundo a sua auto-proclamada missão, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), «concentra a sua atenção nas quatro áreas em que os maiores números de animais sofrem mais intensamente por períodos mais longos: em laboratórios, na indústria alimentícia, no comércio de vestuário e na indústria do entretenimento.» Com esse propósito, «a PETA trabalha com educação pública, investigações de crueldade, pesquisa, resgate de animais, legislação, eventos especiais, envolvimento de celebridades e campanhas de protesto.»
Tudo boas intenções que qualquer criatura de bem adoptaria sem problemas. Para melhor atingir os seus propósitos, a PETA ainda não está a criar uma nova língua mas já está a criar a sua Anti-Speciesist Language». Por exemplo, em vez de «matar dois coelhos com uma só cajadada» a PETA pretende que se diga «alimentar dois coelhos com uma só cenoura» - ver outros exemplos aqui.
Não estou a sugerir que a PETA nos pretende internar num Gulag, estou a inferir que todas as doutrinas totalitárias de pensamento único pretendem educar o povo ignaro usando a linguagem para manipular o pensamento.
Tudo boas intenções que qualquer criatura ou pelo menos muitas criaturas de bem adoptariam sem problemas. Hoje, passados 30 anos do colapso da União Soviética e depois de 20 milhões de mortos só à conta de Estaline, todos podemos saber o que se passou durante sete décadas entre 1917 e 1989 e como terminou.
George Orwell no seu romance distópico 1984, publicado em 1949 e inspirado na União Soviética onde a manipulação da língua foi levada bastante longe, incluiu o seguinte diálogo a propósito da construção do newspeak, a nova língua que estava a ser criada na Oceania:
«Como está o dicionário?" disse Winston, levantando a voz para superar o barulho. "Lentamente", disse Syme. 'Eu estou nos adjectivos. É fascinante.' (...)
"A décima primeira edição é a edição definitiva", disse ele. 'Estamos a colocar a língua na sua forma final - a forma que terá quando ninguém falar mais nada. Quando terminarmos, pessoas como você terão que aprender tudo de novo. Você pensa, ouso dizer, que nosso principal trabalho é inventar novas palavras. Mas não é nada disso! Estamos destruindo palavras - dezenas delas, centenas delas, todos os dias. Estamos cortando a língua até o osso. A décima primeira edição não conterá uma única palavra que se torne obsoleta antes do ano de 2050. ' »
Segundo a sua auto-proclamada missão, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), «concentra a sua atenção nas quatro áreas em que os maiores números de animais sofrem mais intensamente por períodos mais longos: em laboratórios, na indústria alimentícia, no comércio de vestuário e na indústria do entretenimento.» Com esse propósito, «a PETA trabalha com educação pública, investigações de crueldade, pesquisa, resgate de animais, legislação, eventos especiais, envolvimento de celebridades e campanhas de protesto.»
Tudo boas intenções que qualquer criatura de bem adoptaria sem problemas. Para melhor atingir os seus propósitos, a PETA ainda não está a criar uma nova língua mas já está a criar a sua Anti-Speciesist Language». Por exemplo, em vez de «matar dois coelhos com uma só cajadada» a PETA pretende que se diga «alimentar dois coelhos com uma só cenoura» - ver outros exemplos aqui.
Não estou a sugerir que a PETA nos pretende internar num Gulag, estou a inferir que todas as doutrinas totalitárias de pensamento único pretendem educar o povo ignaro usando a linguagem para manipular o pensamento.
07/12/2018
Lost in translation (313) - "Portugal é muito bom a gastar dinheiro", disse ela
«Portugal é muito bom a gastar dinheiro» disse a romena Corina Crețu, a Comissária Europeia para as Políticas Regionais, durante a conclusão do exercício de reprogramação do Portugal 2020, explicando que «Portugal foi o primeiro país que visitei porque foi o único que usou o dinheiro todo um ano antes do deadline».
Antes disso já Pedro Marques, o ministro do Planeamento, tinha demonstrado o seu orgulho por Portugal ter liderado em 2016 o ranking da União Europeia na execução dos fundos comunitários, ou seja no gastar dinheiro dos contribuintes europeus.
A plateia que assistia ao evento riu-se às gargalhadas. Sem razão, porque o que Corina Crețu disse, mais do que ter piada, é um motivo de grande orgulho para Portugal e um exemplo para os outros países.
Bem haja Corina por desta vez nos ter dispensado de sermos nós a constatar que os portugueses estão no topo do mundo. Dirão os detractores, sempre críticos e insatisfeitos, que seria preferível sermos bons a ganhar dinheiro. Pois talvez fosse, mas não se pode ser bom em tudo, não é verdade?
Antes disso já Pedro Marques, o ministro do Planeamento, tinha demonstrado o seu orgulho por Portugal ter liderado em 2016 o ranking da União Europeia na execução dos fundos comunitários, ou seja no gastar dinheiro dos contribuintes europeus.
A plateia que assistia ao evento riu-se às gargalhadas. Sem razão, porque o que Corina Crețu disse, mais do que ter piada, é um motivo de grande orgulho para Portugal e um exemplo para os outros países.
Bem haja Corina por desta vez nos ter dispensado de sermos nós a constatar que os portugueses estão no topo do mundo. Dirão os detractores, sempre críticos e insatisfeitos, que seria preferível sermos bons a ganhar dinheiro. Pois talvez fosse, mas não se pode ser bom em tudo, não é verdade?
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Web Summit - as 200 mil dormidas já ninguém nos tira (5)
Uma sequela de (1), (2), (3) e (4)
Já concedi que umas dezenas de milhar de visitantes (o número de participantes deste ano foi cerca de 70 mil), vá lá, uns cento e tantos mil, que por cá apareçam para ver o show de várias luminárias incluindo o extra-programa do presidente Marcelo a agitar-se no palco, gastem umas dezenas de milhões de euros, vá lá uns cento e tantos milhões, justificando assim os 11 milhões que o governo paga com o nosso dinheiro ao Paddy.
Já concedi que umas dezenas de milhar de visitantes (o número de participantes deste ano foi cerca de 70 mil), vá lá, uns cento e tantos mil, que por cá apareçam para ver o show de várias luminárias incluindo o extra-programa do presidente Marcelo a agitar-se no palco, gastem umas dezenas de milhões de euros, vá lá uns cento e tantos milhões, justificando assim os 11 milhões que o governo paga com o nosso dinheiro ao Paddy.
No relatório sobre «Impacto Económico da Web Summit 2016-2028» do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia publicado há dias são feitas várias estimativas sobre o impacto económico e fiscal do evento até 2028. No diagrama seguinte representa-se três cenários dos impactos sobre o valor bruto da produção.
O cenário mais realista (C) está próximo das minhas especulações a olho por cento e é uma coisa, digamos, no domínio do discutível, mas fazível. Outra coisa, mais no domínio do pensamento mágico é o cenário A. Quanto aos intangíveis, que por serem intangíveis nunca ninguém os vai tanger, esses, como já aqui escrevi são insultos à inteligência.
A meio caminho entre o pensamento mágico e o insulto estão as estimativas dos efeitos totais no emprego equivalente anual que no cenário A vão desde quase 2 mil em 2016 a quase 4.700 em 2028. Basta pensar que, num evento que dura três dias, se o envolvimento médio do emprego criado pelo evento for 15 dias de trabalho, os 4.700 empregos em equivalente anual estimados para 2028 corresponderiam a quase 70 mil empregos temporários, ou seja quase 1 trabalhador por cada 1,5 participantes.
06/12/2018
A "contra-reforma" da Eurozona
Na segunda-feira o nosso Ronaldo das Finanças na sua encarnação de presidente da Eurozona anunciou ufano «At the end of a near 19h long meeting, the #Eurogroup reached a breakthrough on the backstop to bank resolution, @ESM_Press role and precautionary tools and EZ budget».
A coisa por cá foi até anunciada como «Reforma da Zona Euro». Afinal, em que consiste a reforma ou, vá lá, o breakthrough?
Segundo a edição europeia do Politico, tratou-se de «The eurozone’s counterreformation», assim descrita em síntese:
«The finance ministers went into the meeting in Brussels on Monday after marking the 20th anniversary of the euro in a jovial photo-op. But by the time they re-emerged some 18 hours later with bags under their eyes, they had managed only to grab what eurozone diplomats had long billed as “the low-hanging fruit” in the shape of the eurozone’s bailout fund, known as the European Stability Mechanism (ESM), which will serve as the financial backstop to the EU’s authority for handling failing banks.»
A coisa por cá foi até anunciada como «Reforma da Zona Euro». Afinal, em que consiste a reforma ou, vá lá, o breakthrough?
Segundo a edição europeia do Politico, tratou-se de «The eurozone’s counterreformation», assim descrita em síntese:
«The finance ministers went into the meeting in Brussels on Monday after marking the 20th anniversary of the euro in a jovial photo-op. But by the time they re-emerged some 18 hours later with bags under their eyes, they had managed only to grab what eurozone diplomats had long billed as “the low-hanging fruit” in the shape of the eurozone’s bailout fund, known as the European Stability Mechanism (ESM), which will serve as the financial backstop to the EU’s authority for handling failing banks.»
05/12/2018
ESTADO DE SÍTIO: Onde é que já vimos isto?
«Sábado passado, Paris ficou a saber em pormenor da agenda dos amarelos (com alguns vermelhos e negros misturados). A verdade é que entre 47 milhões de eleitores, os “gillets jaunes” reuniram no máximo 300.000 cidadãos no sábado 17 de Novembro. E apenas 3.000 em Paris no último sábado. Como era inevitável o movimento passou a ter um “programa” que passa pelas assembleias cidadãs (onde é que eu já ouvi isto?), pela dissolução da Assembleia Nacional e pela renúncia de Macron. Ambos eleitos há pouco mais de um ano, recorde-se.
Como os bloqueios começaram a ganhar anti-corpos (as televisões não puderam esconder a cólera dos que queriam entrar nos centros comerciais e ficaram bloqueados, para não falar dos comerciantes que viram as lojas esvaziadas e destruídas), os amarelos decidiram aterrorizar os deputados do partido de Macron, vandalizando as suas casas com insultos nas paredes, vexames públicos e ameaças ao livre trânsito entre outras medidas “democráticas”. Trata-se de um exemplo clássico das práticas totalitárias que estes vanguardismos justiceiros frequentemente adoptam. Contudo, supor-se-ia que tais atitudes seriam condenadas pelos deputados dos outros partidos. Mas não. A oposição, corajosamente, calou-se.
Está pois aberto o caminho para uma daquelas irrupções, esta sim verdadeiramente populista, que têm marcado a história francesa . Esta “jacquerie” não surpreende. Os “jacobinos”, os “poujadistas”, os “cagoulards” regressaram com coletes amarelos. Estes epifenómenos, a pretexto do direito à indignação, são na sua raiz anti-democráticos.
Ainda que alimentados por preocupações sensíveis (o aumento do custo de vida), combatem a democracia representativa em troca de uma versão de “democracia popular” que, quando não se transforma em criminalidade desorganizada (como vimos em Paris), é apenas a expressão de uma minoria que se julga esclarecida. Não nos iludamos. A luz dos coletes reflectores é sombria!»
Coletes amarelos: reflexos sombrios, Ricardo Leite Pinto no Negócios
Como os bloqueios começaram a ganhar anti-corpos (as televisões não puderam esconder a cólera dos que queriam entrar nos centros comerciais e ficaram bloqueados, para não falar dos comerciantes que viram as lojas esvaziadas e destruídas), os amarelos decidiram aterrorizar os deputados do partido de Macron, vandalizando as suas casas com insultos nas paredes, vexames públicos e ameaças ao livre trânsito entre outras medidas “democráticas”. Trata-se de um exemplo clássico das práticas totalitárias que estes vanguardismos justiceiros frequentemente adoptam. Contudo, supor-se-ia que tais atitudes seriam condenadas pelos deputados dos outros partidos. Mas não. A oposição, corajosamente, calou-se.
Está pois aberto o caminho para uma daquelas irrupções, esta sim verdadeiramente populista, que têm marcado a história francesa . Esta “jacquerie” não surpreende. Os “jacobinos”, os “poujadistas”, os “cagoulards” regressaram com coletes amarelos. Estes epifenómenos, a pretexto do direito à indignação, são na sua raiz anti-democráticos.
Ainda que alimentados por preocupações sensíveis (o aumento do custo de vida), combatem a democracia representativa em troca de uma versão de “democracia popular” que, quando não se transforma em criminalidade desorganizada (como vimos em Paris), é apenas a expressão de uma minoria que se julga esclarecida. Não nos iludamos. A luz dos coletes reflectores é sombria!»
Coletes amarelos: reflexos sombrios, Ricardo Leite Pinto no Negócios
Etiquetas:
a memória dos povos é curta,
esquerdalhada,
exception française
A defesa dos centros de decisão nacional (27) - Na iminência de um grande salto em frente
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25) e (26)]
Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
Com a visita em curso do presidente vitalício da República Popular da China Xi Jinping podemos estar à beira de um grande salto em frente (Dà yuèjìn). O presidente Marcelo com o seu talento para as declarações gongóricas vai mais longe e declara ao canal de televisão chinês internacional CGTN que a «Nova Rota da Seda» ou «Uma Faixa, Uma Rota» «podia atravessar Portugal, entrando num dos nossos principais portos».
Por agora, o camarada presidente Xi está mais inclinado para ser pragmático, o que traduzido em português corrente deve querer dizer aproveitar a inclinação portuguesa para o trespasse dos activos que ainda nos restam.
Quem não tem dúvidas sobre o caminho da Nova Rota da Seda atravessar a jangada de pedra é o presidente do Fórum Luso-Asiático que fala entusiasmado dos «portos de Leixões e Sines (que) podem ser alternativas interessantes», da «privatização total ou parcial da CP», de «investimentos tripartidos (...) não só em África, como também na América Latina». Tudo isto, acrescenta, «coloca problemas políticos delicados à União Europeia (sobretudo) num quadro de reemergência do poder russo e da aproximação entre Xi e Putin».
E, acrescento eu, coloca problemas de controlo de activos estratégicos por um poder autocrático de uma potência em expansão agressiva, adversária da aliança a que Portugal pertence, o que é não coisa que se resolva com os afectos do Ti Célinho e as vacas voadoras de Costa.
Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
Com a visita em curso do presidente vitalício da República Popular da China Xi Jinping podemos estar à beira de um grande salto em frente (Dà yuèjìn). O presidente Marcelo com o seu talento para as declarações gongóricas vai mais longe e declara ao canal de televisão chinês internacional CGTN que a «Nova Rota da Seda» ou «Uma Faixa, Uma Rota» «podia atravessar Portugal, entrando num dos nossos principais portos».
Por agora, o camarada presidente Xi está mais inclinado para ser pragmático, o que traduzido em português corrente deve querer dizer aproveitar a inclinação portuguesa para o trespasse dos activos que ainda nos restam.
Quem não tem dúvidas sobre o caminho da Nova Rota da Seda atravessar a jangada de pedra é o presidente do Fórum Luso-Asiático que fala entusiasmado dos «portos de Leixões e Sines (que) podem ser alternativas interessantes», da «privatização total ou parcial da CP», de «investimentos tripartidos (...) não só em África, como também na América Latina». Tudo isto, acrescenta, «coloca problemas políticos delicados à União Europeia (sobretudo) num quadro de reemergência do poder russo e da aproximação entre Xi e Putin».
E, acrescento eu, coloca problemas de controlo de activos estratégicos por um poder autocrático de uma potência em expansão agressiva, adversária da aliança a que Portugal pertence, o que é não coisa que se resolva com os afectos do Ti Célinho e as vacas voadoras de Costa.
04/12/2018
Uma espécie de doutrina Somoza simétrica
Na sua coluna habitual do Expresso Diário o ex-comunista, ex-Plataforma de Esquerda, ex-Política XXI, ex-bloquista, ex-Livre, ex-Tempo de Avançar e jornalista de causas / militante / comentador / analista Daniel Oliveira escreveu no contexto [X]:
«A tentativa de circunscrever [Y] a um movimento de extrema-direita não é inocente. [A] quer manter todos os democratas como reféns: ou ele ou [B].»Adivinhe qual o contexto [X], o evento [Y] e os nomes [A] e [B] a que Oliveira se refere:
[X] = eleições no Brasil / eleições nos Estados Unidos / manifestações em França
[Y] = o apoio a Bolsonaro / a vitória de Trump / a contestação dos coletes amarelos
[A] = Fernando Haddad / Hillary Clinton / Emmanuel Macron
[B] = Jair Bolsonaro / Donald Trump / Marine Le Pen.
Se em poucas palavras a doutrina Somoza consiste em considerar «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch», a doutrina Somoza simétrica consistirá em considerar «ele não é nosso filho, por isso ele é um filho da puta».
Etiquetas:
artigo defunto,
dois pesos,
doutrina Somoza,
esquerdalhada,
jornalismo de causas
ESTÓRIA E MORAL: From startup to finish down
Estória
«Foi considerada “Startup do Ano” pela Microsoft Portugal em 2017, mas em 2018 fechou — falida, praticamente sem vendas e sem produto e a dever perto de 1 milhão de euros a 32 credores.»
Como tudo começou:
«Quando os quatro amigos se juntaram em 2014 para lançar a CoolFarm, a ideia era criarem uma app que conseguisse controlar plantas à distância, através de um toque no telemóvel. Mas, depois de terem participado no programa de aceleração de startups da Beta-i, o Lisbon Challenge, em 2015, alteraram o modelo de negócio: em vez de desenvolverem uma solução direcionada ao consumidor final, optaram por direcioná-la às empresas e transformaram a app num sistema de controlo — igualmente à distância — para estufas.»
Como tudo acabou:
«... a 20 de setembro de 2018, uma “inesperada redução” do incentivo europeu que a empresa “tinha a legítima expectativa de receber” precipitou o fim: “por ordem do IAPMEI” foi creditada na conta bancária da CoolFarm 18.923,40 euros oriundos do programa Portugal2020, ao invés dos 402 mil euros que a startup “esperava receber”. “Esta inesperada redução do incentivo veio tornar inviável o plano de reestruturação da empresa”, argumentam os fundadores.»
[Observador]
Moral
Tal como «o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros», os negócios inviáveis duram até acabar o dinheiro dos subsídios.
«Foi considerada “Startup do Ano” pela Microsoft Portugal em 2017, mas em 2018 fechou — falida, praticamente sem vendas e sem produto e a dever perto de 1 milhão de euros a 32 credores.»
Como tudo começou:
«Quando os quatro amigos se juntaram em 2014 para lançar a CoolFarm, a ideia era criarem uma app que conseguisse controlar plantas à distância, através de um toque no telemóvel. Mas, depois de terem participado no programa de aceleração de startups da Beta-i, o Lisbon Challenge, em 2015, alteraram o modelo de negócio: em vez de desenvolverem uma solução direcionada ao consumidor final, optaram por direcioná-la às empresas e transformaram a app num sistema de controlo — igualmente à distância — para estufas.»
Como tudo acabou:
«... a 20 de setembro de 2018, uma “inesperada redução” do incentivo europeu que a empresa “tinha a legítima expectativa de receber” precipitou o fim: “por ordem do IAPMEI” foi creditada na conta bancária da CoolFarm 18.923,40 euros oriundos do programa Portugal2020, ao invés dos 402 mil euros que a startup “esperava receber”. “Esta inesperada redução do incentivo veio tornar inviável o plano de reestruturação da empresa”, argumentam os fundadores.»
[Observador]
Moral
Tal como «o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros», os negócios inviáveis duram até acabar o dinheiro dos subsídios.
03/12/2018
SERVIÇO PÚBLICO: «Apoio do Estado aos jornais? Não, obrigado»
«Os jornais, os meios de comunicação social em geral, devem valer por si, pela sua qualidade, e devem depender, em primeiro lugar, dos acionistas privados que investem o seu capital, da qualidade do seu jornalismo, dos seus leitores e das receitas, sejam de subscrição, seja de publicidade nas suas várias formas, que daí resultam. E arrisco dizer o seguinte: Há muitos anos que a comunicação social portuguesa não tinha o pluralismo e as alternativas que tem hoje, mais opções para os leitores, e em muitos casos mesmo melhor jornalismo do que o que se fazia.»
António Costa (o jornalista, não o político, claro) no Eco
António Costa (o jornalista, não o político, claro) no Eco
Etiquetas:
bons exemplos,
eu diria mesmo mais
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (164)
Outras avarias da geringonça e do país.
Esclarecimento: nestas crónicas não se pretende anunciar uma recessão da economia portuguesa que é coisa que não carece de ser anunciada - sabe-se de ciência certa que acabará por chegar. Nestas crónicas vai-se constatando que, graças à falta de reformas, à engorda do Estado Sucial para alojar a freguesia eleitoral e à incúria do governo socialista de Costa, Portugal não está preparado para enfrentar a próxima recessão de onde um quarto resgate é uma consequência possível e, pior de tudo, está mal preparado para crescer sustentadamente no futuro.
É sabido que não foi este governo em concreto que mandou a Caixa emprestar 280 milhões a Joe Berardo para ele comprar em 2007 acções do BCP, abrindo caminho ao controlo pelo governo socialista de Sócrates que colocou no BCP os seus homens de mão: Santos Ferreira e Armando Vara, entre outros. Empréstimo irrecuperável garantido com as próprias acções do BCP que hoje valem uma fracção do que valiam nessa época. Por coincidência, nos dois governos de José Sócrates encontraram-se membros do actual governo, como Costa, Santos Silva e Vieira da Silva, para só citar ministros.
Esclarecimento: nestas crónicas não se pretende anunciar uma recessão da economia portuguesa que é coisa que não carece de ser anunciada - sabe-se de ciência certa que acabará por chegar. Nestas crónicas vai-se constatando que, graças à falta de reformas, à engorda do Estado Sucial para alojar a freguesia eleitoral e à incúria do governo socialista de Costa, Portugal não está preparado para enfrentar a próxima recessão de onde um quarto resgate é uma consequência possível e, pior de tudo, está mal preparado para crescer sustentadamente no futuro.
É sabido que não foi este governo em concreto que mandou a Caixa emprestar 280 milhões a Joe Berardo para ele comprar em 2007 acções do BCP, abrindo caminho ao controlo pelo governo socialista de Sócrates que colocou no BCP os seus homens de mão: Santos Ferreira e Armando Vara, entre outros. Empréstimo irrecuperável garantido com as próprias acções do BCP que hoje valem uma fracção do que valiam nessa época. Por coincidência, nos dois governos de José Sócrates encontraram-se membros do actual governo, como Costa, Santos Silva e Vieira da Silva, para só citar ministros.
02/12/2018
DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia
«Hoje entende-se que educar é violar a liberdade do ignorante.»
Jorge Calado na sua coluna semanal A Tabela Periódica na Revista do Expresso
Jorge Calado na sua coluna semanal A Tabela Periódica na Revista do Expresso
Um Rio cada vez mais parecido com um socialista
Pelo seu ideário, Rui Rio sempre se confundiu com um socialista tresmalhado. Distinguia-se dos socialistas vulgares de Lineu, que costumam ter muito jogo de cintura no que chamam ética republicana, quase só pela sua ética agressivamente declarada.
Até aqui o próprio Rio só fora salpicado por nomeações de gente duvidosa, mas ontem o Expresso noticiou que «uma troca de mensagens entre juristas da Câmara do Porto e um consultor externo da autarquia, a 14 de julho de 2009, indicia que Rui Rio deu luz verde para construir na escarpa da Arrábida (contrariando uma decisão do seu executivo com sete anos) como contrapartida para encerrar de vez os processos judiciais de empresas que tinham sido expropriadas de direitos de construção no Parque da Cidade.»
A confirmar-se, Rui Rio passa a outro patamar e confunde-se sem remissão com um socialista encartado.
01/12/2018
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (67) - Dando ao trivial as honras de assuntos de Estado e aos assuntos de Estado a importância das trivialidades
Outras preces
Há uma diferença entre o transporte por carroças e o jornalismo? Na verdade as carroças não são indispensáveis à democracia mas a democracia não vive sem jornalismo livre e independente. É também por isso que a nossa é uma democracia asmática porque o jornalismo que temos dificilmente se pode classificar como livre e independente e padece frequentemente dos mesmos males que os jornalistas de causas apontam às redes sociais.
É raro o dia em que não tenha razões para me felicitar por não ter votado no candidato Marcelo Rebelo de Sousa (engoliria o sapo na segunda volta, como os comunistas a quem Cunhal mandou votar em Soares). Esta semana não foi excepção. Dos vários episódios, vou citar apenas dois.
O primeiro é típico da verborreia marcelista e da sua imanente incapacidade de ter uma «pose de Estado», para usar uma expressão ridícula, e de conter a sua obsessão de se mostra conhecedor e influente. Qual o propósito de comentar uma suposta «gravação mas que lhe tinham dito que era violenta e horrorosa», que circula «a nível de Estados» e «ninguém em Portugal teve acesso ao vídeo ou o viu» sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, gravação de que lhe falou «um político importante»? Depois de quase dois anos ainda não percebeu a diferença entre ser comentador topa-a-tudo e fazer de presidente da República?
O segundo episódio ilustra a dificuldade de Marcelo distinguir a relevância das coisas dando ao trivial as honras de assuntos de Estado e aos assuntos de Estado a importância das trivialidades. Foi isso que fez a propósito da incapacidade de uma parte dos mídia responderem aos novos desafios da emergência do digital e das redes sociais, incapacidade a que chamam crise da comunicação social, com a mesma lógica com que os carroceiros do início do século passado chamariam crise dos transportes à emergência do automóvel.
Sua Excelência a esse propósito declarou que existe uma «situação de emergência da comunicação social em Portugal (que) de, ano para ano, vai sendo cada vez mais grave (e está) a criar problemas já democráticos, problemas de regime», interrogando-se «até que ponto o Estado não tem a obrigação de intervir?» Só faltou recomendar ao governo socialista de Costa que pagasse com o dinheiro dos contribuintes os jornais que estes não compram. Sugestão que Costa aceitaria de bom grado e teria a virtualidade de converter a totalidade dos mídia, e não apenas uma parte importante, em caixa de ressonância do governo.
Há uma diferença entre o transporte por carroças e o jornalismo? Na verdade as carroças não são indispensáveis à democracia mas a democracia não vive sem jornalismo livre e independente. É também por isso que a nossa é uma democracia asmática porque o jornalismo que temos dificilmente se pode classificar como livre e independente e padece frequentemente dos mesmos males que os jornalistas de causas apontam às redes sociais.
CASE STUDY: Um imenso Portugal (49) - Exortação de uma jornalista brasileira aos jornalistas que ficaram encalhados no anti-fascismo de fancaria
«O bolsonarismo e a nova direita fizeram 52 deputados federais e emergiram com uma força imprevista, mas ainda não os conhecemos muito bem e nem entendemos a dinâmica entre eles.
Há algumas explicações para esse “branco” que atingiu as redações brasileiras. Não discordo que os jornalistas sejam um contingente predominantemente de esquerda ou de centro, e não descarto que a ideologia possa ter minado a cobertura das eleições. É verdade também que o jornalismo tem sido progressivamente contaminado pelo ambiente polarizado das redes sociais e vem transformando opinião em commodity – fazendo parecer necessário todo mundo dar opinião sobre tudo, e gerando uma confusão entre o espaço da opinião e o da informação. Mas, para mim, a principal razão para explicar o que se passou na cobertura das eleições tem a ver com o caráter disruptivo da candidatura Bolsonaro. Nas últimas duas décadas, o jornalismo nacional se acostumou a transitar no ambiente da social-democracia. O jornalismo político mainstream é um integrante ativo do sistema político, e subestimou as chances de vitória de Bolsonaro da mesma forma que todo o sistema. Depois de tantos anos vendo os sociais-democratas petistas e tucanos se alternarem no poder, os jornalistas passaram a se comportar como se o “sistema” fosse invencível, e nem mesmo a onda direitista que vem varrendo algumas partes do mundo nos fez duvidar dessa premissa. Pela mesma razão, subestimamos as redes sociais como arena política, e deixamos de cobri-la como tal. O fato é que Bolsonaro não pode mais ser encarado como esdrúxulo e absurdo. Ele é a nova realidade do poder e assim tem de ser compreendido. (...)
Creio que aí temos um norte. Há um mundo a desbravar, que vem se movimentando há tempos sem que tivéssemos nos dado ao trabalho de investigá-lo com rigor e abrangência. Há uma nova ordem política emergindo, por força das urnas, e o jornalismo não pode mais perder tempo se escandalizando com ele. Que a esquerda esteja perdida ou em crise de identidade é compreensível e natural. Mas o jornalismo profissional não tem (ou não deveria ter) nada a ver com isso. O trabalho diante de nós é gigantesco, e tem de começar com uma reflexão sobre os vacilos, os pré-julgamentos, os erros e a (auto)complacência que turvaram a nossa visão nos últimos tempos. Só assim poderemos aprender com o que aconteceu e não mais deixar a história desfilar na nossa frente como se fosse um vídeo bizarro do YouTube.»
Excerto de Hora de acordar - Um caminho para cobrir o governo Bolsonaro, um lúcido artigo da jornalista Malu Gaspar no piauí da Folha de S. Paulo
Há algumas explicações para esse “branco” que atingiu as redações brasileiras. Não discordo que os jornalistas sejam um contingente predominantemente de esquerda ou de centro, e não descarto que a ideologia possa ter minado a cobertura das eleições. É verdade também que o jornalismo tem sido progressivamente contaminado pelo ambiente polarizado das redes sociais e vem transformando opinião em commodity – fazendo parecer necessário todo mundo dar opinião sobre tudo, e gerando uma confusão entre o espaço da opinião e o da informação. Mas, para mim, a principal razão para explicar o que se passou na cobertura das eleições tem a ver com o caráter disruptivo da candidatura Bolsonaro. Nas últimas duas décadas, o jornalismo nacional se acostumou a transitar no ambiente da social-democracia. O jornalismo político mainstream é um integrante ativo do sistema político, e subestimou as chances de vitória de Bolsonaro da mesma forma que todo o sistema. Depois de tantos anos vendo os sociais-democratas petistas e tucanos se alternarem no poder, os jornalistas passaram a se comportar como se o “sistema” fosse invencível, e nem mesmo a onda direitista que vem varrendo algumas partes do mundo nos fez duvidar dessa premissa. Pela mesma razão, subestimamos as redes sociais como arena política, e deixamos de cobri-la como tal. O fato é que Bolsonaro não pode mais ser encarado como esdrúxulo e absurdo. Ele é a nova realidade do poder e assim tem de ser compreendido. (...)
Creio que aí temos um norte. Há um mundo a desbravar, que vem se movimentando há tempos sem que tivéssemos nos dado ao trabalho de investigá-lo com rigor e abrangência. Há uma nova ordem política emergindo, por força das urnas, e o jornalismo não pode mais perder tempo se escandalizando com ele. Que a esquerda esteja perdida ou em crise de identidade é compreensível e natural. Mas o jornalismo profissional não tem (ou não deveria ter) nada a ver com isso. O trabalho diante de nós é gigantesco, e tem de começar com uma reflexão sobre os vacilos, os pré-julgamentos, os erros e a (auto)complacência que turvaram a nossa visão nos últimos tempos. Só assim poderemos aprender com o que aconteceu e não mais deixar a história desfilar na nossa frente como se fosse um vídeo bizarro do YouTube.»
Excerto de Hora de acordar - Um caminho para cobrir o governo Bolsonaro, um lúcido artigo da jornalista Malu Gaspar no piauí da Folha de S. Paulo
Subscrever:
Mensagens (Atom)