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20/12/2018

DIÁRIO DE BORDO: Menos denúncias de abusos não significa menos abusos

O bispo do Porto considera que o fenómeno dos abusos sexuais na Igreja Católica foi «foi um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos. Na Europa aconteceu em alguns lados, aconteceu na Alemanha, mas não aconteceu com a mesma escala que consta que aconteceu nos Estados Unidos e na Austrália. O que é que se passou? Houve uma altura, nos anos 60 e 70, em que um determinado género de psicologia falava exatamente de uma aproximação, talvez demasiado íntima, afetiva, entre os mais velhos e os mais novos, até como forma de integração dos mais novos».

É factualmente verificável que as denúncias dos abusos sexuais na Igreja Católica têm sido um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos. Daí a concluir-se, como fez o bispo, que esses abusos são um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos vai uma longa distância.

Não pode percorrer-se essa distância sem considerar outros factos, como a religião católica ser minoritária nos países anglo-saxónicos face às religiões protestantes e a influência de 6 séculos da Reforma protestante que modificou as ideias e os valores dominantes e em particular as noções de verdade, culpa e responsabilidade.

Daí que as denúncias serem um fenómeno fundamentalmente de países anglo-saxónicos não significa necessariamente que nos países de influência católica dominante os abusos sexuais sejam menos frequentes. Por um lado, nestes últimos países a igreja católica tem ainda uma influência forte, ainda que em regressão, suficiente para abafar os escândalos e, por outro, nestes países há uma maior tolerância aos interditos morais, convive-se melhor com a mentira e aceita-se mais facilmente a duplicidade.

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