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26/12/2018

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um comissário para todo o serviço

Secção Albergue espanhol

Confessamos: aqui no (Im)pertinências o comissário Carlos Moedas tem vindo a provocar urticária. A primeira vez que surgiu no nosso radar em plena crise do resgate foi a descerrar uma lápide em Beja com o seu nome, a pretexto de ser lá da terra, numa escola sem alunos (um projecto do tempo de Sócrates), na qualidade de secretário de estado adjunto do primeiro-ministro.

Ainda restava alguma boa impressão na segunda vez que nos apareceu, em plena crise do resgate, como porta-voz do governo numa conferência de imprensa onde apresentou um relatório do FMI («Portugal rethinking the state—selected expenditure reform options») recheado de medidas para apertar ainda mais o cinto. Fê-lo com o ar de totó sem a mínima ideia do impacto que essas medidas iriam provocar nos portugueses a quem a esquerdalhada apresentava como uma maldade da direita as medidas negociados pelo governo de Sócrates, recorde-se. Cúmulo da patetice, referiu-se ao repositório de mais maldades da direita com «um relatório muito bem feito», como se estivesse a falar para os alunos do mestrado de finanças da Católica.

Abalada com aquela prestação de totó, a boa impressão ficou irremediavelmente comprometida quando ficámos a conhecer a gravação de uma reunião em 2 de Junho do Conselho Geral do GES, já a criatura era comissário europeu, na qual os Espírito Santo, na iminência do afundamento do grupo, eram náufragos à procura de uma jangada chamada Moedas :
«O Moedas, o Moedas! Eu punha já o Moedas a funcionar», disse José Manuel Espírito Santo Silva. Ricardo Salgado não perdeu tempo e fez de imediato a ligação telefónica para o pôr a funcionar. «Carlos, está bom? Peço desculpa por esta a chateá-lo a esta hora
O Carlos dispõe-se a falar com José de Matos da CGD e com o ministro da Justiça do Luxemburgo onde estava a iniciar-se uma investigação por fraude a várias empresas do GES. «Obrigado, Carlos, um abraço», terminou o Dono Disto Tudo.
A partir daí foi ele sempre a subir, com um pé em Bruxelas e outro em Lisboa, colando-se a Belém, dispondo de uma boa imprensa convenientemente lubrificada, aparecendo e colocando-se em bicos de pés sob qualquer pretexto em qualquer evento que por cá se realizasse, situando-se no terreno político do oportunismo a que no passado se chamava «bloco central».

Para nós foi sempre a descer. E quando pensávamos que já não desceria mais, aparece associado a um dos episódios mais lamentáveis do governo de Passos Coelho que esteve na origem da demissão de Henrique Gomes, secretário de Estado da Energia, em protesto contra uma manobra resultante do lóbi dos produtores eólicos (com a EDP à cabeça) que levou o governo a apresentar em Fevereiro de 2012 à troika uma proposta sobre as rendas da energia à margem da secretaria de Estado. Moedas está agora a ser questionado sobre o seu papel neste episódio. Perguntado pelo Expresso, em vez de negar liminarmente o seu alegado papel, Moedas «recusa dizer, para já, se interveio». (fonte: «Moedas só fala de rendas da energia no Parlamento» no Expresso de 23-12)

Por tudo isso, avaliamos a prestação de carreira de Moedas, segundo a pontuação impertinente, com quatro urracas pela frouxidão, cinco pilatos por querer colocar cartas em todos os tabuleiros e três chateaubriands por confundir a sua promoção com os deveres do cargo e o interesse do país. Ficam reservados uns ignóbeis para o caso de se confirmar o seu papel no último episódio.

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