Se não fosse o post blasfemo «Fachada», não teria reparado na choraminguice da directora do Museu Nacional de Soares dos Reis ameaçando o encerramento pela falta de pessoal.
Em Junho de 2003, ainda antes da fundação do Impertinências, escrevi num email para os meus amigos uma estória com moral com o título «a crise está instalada» que vem a propósito recordar.
Estória
O mês passado, aproveitando a ausência em Sevilha do exército dos dragões, estive uns dias na Cidade Invicta.
Entre os vários sítios por onde andei a vadiar, encontrou-se o museu "de" Soares dos Reis - o "de" é muito importante. O dito museu alberga uma colecção de pintura portuguesa e é um dos poucos lugares onde se percebe que, afinal, os portugueses também pintam.
Mas a coisa mais extraordinária que vi não foi a pintura, foi o incontável número de funcionários que enxameavam as salas em número muito superior ao dos visitantes, apesar da ocasional visita duma turma de infantes que, pastoreada por um paciente professor de desenho (agora chama-se artes visuais ou coisa assim), deambulava, de olhos vazios pendurados nos quadros e nas esculturas, pelas salas do museu.
Já me tinha esquecido de contar a estória se não fosse uma providencial jornalista da cultura chamada Nair Alexandra que, qual mãe ansiosa gemendo pelos seus rebentos, escreveu num dos numerosos cadernos do Expresso um grito de alma dedicado ao museu, a que chamou "A crise está instalada".
Por entre os gemidos de sofrimento cultural que escorrem das três colunas da Nair, fiquei a saber que faltam vigilantes e que ao fim de semana o museu corre o risco de ficar fechado. Fiquei também a saber que o director do museu se queixa da burocracia e da falta de autonomia financeira, o que no linguajar dele deve querer significar o mesmo que a "autonomia" universitária significa para os reitores - a gente manda para lá o dinheiro dos contribuintes e eles fazem dele o que quiserem.
Moral
A pessoa que sugere dividir a conta por todos é sempre a que pediu o prato mais caro (asserção de Cann - um dos milhares de corolários das Leis de Murphy).
Adendas à estória de há 2 anos:
(1) Também o Grande Loja do Queijo Limiano trata do tema da choraminguice da «falta de verba para contratar vigilantes», sugerindo que um choque tecnológico com vídeo-vigilância resolveria o problema. Resolveria se. É um se tão grande que está completamente fora do alcance deste governo. Eu diria mesmo mais, como o Dupont, o choque tecnológico se aplicado generalizadamente ao paquidérmico corpo da vaca marsupial pública tornaria redundante 1/3 dos seus utentes.
(2) Enquanto não chega o choque tecnológico aos museus, não se percebe porque cargas de água não se contratam mais uns milhares de vigilantes. Para quem já deve 93.880 milhões de euros, ou seja 66,8% do PIB, qual é o problema?
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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