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11/11/2022

Ser pobre é muito mais difícil do que ser negro ou branco, disse ele que é negro e não é pobre

Matias Damásio, um cantor negro angolano com meia dúzia de discos editados, relativamente conhecido em Portugal (não por mim, que não conhecia) onde actua regularmente, foi entrevistado pela revista Luz do jornal Nascer do Sol, e, resistindo a várias tentativas do entrevistador para se deixar vitimizar, disse algumas coisas para mim inesperadas e surpreendentes, em contracorrente do discurso predominante nos meios artísticos, para já não dizer na bolha woke, a começar pela frase que faz o título deste post: «Ser pobre é muito mais difícil do que ser negro ou branco».

«Em relação ao racismo, eu acredito que o que temos de lutar hoje é contra a discriminação social. Acho que as pessoas não detestam nem brancos nem negros. Atualmente, reparo como os ciganos são tratados e percebo que existem mais maus-tratos contra aqueles que não têm posses. Nunca tive problemas de discriminação social, talvez por aquilo que eu sou e represento. Acredito que esta deve ser a nossa luta. Não acredito. que exista alguém que não goste de outra por causa da sua cor. As pessoas gostam da Beyoncé, mas não gostam de um negro do Mali. (…)

Vejo muita discriminação tanto na parte negra como na parte branca, de forma igualitária. Já vi brancos a discriminarem brancos, já vi ciganos a serem espancados na rua. Já vi de tudo um pouco e começo a perceber que não se trata de ser mais claro ou mais escuro. Temos de começar a olhar para as pessoas como se fossem nossas. Isto é um problema social, as pessoas assistem à NBA e está repleta de negros e não existem problemas. Vão ver a Beyoncé ou o Jay-Z e não há problema nenhum. (…)

Uma pessoa até pode amar estes ídolos, mas depois discrimina um negro qualquer que mora numa região como Queluz ou Massamá, porque olha para ele e pensa logo que é um ladrão. Na minha opinião tudo isto está mais associado a uma questão económica do que propriamente à sua cor. O Eusébio é um ídolo em Portugal, num clube que é o Benfica, que é o maior clube deste país, e não digo isto por ser benfiquista. O Pelé é o que é no Brasil, e assim sucessivamente. As pessoas são mais valorizadas por aquilo que têm, pela roupa com que andam, quando deviam ser valorizadas pelo seu conhecimento e proximidade. O racismo, praticamente, acabou, o que hoje existe é discriminação social. As pessoas não gostam «daquele grupo de negros». Vou dar um exemplo: Passei muito tempo no Brasil e, quando estava em discotecas e apareciam os negros americanos, os «gringos» , havia abraços e era uma grande festa! Mas quando vinham os negros da favela estes eram barrados e não conseguiam entrar. (…)

A grande discussão hoje não deve ser sobre o racismo, mas sim sobre a discriminação social. Costumo dizer na brincadeira que, apesar de ser cigano, o Ricardo Quaresma deixou de ser cigano, ficou apenas «Quaresma» porque é jogador de futebol. (…)

Nós estamos distraídos, a discriminação social é muito mais grave do que qualquer outro tipo de discriminação porque é dirigida a grupos. Isto é algo que temos de debater e que tem de acabar. em que as pessoas se fazem de vítimas e que querem justificar que não foram a determinado lugar porque são negros. Acho que é preciso ter cuidado com esse tipo de linguagens porque há negros que conseguiram chegar a esses lugares com mérito

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