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10/11/2022

O "Corredor verde" do Dr. Costa explicado às criancinhas

O economista e engenheiro Mira Amaral, que, suspeito, em apenas dois dos seus neurónios tem mais know-how nestas matérias do que têm no interior dos seus crânios os Drs. Duarte Cordeiro e João Galamba, respectivamente ministro e secretário de Estado do agora pomposamente chamado ministério do Ambiente e da Ação Climática, autopsiou a semana passada no Expresso a produção de ficção "Corredor Verde" do Dr. Costa, saída da cimeira com M Macron e el Señor Sanchéz. Aqui vai o excerto mais relevante a este respeito. 

«Na recente cimeira entre Macron, Costa e Sánchez as interligações gasistas foram embrulhadas no conceito dos corredores verdes para gases renováveis da taxonomia financeira da União Europeia…

Macron ofereceu em troca ao MidCat um novo gasoduto marítimo de Barcelona a Marselha, útil para os terminais espanhóis, designadamente Barcelona. O nosso primeiro-ministro, reputado especialista em marketing energético, deixou então cair o gasoduto Sines-Alemanha, tendo eu e outros especialistas demonstrado que Sines não era competitivo em relação aos terminais espanhóis para fornecer gás natural (GN) à Alemanha, e vendeu-nos a terceira interligação gasista Portugal-Espanha, orçada em €300 milhões, para através dela exportarmos hidrogénio verde para a Europa. A REN tinha há muito esse projeto, sendo o problema para a empresa simples: desde que o regulador aceite, as amortizações do investimento são custos elegíveis para a tarifa de transporte e os consumidores portugueses de GN irão pagar o investimento caso a ­União Europeia não o financie. Ora, a exportação desse hidrogénio de Portugal para a Europa é prematura porque: esse hidrogénio está numa fase de projetos-piloto e não numa fase madura que justifique investimentos significativos em infraestruturas de transporte; no estado atual da tecnologia, mais vale transportar a energia sob a forma de eletricidade e produzir o hidrogénio localmente com essa eletricidade; não vale a pena pagar o sobrecusto de construir os tubos nessa nova ligação preparados para o hidrogénio, pois que a restante tubagem dos gasodutos em Portugal e Espanha não está preparada para tal. E, segundo o Governo, o GN estará em phasing out, pelo que também não se justifica para o transporte de GN.»

O "Corredor Verde" do Dr. Costa não passa, pois, de uma cortina de fumaça para esconder a cedência do par ibérico aos interesses da França que, por um lado, já dispõe de infraestruturas para a importação de LNG e, por outro, aspira ser um fornecedor europeu ainda maior de electricidade de origem nuclear e não está interessada na concorrência da electricidade das energias renováveis ibéricas.

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