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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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19/11/2022

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (100) - Os portugueses não apreciam a liberdade. Em consequência, a maioria detesta o capitalismo

Não por acaso, o pensamento desde há muito em curso aqui no (Im)pertinências de António Alçada Baptista reza assim:  

«Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» 

Ora sendo os mercados e o capitalismo essencialmente a democracia liberal e as suas instituições a funcionarem na economia, é certamente natural que a falta de gosto dos portugueses pelas liberdades - visível pelas quase cinco décadas do Estado Novo, pela sobrevivência de um dos apenas seis partidos comunistas europeus com representação parlamentar, pelo peso dos partidos hostis à democracia liberal (maioritários se incluirmos os que apenas a toleram) - se traduza em desapego, na melhor hipótese, ou rejeição do capitalismo, na hipótese mais frequente.

Por isso, não deveriam surpreender os resultados dos inquéritos de opinião que Rainer Zitelmann incluiu no seu livro «Em Defesa do Capitalismo», recentemente publicado em português pela Aletheia, resultados que em relação a Portugal foram citados no artigo do Observador «O que pensam as pessoas em Portugal a respeito do Capitalismo?»

Esses resultados dão-nos um retrato à la minute do anticapitalismo dominante no Portugal dos Pequeninos, onde ressaltam os seguintes traços:

  • 40% entendem que deve ser o Estado a fixar preços e salários 
  • 79% associam ao capitalismo ganância e 75% corrupção
  • As apreciações positivas sobre o capitalismo são partilhadas por uma pequena maioria entre 10% e 20%.
Um optimista tenderá a concluir que a ideia negativa do capitalismo dominante na sociedade portuguesa resulta de os portugueses só terem experimentado até agora um capitalismo paternalista, subalterno e periférico com aversão à concorrência e ainda contaminado pelo corporativismo. É possível, mas conhecendo-se a história portuguesa dos últimos séculos fará pouco sentido apostar todas as fichas nisso.

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