Na minha perspectiva quais são as duas grandes tramas que este relatório bem mostrar? Primeiro, que toda esta operação do Novo Banco desde 2014 é uma operação que está suportada em pseudo trabalho técnico por parte de sociedades de advogados famosas de Lisboa que custaram muitos milhões, não é centenas, é muitos milhões de euros, ao BdP e a outras instituições e o que isto veio demonstrar é que todo esse tecnicismo afinal é amador e achista, ou seja não existe, esse tecnicismo não existe. Pagámos milhões por um tecnicismo que não existe.
Segundo, vem confirmar suspeitas que todos já tínhamos de que nada do que é feito desde 2014 é por ordem do banco central. A desculpa de que é o Eurosystem e de que é o banco central, esses malvados em Frankfurt, que mandam o BdP fazer é o contrário. O banco central simplesmente fecha os olhos, não quer saber, dada a pequeníssima dimensão que isto tem na Europa e permite ao regulador português fazer o que quiser. O banco central limita-se a proteger as costas do regulador português. E, portanto, a responsabilidade é inteiramente dos reguladores portugueses, não é do banco central, não é de Frankfurt, não é desses malvados que estão lá longe e isso leva-me à última consideração que é mais grave de todas
É que nada disto têm consequências, nem consequências técnicas nem regulatórias, nada aconteceu nos reguladores, aliás acresce aqui uma vertente gravíssima mas continuamos a escamotear, que é obviamente o BdP que tem neste momento um conflito de interesses monumental porque o governador do BdP é ele directamente visado neste relatório e ele próprio vem dizer, a instituição dele vem dizer, que o relatório é uma porcaria, não interessa. A última pessoa que pode falar disto é Mário Centeno, porque é obviamente visado neste relatório. Como é que Mário Centeno e o BdP vêm opinar sobre o relatório? Não há consequências técnico-regulatórias nenhumas e não há consequências políticas e quando digo consequências políticas não estou só a dizer que haja consequências em termos da natureza dos titulares de cargos políticos, quero dizer os eleitores não querem saber disto para nada, vão pagar, vão pagar muito por isto e não há consequências políticas.»
Nuno Garoupa, professor de Direito na Universidade George Mason, Washington, numa intervenção no programa "Pensamento Crítico" do Jornal Económico [transcrição por reconhecimento de voz]
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