«É um dos piores sinais de evolução de um povo e das suas elites: colaborar na sua própria opressão. O despotismo nacional que sempre espreita e a falta de tradição democrática e liberal ajudam a explicar esta vontade de impor uma virtude, de regular a opinião, de filtrar crenças e de certificar convicções. Há, entre nós, muita gente que espera que o Estado (de direita ou de esquerda) se ocupe das consciências e da moral pública. Para bem de todos, com certeza.
Previsivelmente, esta lei presta atenção a todos os novos direitos, novos clientes e novos públicos, aos fracos e vulneráveis, às questões de género e de raça, a tudo quanto está na moda. E sobretudo à verdade e à virtude. Muito bem. Outros já fizeram o mesmo. Por exemplo, o famoso artigo 8º da Constituição de 1933, do Estado Novo de Salazar, dizia que “a liberdade de expressão do pensamento sob qualquer forma (…) é um direito e uma garantia individual do cidadão”. Mas também dizia que “leis especiais regularão o exercício da liberdade de expressão do pensamento (…) devendo prevenir preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública na sua função de força social e salvaguardar a integridade moral dos cidadãos”. (...)
Salazar não faria melhor! Salazar não fez melhor! Polacos, Húngaros e Turcos não fariam melhor! Fascistas e comunistas não fariam melhor. Porquê? Porque agora utiliza-se a democracia para fazer as mesmas coisas. Usa-se a democracia para fazer o serviço sujo. Recorre-se à democracia para manipular, orientar e proibir. Emprega-se a democracia para favorecer e privilegiar. Utilizam-se todos os meios e recursos democráticos para limitar, condicionar, espiar e vigiar!»
Nota: Ao contrário do que se pretendeu insinuar sub-repticiamente com as abundantes referências a iniciativas legislativas europeias e internacionais no projecto de lei de aprovação da Carta de Direitos Fundamentais na Era Digital apresentado pelo Partido Socialista, o atentado à liberdade de expressão agora aprovado não resulta de qualquer directiva europeia ou internacional. Pelo contrário, essas iniciativas internacionais visam não o controlo dos conteúdos pelos governos, como a lei agora aprovada, mas garantir a protecção dos dados individuais, o acesso à internet e... a livre expressão.
1 comentário:
«o atentado à liberdade de expressão agora aprovado não resulta de qualquer directiva europeia ou internacional»
Não resulta de uma directiva, mas é claramente influenciada pelos relatórios de vários grupos de trabalhado ligados ou à UE, ou pior, ao tenebroso Conselho da Europa.
Por exemplo, o Plano de Acção Contra o Racismo 2020-2025 diz muito claramente na página 18:
«Um dos objectivos da desinformação pode ser visar as minorias em particular e fomentar a agitação social em geral. A pandemia de COVID-19 forneceu muitos exemplos disso. O trabalho do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais no sentido de apoiar os verificadores de factos e os investigadores na luta contra a desinformação centrar-se-á especificamente na desinformação e nas conspirações que visam as comunidades minoritárias. Neutralizar as narrativas de discriminação racial que se propagam através da desinformação também é uma parte importante das campanha de literacia mediática. Os projectos de literacia mediática para todos apoiam estes objectivos. Este trabalho será desenvolvido no próximo Plano de Acção para a democracia europeia e no plano de acção para os meios de comunicação social e audiovisual.»
https://ec.europa.eu/info/sites/default/files/a_union_of_equality_eu_action_plan_against_racism_2020_-2025_pt.pdf
Mais do que isso, a UE desenvolveu um “código de boas práticas para a desinformação em linha” que foi recentemente revisto e aumentado, e que prevê cortar o financiamento a quem divulgue desinformação:
https://www.sfgate.com/business/article/EU-beefs-up-disinformation-code-to-prevent-16203986.php
https://ec.europa.eu/newsroom/dae/document.cfm?doc_id=59123
Portanto, não, isto não foi inventado apenas pelos xuxas. O problema é que os portugueses não sabem o que se anda a fazer na Europa e nos EUA, e depois são apanhadas de surpresa quando os nossos (des)governantes, sejam xuxas ou laranjinhas, nos limitam os direitos.
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