Na sequência do post anterior sobre este tema, cito o que escreveu ontem no Expresso Diário Miguel Júdice, um dos poucos comentadores políticos que ainda se pode considerar independente, desmentindo factualmente a narrativa do governo e da comentadoria oficial:
«a) O Ministro Cabrita mentiu (talvez por ter sido mal informado) quando afirmou que o Estado era o maior credor do resort Zmar;
b) O Ministro Cabrita voltou a mentir (desta vez só pode ser sua a ideia) quando afirmou que a requisição se justificava por motivos de saúde pública, quando afinal nenhum dos imigrantes ali colocados estava infetado ou sujeito a quarentena, pois todos podiam ir trabalhar;
c) Ao contrário do que eu na minha ingenuidade pensava, soube que não foi um “chefão” local quem impediu o advogado de entrar no Zmar para contactar os seus clientes, foi o Ministro Cabrita;
d) A entrada violenta no Zmar, às 4h da manhã do dia 6 de maio, ordenada pelo MAI, ocorreu quando o Ministério da Economia estava a negociar um protocolo e fora combinada a uma reunião de negociação para esse mesmo dia;
e) A decisão de colocar imigrantes no Zmar deveu-se a uma intenção, manifestamente propagandística, de mostrar que o Governo e Presidente da Câmara socialista se preocupavam com as condições sub-humanas de habitação dos imigrantes e estavam ativamente a resolver o problema;
f) Essa estratégia é óbvia e foi uma resposta à atenção dos media procurando sacudir água do capote alentejano e responsabilidades; se assim não fosse, teriam requisitado há anos esse resort e muitos outros, pois o problema de habitações sub-humanas infelizmente existe noutros pontos do país, com imigrantes sazonais, permanentes e os mais desfavorecidos de entre os cidadãos portugueses (somos o 2º país da União Europeia com maior percentagem de pessoas a viver em casas com más condições de habitabilidade);
g) Seja como for, a requisição civil era clara e inequivocamente apenas para resposta à Covid 19, pelo que foi usada em desvio de poder (como se diz em direito administrativo) e por isso é abusiva e ilegal;
h) Os imigrantes – segundo parece - foram bem recebidos no resort e bem tratados, sem qualquer reação focada contra eles;
i) Ninguém informou os imigrantes quando foram acordados para ser deslocados a meio da noite, ninguém lhes pediu a opinião, ninguém antecipou as consequências para eles em matéria de subsistência económica e descobriu-se rapidamente que não querem estar lá, a 15 kms do local de trabalho;
j) Apenas foram instaladas 24 pessoas no Zmar e mais de metade delas saíram quase de imediato, levados por empresários das estufas e pela Câmara Municipal;
k) Também na Pousada da Juventude sobraram quartos que chegavam para todos e, segundo me foi dito, pelo menos alguns deles nem sequer estavam em quarentena, quanto mais infetados, e foram trabalhar.»
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