Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/04/2022

Tentando compreender o racional da clique putinesca ao decidir invadir a Ucrânia (3)

Continuação (1) e  (2)

«O resultado‎‎ da guerra da Rússia na Ucrânia permanece em dúvida. Mas não há dúvida de que a decisão de Vladimir Putin de lançar uma invasão em larga escala é uma das piores decisões estratégicas que qualquer líder de um país poderoso tomou em décadas. Não há um resultado plausível na Ucrânia que não deixe o senhor Putin e a Rússia muito piores do que antes de 24 de Fevereiro, quando a guerra começou.‎

O senhor ‎Putin custou ao seu país a vida de milhares de jovens soldados, alguns deles recrutas. Ele afirma que russos e ucranianos são "um só povo", mas sua guerra deu à Ucrânia um senso mais forte de identidade nacional do que nunca e a transformou no inimigo amargo da Rússia. Ele mostrou ao mundo que seu exército é ineficaz, e que bilhões de dólares gastos na modernização militar russa foram desperdiçados. Ele deu à NATO um senso de unidade e propósito que não tem há décadas e não-membros como a Finlândia e a Suécia novas razões para aderir. As suas ações levaram membros, incluindo a Alemanha, a aumentar os gastos com defesa. Outros enviaram tropas perto da fronteira com a Rússia. O senhor Putin convenceu a Europa de que deve parar de comprar as exportações mais valiosas da Rússia. Ele trouxe sanções e controles de exportação ao seu país que infligirão danos geracionais. Para a Europa e a América ele cruzou o Rubicão. Mais gravemente, ele falhou em preparar o público russo para os verdadeiros custos humanos, financeiros e materiais de sua "operação militar especial".‎ (...)

‎‎Ao recusar-se a rebater a dissidência dentro da Rússia, o senhor Putin fez orelhas moucas a avisos importantes e convenceu aqueles ao seu redor de que sua segurança pessoal e prosperidade dependem da lealdade a ele e à sua versão da verdade. Um pequeno, mas importante exemplo: o senhor Putin disse durante os primeiros dias do conflito que "soldados recrutados não estão e não estarão envolvidos em operações de combate". Essa afirmação rapidamente se mostrou falsa. Há três explicações possíveis para isso, e todas prejudicariam o presidente russo. A primeira é que o Senhor Putin mentiu ao povo russo sobre algo que ele deveria saber que não seria capaz de esconder. Segundo, os generais russos mentiram-lhe. Terceiro e, francamente, mais provável: a desinformação atingiu todos os níveis militares da Rússia, e os oficiais superiores não estão cientes do que está acontecendo na cadeia de comando. Mas seja qual for o caso, todas essas explicações minam a credibilidade do senhor Putin, tanto no país quanto no exterior, e comprometem a eficácia das forças armadas russas nos próximos anos.‎ (...)

‎As esperanças ocidentais de que os generais da Rússia, as suas forças de segurança, os seus oligarcas ou seu povo em breve removam o Senhor  Putin do poder provavelmente serão em vão. Os altos preços do petróleo manterão a economia russa à tona por algum tempo, mesmo que os danos a longo prazo à economia russa causados por sanções e controles de exportação sejam severos. Dado o clima político, é impossível saber o verdadeiro estado da opinião pública russa, mas não há evidências de que o senhor Putin enfrente qualquer sério desafio doméstico. O povo russo vê as imagens de guerra que o seu governo quer que eles vejam, e agora estão sendo alimentados com uma dieta constante de atrocidades ucranianas, planos ocidentais para humilhar a Rússia e a determinação de seu presidente e soldados para defender sua pátria.‎

‎Em suma, o senhor Putin, os soldados russos e ucranianos e os líderes ocidentais não devem esperar o tipo de vitória limpa que qualquer um deles deseja. Em vez disso, uma guerra feia está prestes a ficar muito mais feia‎.»

The cost of the war to Vladimir Putin, Ian Arthur Bremmer, cientista político americano especialista no risco político global 

5 comentários:

Anónimo disse...

Mais um cientista a promover a guerra. Como se chama a este tipo de gajo?
O espaço para comentário é escasso para tal.
Abraço

Bilder disse...

Já agora convinha também compreender esta Europa(leia-se UE) e esta Alemanha https://observador.pt/opiniao/a-critica-da-razao-europeia-iii-a-europeizacao-da-alemanha-ou-a-germanizacao-da-europa/

Ricardo A disse...

A Europa hesita em aplicar o ás de trunfo nas sanções contra a Rússia. Trata-se de pôr fim às importações de gás, que rendem muitos milhões à Rússia e financiam assim a guerra na Ucrânia. A hesitação da União Europeia relaciona-se com a sua dependência energética em relação ao gás russo, difícil de substituir rapidamente. A Rússia fornece mais de 40 por cento do gás natural consumido na União e há mesmo países que dependem a 100 por cento do gás russo. É o caso da Suécia, Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia e Bulgária. A Chéquia é altamente dependente, com cerca de 80 por cento. Mas é na maior economia europeia que o dilema é maior: a Alemanha compra quase metade do seu gás natural à Rússia (40 por cento), e a possibilidade da Rússia interromper o fornecimento levou o governo alemão a admitir fazer racionamento de gás. mais aqui https://www.dw.com/pt-br/alemanha-%C3%A9-capaz-de-subsistir-sem-g%C3%A1s-natural-russo/a-61296300

Anónimo disse...

A guerra está ganha. Ganha pelos portugueses e ucranianos, ao que percebo. Pelos notícias que se vê por aí, os russos morrem em barda e já não têm munições. Passam o tempo a matar e torturar civis. O Presidente russo é um demente, um corrupto, não tem apoio e está aflito sem saber como sair sem perder a face.
Ganhámos! A vitória já não nos foge.

Anónimo disse...

Concordo com tudo o que diz excepto... excepto ... quando escreve "o senhor putin" pois deveria registar o canalha e criminoso russo