A aceitação de Putin (podia ser de outro qualquer tirano), ou a devoção nos casos extremos, é mais um exemplo de como a distinção clássica direita-esquerda é em muitos casos inadequada. No caso de Putin, como de outros, encontramos devoção e aceitação da criatura à direita e à esquerda.
À esquerda é mais a aceitação, ditada geralmente por razões tácticas - o inimigo (Putin) do meu inimigo (Ocidente, Estados Unidos) é meu amigo - e à direita é mais devoção por razões ideológicas - pátria, autoridade e moral, que supõem inspiram o tirano, contra o que chamam o globalismo, a anarquia e a devassidão, que acreditam contaminam o Ocidente, ou a América para ser mais preciso, e inspiram os seus líderes fracos e corruptos. O que há de comum entre uns e outros? A recusa das liberdades, ou mesmo o ódio às liberdades, e em consequência a recusa da democracia liberal como regime político.
Num caso como noutro, para dar um módico de racionalidade e justificar a aceitação ou a devoção pelo tirano e pela tirania, é indispensável construir uma realidade paralela baseada em factos alternativos, isto é, distorções dos factos reais, na melhor hipótese, ou mentiras puras e duras, o mais das vezes. No caso da direita, em que há uma adesão mais emocional e autêntica, e por vezes uma identificação com o tirano e o seu culto pessoal, as teorias da conspiração têm um papel insubstituível.
Na esquerda portuguesa, o PCP é um bom exemplo de construção de uma realidade paralela baseada em factos alternativos. Para poupar no latim, remeto os leitores para o dossier «SOBRE A SITUAÇÃO NA UCRÂNIA - ELEMENTOS PARA A COMPREENSÃO» no site do PCP, seguido da leitura do artigo de opinião de Fernanda Câncio «Os "15 mil mortos no Donbass" e outros factoides do PCP» (sim, essa antiga amiga ou namorada do Eng. Sócrates, que assim resgata alguns dos seus maus passos com o animal feroz), artigo em que, a propósito de uma conversa no Twitter do ex-deputado do PCP Miguel Tiago, Câncio autopsia a versão comunista dos antecedentes e da génese da invasão da Ucrânia pelo exército russo.
(Continua)
2 comentários:
«A democracia está morta. Tapai as orelhas, fechai os olhos, renunciai a ver e entender, mas está morta. Ideologicamente está fora de lugar, miticamente é ridícula, politicamente não está à altura. Realmente só era possível quando não existia.» – Jean Cau (1925-1993).
O Xi Jiping(não fale-mos agora do Putin) até se ri da demo-cracia ocidental(em Xangai é que não se riem)
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