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27/04/2022

Na história do Portugal dos Pequeninos, o século XXI não é assim tão diferente do XIX (1)

Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.

A retórica, sempre a retórica, e o reformismo que só poderia vir de fora

Mas não havia nas Necessidades um grupo organizado capaz de tomar o poder. Dos jacobinos franceses, os jacobinos portugueses só tinham a retórica. (…)

Com a «pátria em perigo», decapitavam o partido constitucional e entregavam o futuro aos bons ofícios do rei, a cujo retrato fizeram comovedoras manifestações. Pior: no momento em que se propunham resistir, pretendiam também conciliar. Parte da impopularidade do Governo vinha das medidas repressivas, aliás brandas, com que tentara meter na ordem as franjas mais lunáticas do radicalismo urbano.

(…)

Este fracasso foi o verdadeiro fim do reformismo, que só podia vir de fora. As reformas fiscais, económicas, administrativas e militares dependiam de uma prévia reforma política. Sem ela, a inércia e os interesses instalados impediriam qualquer tentativa de mudança. Palmela e Subserra ficaram reduzidos à deprimente tarefa de gerir o caos e a miséria. Vila Franca nem ressuscitara a antiga monarquia, nem gerara uma via média «razoável». Produzira apenas um absolutismo mitigado, menos despótico do que arbitrário e, na essência, moribundo.

[Do capítulo A contra-revolução (1823-1824)]

(Continua)

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