«Tenho acompanhado os debates e o meu destaque vai para António Costa. O primeiro-ministro está em grande forma. Seja quem for o adversário, encontra o ponto fraco de cada um e não larga. Com Jerónimo de Sousa, Costa é um responsável estadista das contas certas, que reprova a imprudência da extrema-esquerda. Com André Ventura é a La Pasionaria de São Bento, último reduto anti-fascista. Com Inês Sousa Real é um pragmático ambientalista, contra as utopias bucólicas do PAN. Com Francisco Rodrigues dos Santos é um progressista e compassivo homem de esquerda, face à tacanhez conservadora. Com Rui Tavares é um garante da solidez governativa.
Aposto que hoje, com Catarina Martins, vai ser o político consciente que não sacrifica o equilíbrio orçamental em troca de medidas populistas, e na quinta-feira, com Rui Rio, o político humanista que não sacrifica as pessoas em troca de equilíbrio orçamental. Ainda vai conseguir culpar Catarina Martins pelas eleições antecipadas. E colar Rui Rio, que sempre foi crítico da PAF, a Passos Coelho, ao mesmo tempo que consegue evitar que se fale do facto de ter sido número dois do Governo Sócrates, que conduziu o país à bancarrota e chamou a troika.
António Costa é uma espécie de canivete suíço político. Tem um truquezinho para lidar com cada situação. Desde o tempo em que traiu António José Seguro ou que passou a não falar em José Sócrates, que se sabia que Costa tem duas caras. Mas agora, no espaço de uma semana, vimos que afinal tem mais meia-dúzia. O mais impressionante é que é credível com qualquer uma delas. Sempre ouvi dizer que os opostos se atraem, mas não sabia que era possível reunirem-se na mesma pessoa. Costa é o Tom e o Jerry, o Lennon e o McCartney, o Bucha e o Estica, tudo amalgamado. Quando o adversário é extremista, Costa é moderado. Quando é utópico, ele é realista. Quando o opositor é de direita, Costa é paladino da igualdade. Quando é de esquerda, Costa pugna pela liberdade. E tem sempre defesa para qualquer ataque que lhe façam sobre os 6 anos em que governou. Como um camaleão, que se adapta ao ambiente para sobreviver, António Costa também se farta de dar à língua. No fundo, tem dupla face como aquela fita-adesiva que cola dos dois lados: para ganhar, tanto se pode juntar à esquerda, como à direita.»
José Diogo Quintela no Observador
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