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14/01/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (170)

Outras avarias da geringonça e do país.

Quanto vemos a distância abissal entre os factos e a lengalenga do governo, é forçoso reconhecer a Costa o talento de um mistificador e ao aparelho socialista o controlo que tem sobre os mídia, mais discreto mas muito mais eficaz do que o espalhafato berloquista. Alguns factos: até Novembro as exportações de bens reduziram-se 8,7% em relação a 2017 enquanto que o défice da balança comercial aumentou 1,2 mil milhões; a dívida pública atingiu em Outubro um recorde de 251 mil milhões; o investimento público quase se limita ao anúncio de 20 mil milhões de grandiosas obras; a carga fiscal bateu novo recorde e está 5 pontos percentuais acima da média da OCDE; no PIB per capita descemos para 77% da média da UE e caímos pela mão deste governo de 13.º para 15.º lugar nos 19 países da Zona Euro.

No dia 11 Costa falou no parlamento sobre o pomposo Programa Nacional de Investimentos 2030 de 20 mil milhões e deve ter-se distraído, deixando fugir-lhe a boca para a verdade. «Estes não são investimentos que sejam para esta legislatura, ou para a próxima legislatura. São, seguramente, para séculos», disse. A boca fugiu-lhe de novo quando implicitamente confirmou que o anunciado arranque das obras do aeroporto do Montijo é apenas para fazer passar a ampliação da Portela, entregando à ANA a Base Aérea de Figo Maduro para expansão do aeroporto actual, o que permitirá empurrar com a barriga a obra do Montijo, com o know-how em que o governo é exímio, como ficou patente nas obras escolares (ver aqui).

Um exemplo pitoresco do cuidado com que Costa se autopromove e apropria das realizações de outros, aproveitando a imprensa amiga (na circunstância o moribundo DN), é esta peça ilustrada com uma sua foto no meio de uma família de realojados pela câmara do Seixal. Por vezes, o desejo de controlar a comunicação é um tiro no pé, como foram as pressões para condicionar o relatório da OCDE sobre corrupção o qual, fatalmente, lá vem falar do caso de um primeiro-ministro com uma acusação gravíssima de corrupção salpicando muitos socialistas, incluindo alguns membros do governo actual reciclados dos dois governos de Sócrates que não se aperceberam de nada apesar de quase dormirem com o chefe. Em resultado dessas pressões, o foco caiu sobre um relatório que ainda nem foi publicado e até suscitou uma reacção da Transparência Internacional sobre a interferência do governo.

Não vou elaborar sobre a manobra mediática, completamente a despropósito, do ministro do Ensino Superior ao anunciar o fim das propinas no ensino superior nas calendas gregas. Cito simplesmente Luís Campos e Cunha, um simpatizante socialista que se deixou seduzir por Sócrates e abandonou o governo ao fim de poucos meses, que escreveu a esse respeito «a estupidez das propinas zero não tem limites». Também acho.

Apesar desses cuidados, a estrela de Costa e o brilho do PS empalidecem. Na sondagem da Aximage as intenções de voto do PS diminuem para 37,7%, e até na amiga Eurosondagem descem 1,8 pp para 40%. O mesmo se passa com a avaliação de Costa que na Aximage desce 5 valores (de 0 a 20) desde o máximo em Maio de 2017.

Entre os múltiplos exemplos dos expedientes de cativação que deixam a máquina do Estado exangue e permitem executar um orçamento que tem pouco a ver com o aprovado, o SNS é talvez o caso mais grave como demonstram as renúncias sucessivas de administrações dos hospitais, a última das quais a de São João, palco do pesadelo da pediatria que dispunha de uma solução mecenática privada da iniciativa de Pedro Arroja boicotada pelo governo. A respeito da degradação do SNS, leia-se a longa entrevista do jornal SOL a Constantino Sakellarides, um antigo director-geral da Saúde e até há 8 meses consultor do ministro da Saúde. E tome-se nota de que a dívida do SNS aumentou uns incríveis 52% nos 3 anos deste governo

E as cativações atingem até ridiculamente as obras do Liceu Camões que andam a ser adiadas desde 2009. Contudo, se há despesas que não parecem ser afectadas pelo furor de cativação de Centeno são os gastos com advogados que em 2018 quase atingiram 22 milhões, um aumento de 63% em relação a 2017, naturalmente a maior fatia dividida pelas grandes sociedades de advogados amigas.

Com a anunciada contra-reforma do arrendamento, o governo conseguiu que a oferta de casas de 45 mil em 2015 se reduzisse para 16 mil em 2018 e que a renda média por m2 na área metropolitana de Lisboa aumentasse de €6,2 em 2014 para €10,8 em 2018. E com o Programa de Arrendamento Acessível de incentivo fiscal ao arrendamento conseguiu o prodígio de fazer perder dinheiro a um senhorio que adira ao programa.

A contra-reforma da legislação laboral, cujos efeitos a seu tempo se irão sentir, está sob ameaça de mais uma dose de reversões sob a pressão da CGTP que se propõe uma manif em S. Bento por ocasião da votação das alterações ao Código do Trabalho.

Quanto aos amanhãs que cantariam, com as fracas perspectivas de crescimento da economia dos principais parceiros de Portugal, a previsão de 4,6% do OE 2019 de crescimento das exportações está seriamente comprometida.

O que continua a cantar é o crédito e o consumo. Invertendo a tendência dos últimos meses o montante das novas operações de crédito à habitação aumentou em Novembro para 822 milhões de euros. Em Novembro, as vendas a retalho cresceram quatro vezes mais em Portugal do que na Zona Euro e, sinal dos tempos de euforia, a Mercedes passou a ser a terceira marca mais vendida em Portugal. Aproximamo-nos assim do padrão habitual: o consumo de bens duradouros dirige-se essencialmente às importações e as exportações revelam-se gradualmente incapazes de acompanhar o crescimento das importações, aumentando o défice da balança comercial, como agora, que até Novembro aumentou 1,2 mil milhões em termos homólogos. Este ano as previsões vão no sentido de novo abrandamento das exportações.

Tudo isto já foi visto no passado e sabe-se como terminou. Desta vez vai ser diferente, dirá o governo e os patetas em geral. Concordo por outras razões. Vai ser diferente porque desde o início do resgate a dívida pública aumentou uns 80 mil milhões de euros e se nessa altura o whatever it takes de Draghi permitiu reduzir as taxas para quase zero e usar o alívio quantitativo para comprar dívida, hoje essa margem de manobra praticamente desapareceu e a resposta a outra crise será muito mais problemática. É o pressuposto para manter o rating da Moody's que reconhece que o nível de endividamento é excessivo.

1 comentário:

Pedro Ferreira disse...

Excelente como sempre. Prevejo estagnação este ano de 2019 (com boa vontade). Estou muito expectante de qual será a desculpa, houve um ensaio a culpar o proteccionismo, a coisa vai sobrar para o populismo.