Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

21/01/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (171)

Outras avarias da geringonça e do país.

Não vou contar a estória das casinhas vendidas e compradas por Costa que está contada pelo Correio da Manhã aqui e aqui e em muitos outros sítios por vários outros jornais, com aquela excepção previsível que é o semanário de reverência. Vou apenas falar da moral da estória, a trafulhice rasteira para fugir ao IRS sobre as mais-valias, ele que é o principal responsável por virar a página da austeridade aumentando a carga fiscal. A propósito, refira-se que o governo de Costa fez de Portugal um dos apenas 6 países entre 94 analisados pela OCDE que aumentaram os impostos às empresas.

Mostrando merecer o rótulo de habilidoso, Costa enquanto mantém quente a cama. levantando os lençóis de um lado para o PSD de Rio, aconchega do outro lado os cobertores para comunistas e berloquistas garantindo que quer renovar os laços da geringonça.

E assim tem de ser porque Costa já percebeu estarem a amainar os ventos que sopravam as velas murchas da economia portuguesas e, por isso, tal como os mais atentos também perceberam, receia a desaceleração e está a mudar o discurso na economia. E Costa não foi muito lesto a perceber porque os sinais já se multiplicavam: na Zona Euro a produção industrial em queda acentuada, as importações a subirem e o excedente a descer, a Alemanha a crescer ao ritmo mais baixo em 5 anos e o sistema bancário grego a desfazer-se; na China as exportações no mínimo de dois anos e o crescimento do PIB a ser revisto em baixa.

Também cá dentro as notícias não são animadoras: o turismo em desaceleração, a produção industrial caiu 2,9% em Novembro de 2018 e até o consumo privado dá mostra de desacelerar. Além disso, temos o peso da dívida, sobre o qual o Relatório de Sustentabilidade Fiscal de 2018 da CE publicado há dias escreve: «a médio prazo, os riscos de sustentabilidade fiscal parecem, pelo contrário, ser elevados para Portugal, ... O rácio ainda elevado da dívida em relação ao PIB a médio prazo, no cenário de referência e em alguns cenários alternativos contribui para esta avaliação.» Isto em bruxelês quer dizer ponham as barbas de molho.

Preparem-se, pois, se até aqui o crescimento da economia portuguesa (medíocre, comparado com a maioria dos países da UE) se devia aos poderes milagrosos de Costa e do seu Ronaldo das Finanças, em breve a desaceleração, ou mesmo a recessão, precisarão de culpados. Desta vez poderá ser Trump que substituirá o neoliberalismo e a economia de casino de Sócrates e, claro, o Brexit que Costa já está a preparar como álibi de contingência.

Entretanto, o governo por um lado anuncia milhões de investimentos vindos do nada, por outro anuncia benfeitorias fiscais que dão em nada. Entre os muitos milhões que ultimamente o governo anunciou que iria "investir" encontramos 830 milhões anunciados para comprar aviões de transporte para a Força Aérea integrados na proposta de Lei de Programação Militar, que prevê investimentos de 4,74 mil milhões de euros, até 2030. Onde é que já ouvimos 2030? No Programa Nacional de Investimentos 2030 onde se anunciam 20 mil milhões. Tomai nota na agenda de mais estes 830 milhões.

Entre as benfeitorias fiscais, vejam-se as novas tabelas de retenção de IRS onde, por exemplo, «um vencimento de 919 euros, sem filhos, em 2018 o salário líquido ficava nos 821,58 euros e com a atualização das tabelas, em 2019, passa a ser de 822,50 euros», ou seja retém-se ao sujeito passivo menos 92 (noventa e dois) cêntimos por mês, segundo as contas do semanário de reverência que não se cansa de enaltecer o privilégio que é para os portugueses poderem dispor de governo socialista amigo. Ou vejam-se as custas judiciais que vão variar segundo o rendimento das pessoas. Ou veja-se o anúncio do fim das propinas no ensino superior, medida de uma estupidez sem limites.

Segundo dados da ACSS o número de doentes que o SNS não foi capaz de operar o ano passado atingiu cerca de 250 mil, o dobro de 2017, que foram transferidos para os hospitais particulares. Entretanto, o clima de irresponsabilidade e descontrolo permite que desapareçam centenas de milhares de euros de equipamentos de um hospital. Perante a decomposição do SNS, afogado em cativações e dívidas o que faz o governo? O costume, vai à lista de boys disponíveis e escolhe 15 para as administrações dos hospitais, substituindo gente capaz (e incapaz, admita-se) por apparatchiks socialistas. É o modelo da Protecção Civil que tão bons resultados deu.

Em matéria de paz social, continuam as greves assanhadas. São os guardas prisionais outra vez, os estivadores em vários portos durante seis meses e uma greve nacional dos funcionários públicos em 15 de Fevereiro. E serão mais daqui até às eleições porque o PCP não vai deixar arrefecer a máquina, pelas razões já conhecidas e ainda porque os subterrâneos socialistas desencavam estórias embaraçantes para o camarada secretário-geral e as expõem na TVI.

Estima-se que o investimento imobiliário total tenha a atingido 30 mil milhões o ano passado, ou cerca de 15% do PIB o que nos deveria leva a duas perguntas: (1) de onde vem o dinheiro e (2) para onde vai. A primeira tem uma resposta simples - uma boa parte de fora, o que significa que o investimento directo é no imobiliário e essencialmente especulativo. A resposta à segunda pergunta é mais complicada porque não se sabe exactamente o que fazem os proprietários portugueses com o produto da venda das suas propriedades, mas é precisa muito imaginação para pensar que vão aplicar o dinheiro em iniciativas produtivas.

Sem comentários: