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19/09/2018

CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa (2)

Nota prévia: nesta série de posts citam-se fragmentos da entrevista do jornal SOL a Fernando Nunes da Silva, antigo vereador; esta série pode ser lida como sequência de uma outra série Câmara de Lisboa, uma aplicação prática da lei de Parkinson.

[Continuação de (1)]

«O grande objetivo do Manuel era ser o quarto homem das grandes mudanças da cidade de Lisboa. Isto é o projeto dele e eu conheço-o, sei como é que ele o defende, etc. Portanto, isso faz parte de um determinado conceito de cidade e de arrogância muito grande de classe em relação àquilo que podemos chamar a classe popular e média baixa, de que não têm de se meter nestas coisas mais complexas. A visão de cidade é para os iluminados e a segunda circular era apenas uma das peças da transformação da cidade de Lisboa numa cidade de boulevards, com um espaço público altamente qualificado e essencialmente virado para a classe média, média alta e para o turismo de um certo nível. Esta é a visão subjacente e é possível provar isso através das propostas apresentadas pelo Salgado em 12 anos de mandato - nunca houve ninguém na CML, antes ou depois de Abril, tantos anos consecutivos e com tanto poder. (...)

A linha circular mostra bem o que é a visão da cidade dele, que é apenas a do turismo e dos grandes negócios imobiliários. E eu não acredito que o Salgado meta dinheiro ao bolso. Pode ser que encaminhe negócios fora de Lisboa para o Risco e para o filho para manter a família. (...)

Porque há duas câmaras. Há a da via verde, para os grandes negócios imobiliários e para aqueles que é preciso ter na mão, como é o caso do Robles - o Robles não percebeu que no dia em que o Salgado lhe aprovou aquele empreendimento em menos de um ano que ficou completamente nas mãos dele. E depois há o resto, que é terrível. Você não pode imaginar o que é o processo kafkiano do licenciamento em Lisboa para quem não contrata arquitetos da câmara ou quem eles indicam para quem não tem a via verde. (...)

Os objetivos últimos são interessantes, que é tornar a cidade mais acolhedora do ponto de vista do espaço público, feitas de forma errada do ponto de vista técnico. E isso tem muito que ver com uma espécie de ódio visceral do vereador Salgado a tudo o que seja engenharia e à constituição de um gabinete que é essencialmente de arquitetos e urbanistas que acham que basta consultar as normas técnicas para saber projetar espaço público e que se enganaram. (...)

A história é muito simples: quando o Costa avança para a câmara e leva o Salgado, o Salgado diz que a frente ribeirinha é dele. E o Júdice disse que ele podia ter a sua ideia, mas que tinha sido nomeado pelo Governo e era uma entidade acima da câmara e portanto tinha a sua autonomia e não admitiu. Depois, a extinção da Parque Expo como gabinete de projetos é uma decisão da Cristas que ninguém percebeu. O Governo tinha acabado de tomar posse e era preciso reduzir custos e então decidiram acabar com a Parque Expo. Só para ter uma ideia, a Parque Expo estava na altura a fazer trabalhos na Argélia, Tunísia, Brasil, Angola, China, tinha uma carteira de encomendas grande e só no ano passado é que se conseguiu fechar as contas. Porque acabou? Foi o Salgado e a Risco. Ele há muito tempo que defendia a extinção da Parque Expo e viu ali uma oportunidade. A Risco hoje é do filho do Salgado, da ex-mulher do Salgado e de dois arquitetos antigos. O Salgado retirou-se mas na prática assegurou a sua continuidade. (...)

(...) mas tudo se complicou na primeira proposta que só não foi a votação porque a Helena Roseta se apercebeu e avisou o Costa que a mandou retirar: a proposta era vender o terreno para ampliação do Hospital da Luz. Portanto, faz-se uma hasta pública já dizendo quem o é comprador. E foram eles que ganharam. (...)»

CONTINUA

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