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08/09/2018

CASE STUDY: O SCP como microcosmos do Portugal dos Pequeninos

Hoje os lagartos vão às urnas para escolher um presidente e uma direcção, depois de uma baderna de vários meses que foi o abono de família do jornalismo de sensações e a alegria de lampiões e tripeiros.

No fim de semana passado, em entrevista à Revista do Expresso, Vasco Pulido Valente (VPV) dissecou a baderna porque, explicou, «teve uma curiosidade por esta história toda e acompanhei-a ao milímetro, porque me pareceu o modelo exacto de um movimento populista». A mim também me pareceu, e por isso apodei Bruno de Carvalho (BC) de capo demitido dos lagartos quando ele disse, justamente, «temos uma elite bafienta» para acrescentar com a sua megalomania um perfeito disparate (infelizmente) «logo por azar, está toda no Sporting».

Como o texto da entrevista não está disponível online, aqui fica a parte mais saborosa onde VPV estabelece um paralelo do SCP com o Portugal dos Pequeninos e as suas elites enfatuadas e merdosas, e onde até admite para BC ganhar as eleições um método habitualmente usado pela oposição: esperar calado que o adversário perca um campeonato.

«A entrevista em que pretende que é louco ... Ele não é nada louco. É uma pessoa que compreende bem o poder e é muito calculista. Mas identificava-se de facto com o Sporting, e para ele não era possível recuar. Porque um líder populista não pode descer do seu lugar único na vida da nação ou do povo. A única saída para alguém como ele era destruir o Sporting. A seguir a Alcochete, nem ele nem as tropas viram que aquilo que se tinha feito ia desencadear um escândalo internacional. com a cabeça partida do Bas Dost em todas as televisões da Europa. Daí em diante, os notáveis - que sempre o tinham odiado, como é evidente - perceberam que tinha chegado a altura de o remover. E o chefe dos bombeiros, que era presidente da Mesa da Assembleia-Geral, demitiu-se porque julgava que ia arrastar a demissão de Bruno de Carvalho. Depois verificou-se que não arrastava, e ele, como só se tinha demitido verbalmente e não por escrito, convocou uma Assembleia-Geral por pressão dos outros notáveis. O chefe dos bombeiros não era um notável capaz de resistir à pressão dos outros notáveis. O problema dos notáveis foi sempre o mesmo. Eles podem unir-se contra o chefe populista, mas se ganham dividem-se. Já aconteceu. Há sete candidaturas. Desde Ricciardi, que trata todos como se fossem criados dele, desde os outros candidatos aos funcionários do Sporting... 

Não reparou? Ele porta-se como os velhos senhores do antigamente. "Faça-se um homenzinho", diz; ele a outro candidato. "O senhor não tem altura, ou lá o que é, para me chamar mentiroso." Deve ser como ele trata o chofer. Há outros notáveis que se candidataram, como Dias Ferreira, que é a pessoa em Portugal capaz de dizer menos em mais palavras. Depois há uns arrivistas, que querem dirigir o Sporting porque é uma grande empresa. Dividiram-se todos outra vez. Bruno de Carvalho foi até ao fim. Conseguiu destruir o Sporting. Destruiu a equipa que tinha feito, que era uma grande equipa, e destruiu o resto. A Assembleia-Geral de destituição, onde perdeu em todas as mesas, provavelmente tê-lo-ia destituído de qualquer maneira. Mas o facto é que ó Sporting não é uma democracia, como andam a dizer. Setenta por cento dos sócios votaram a demissão de Bruno de Carvalho. Não é verdade. Os notáveis têm muito mais votos do que os outros. O que Bruno de Carvalho devia ter feito, se fosse inteligente, e se calhar é, era esperar calado que o Sporting perca um campeonato

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