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21/09/2018

A final feminina do US Open à luz da luta de classes

«Serve este preâmbulo para voltar à cena que Serena Williams fez com Carlos Ramos há semana e meia. A leitura imediata, a que mais incendiou a generalidade dos media, foi a de que se tratava de uma luta entre uma mulher negra e um homem branco. Mas há outras leituras possíveis. É possível ver ali um confronto entre uma estrela mediática, com um enorme poder de marcar a agenda, e um anónimo de que nunca tínhamos ouvido falar. Também é possível ver ali a luta de classes em acção. Perdendo a final, Serena Williams ganhou, naquela noite, um milhão e 800 mil dólares. Qualquer coisa como quatro mil vezes mais do que Carlos Ramos, que recebeu 450 dólares. Se tivesse ganhado, a diferença seria bastante maior, obviamente. Ou seja, foi uma discussão entre uma milionária e uma pessoa que, tanto quanto sabemos, é da classe média (ou média alta).

Pudemos ver, pelo coro indignado do New York Times, da New Yorker e da Newsweek, entre outros, que a generalidade da esquerda americana se identificou com a primeira causa. A acreditar no inquérito que refiro no primeiro parágrafo, se o mesmo se tivesse passado na África do Sul, a maioria negra ter-se-ia identificado com Carlos Ramos. Mas, pelos vistos, nos Estados Unidos, a ideologia que domina o Partido Democrata está bem representada pela assistência da final do U.S. Open.»

Excerto de A identidade da esquerda, no Observador. Luís Aguiar-Conraria mostra como a esquerda bem-pensante pode ressuscitar a luta de classes em vez do (ou além do) combate pela igualdade de sexos, perdão, géneros e pelos direitos das minorias.

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