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24/09/2018

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (154)

Outras avarias da geringonça e do país.

Começo mais esta crónica citando Francisco Louçã que, com o seu conhecimento profundo da partidocracia doméstica, reconhece na sua coluna de 2/3 da broadsheet posta à sua disposição pelo semanário de reverência que o PS é o único partido em que a elite tão habituada aos carinho do Estado confia para a servir. Por uma vez, estou com o tele-evangelista.

Continuo, tirando o meu chapéu ao maquiavelismo de fancaria de António Costa na nomeação da nova PGR que apanhou o presidente dos Afectos com as calças na mão e o deixou irremediavelmente derrotado, ridicularizado pelo insucesso das suas manobras e exposto na sua duplicidade e pusilanimidade.

Os melhores professores do mundo, segundo o presidente da República, os que mais adoecem segundo a CE, dos melhores pagos segundo a OCDE, comandados pelos seus sindicatos (que por inerência devemos classificar também como os melhores do mundo), já anunciaram que vão continuar a sua greve em Outubro para tentar extorquir aos contribuintes o «descongelamento das carreiras». Já os taxistas, que aguardam ser promovidos pelo PR a melhores do mundo, garantem que «não saem das ruas», não para transportar a sua freguesia mas para protestar pela concorrência.

Quanto à CP, continua a aguardar os amanhãs que cantarão prometidos pelo governo e, entretanto, descarrila, não apenas em sentido figurado: quase descarrila o Alfa Pendular e descarrila mesmo um comboio de mercadorias.

Num país com uma demografia decadente, a única saída para crescer é aumentar sustentadamente a produtividade do trabalho, o que tem estado longe de acontecer nas últimas duas décadas. Em consequência, o crescimento recente da economia tem resultado sobretudo da redução do desemprego. Como este está próximo do desemprego estrutural, se a produtividade não aumentar o crescimento só pode reduzir-se nos próximos anos, como reconheceu o Conselho das Finanças Públicas (CFP) que prevê a contracção do PIB potencial a partir de 2020. Resta lembrar que para aumentar a produtividade é indispensável aumentar o stock de capital, e, portanto, investir (nos últimos 10 anos o o investimento desceu de 23% para 16% do PIB), e, portanto, poupar ou convencer o capital estrangeiro a investir num país com um pequeno mercado interno, com carência de mão-de-obra qualificada, que adora o Estado, repudia o capitalismo e detesta a concorrência.

Por estas razões, não deveríamos ficar surpreendidos com a gradual desaceleração do crescimento modesto (é o oitavo mais baixo da UE) prenunciado pelo CFP e indiciado pelo indicador de actividade económica do INE. Por outro lado, há também sinais de desaceleração do turismo cujas receitas tiveram em Julho o crescimento mais baixo dos últimos 5 anos, sobretudo no Algarve e na
Madeira.

Consequência do agravamento do défice da balança comercial de bens, o saldo das contas externas (balanças corrente e de capitais) até Julho agravou-se em 808 milhões passando de +173 millhões para -635 milhões, com o inevitável aumento do endividamento ao exterior.

Devia ser um facto conhecido, mas perde-se no meio do nevoeiro informativo criado pelos pandeireiros que se acotovelam nas redacções a exaltar os feitos do governo de Costa. Em quatro anos este governo fará uma consolidação nominal de 3% do PIB com dois terços à custa da redução dos juros e de 600 milhões anuais de dividendos do BdP e também à custa da degradação dos serviços públicos e da forte redução do investimento público, como recorda Miranda Sarmento em entrevista ao Expresso. Note-se que, ainda assim, segundo a UTAO, a despesa com juros da dívida pública aumentou 3,8% nos primeiros 7 meses deste ano, acima dos 1,4% orçamentados para o ano. Também segundo a UTAO, o rácio dívida pública/PIB diminuiu, porém, o valor bruto da dívida atingiu 246,7 mil milhões no final de Junho e não pára de aumentar - no final de 2015 era de 231,5 mil milhões, ou seja o governo de Costa aumentou o seu valor bruto em 15 mil milhões e ainda reduziu a almofada de liquidez aumentando ainda mais o valor da dívida líquido de depósitos.

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