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27/07/2014

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O culto do status e a falta de gosto pela iniciativa e pelo risco dos Donos Disto Tudo e Disto Tudo

«Não por acaso, a palavra “indivíduo" é quase um insulto em Portugal, "ali vai o indivíduo", "aquele indivíduo tem a mania que é esperto". Também não é por acaso que os Espírito Santo não são conhecidos pelo risco aplicado em novas indústrias. Não são empresários, não são homens livres no sentido clássico e liberal do termo. São, isso sim, membros da corte. Para quê arriscar na economia real quando se pode fazer uma PPP com o Dr. Paulo Campos?

Quando se lê as memórias da geração anterior (Alçada Baptista, Filomena Mónica) percebe-se que o tal "empreendedorismo" sempre foi o anátema desta velha direita. Criar riqueza com projetos novos não fazia sentido. O jovem de boas famílias só tinha de "viver dos rendimentos". Até podia ser médico ou advogado, mas só por lazer. O pai de Alçada, por exemplo, nunca cobrou dinheiro pelo seu trabalho como médico. Viver dos juros e das rendas era o modo de vida dos grandes. Os rendeiros que empreendessem. Os pobres que empreendessem, sujar as mãos na realidade e na produção de riqueza não era próprio das grandes famílias. A propósito, diga- se que os empreendedores eram vistos como inimigos, porque abanavam a sociedade e colocavam em causa as relações de poder entre os senhores e os humildes que se desbarretavam. Os Espírito Santo ainda são herdeiros desta glorificação da inércia social. Ao contrário do velho Champalimaud, não gostam de fazer coisas, não gostam da trepidação da fábrica ou do cheiro estrumado da herdade. Este desprezo pela produção de riqueza diz muito sobre o nosso "capitalismo" e sobre as nossas grandes famílias.
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Henrique Raposo, «A redenção dos Espírito Santo», Expresso

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