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01/07/2014

Mitos (172) – Em Portugal trabalha-se mais horas do que na Óropa

Depende de qual Óropa estamos a falar. Não faz sentido nenhum comparar Portugal com países que têm uma produtividade dupla da portuguesa. Devemos comparar-nos com países com produtividades próximas e semelhanças na evolução histórica recente. Vejam-se os casos mais típicos.

Grécia: mais ou menos na mesma época em que o Botas tomava as rédeas do poder, um golpe de estado coloca no poder o ditador Ioannis Metaxas que por aí ficou até a invasão e ocupação pelo exército nacional-socialista alemão; segue-se uma guerra civil entre comunistas e anticomunistas e um golpe de estado em Abril de 1967 que colocou no poder os coronéis até 1973; nesse ano foram substituídos por um brigadeiro apeado no ano seguinte, depois da invasão de Chipre pela Turquia; desde 1975 a Grécia tem sido governada alternadamente pelo PASOK e pela Nova Democracia que conduziram à bancarrota o Estado e o transformaram em protectorado da troika.

Países da Europa do leste: logo a seguir à queda do nacional-socialismo foram ocupados pelo exército soviético, que colocou os partidos comunistas locais no poder; as economias foram estatizadas e instituídas ditaduras de partido único chamadas «democracias populares» que vieram a cair a seguir ao muro de Berlim; desde então a maior parte da economia voltou a ser privatizada e a democracia foi restaurada.

Jornal SOL de 27-06
Repare-se a semelhança com a história portuguesa: uma ditadura de partido único desde 1926, de inspiração vagamente nacional-socialista, um golpe de estado em Abril de 1974 que colocou no poder os capitães controlados pelo Partido Comunista e pelos esquerdismos que pretendiam instaurar uma «democracia popular» ou o «poder popular», respectivamente; um terço da economia foi nacionalizada; outro golpe militar em Novembro de 1975 restaurou a democracia e desde então Portugal tem sido governado alternadamente pelo PS e pelo PSD, sozinho ou coligado com o CDS; desde 1995, o PS no poder durante 13 anos, com a colaboração do PSD durante 3 anos, conduziram à bancarrota o Estado e o transformaram-no em protectorado da troika.

Recordado isto, não constituirá surpresa ver o quadro ao lado, de onde se poderia concluir adicionalmente que 45 anos de comunismo são piores do que 48 anos de corporativismo e ambos são superados pela mistura explosiva de comunismo com várias modalidades de socialismo, combinados em regimes ditatoriais militares e civis.

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