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09/07/2014

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Martin Amis recorda Koba, o terrível (5)

Quando se preparava para o julgamento exemplar dos Socialistas Revolucionários, Lenine escreveu ao Comissário do Povo para a Justiça (Maio de 1922):

Camarada Kurski ! Na sequência da nossa conversa, envio-te o esboço de um parágrafo suplementar para o Código Penal... O conceito de base, espero, é claro...: instaurar abertamente um estatuto que não esqueça os princípios mas seja politicamente fiel à verdade (e não apenas juridicamente rigoroso) para dar motivação à essência e à justificação do terror, sua necessidade, seus limites.

Em 1948 Estaline fez a seguinte adenda à sua biografia oficial, a Via Curta: «Nas várias fases da Guerra, o génio de Estaline encontrou a solução correcta que previa todas as circunstâncias... O seu saber militar revelava-se tanto na defensiva como na ofensiva. O seu génio permitia-lhe adivinhar os planos do inimigo e derrotá-los». Estaline fez depois uma adenda à adenda: «Embora desempenhasse a sua tarefa de chefe do Partido com consumada competência e gozasse do apoio incondicional de todo o povo soviético, Estaline nunca permitiu que a menor ponta de vaidade, presunção ou jactância manchasse o seu trabalho.»

Cada vez mais, à medida que o Terror-Fome se agravava, os camponeses roubavam cereal para se manterem vivos. Uma nova lei politizou este crime, declarando que todos esses gatunos seriam tratados como inimigos do povo e receberiam a dezena ou a super. «No princípio de 1933», escreve Volkogonov, «mais de 50 000 pessoas, muitas delas esfaimadas, foram condenadas.» O uso da palavra «fome» incorria na mesma pena. Os «valentes ceifeiros», na espirituosa formulação de Estaline, não sabiam que estavam à fome por causa da política governamental. Mas sabiam que estavam à fome. E era crime capital reparar nisso. No essencial, as pessoas eram mortas rapidamente pelo crime capital de dizerem que estavam a ser mortas lentamente.

«Koba the Dread: Laughter and the Twenty Million»

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