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17/10/2019

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (63) O clube dos incréus reforçou-se (XX)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario há 6 anos, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

E se as vozes dissonantes são raras na Óropa, aqui no Portugal dos Pequeninos pouco se ouvem. Ouviu-se há dois meses José Maria Brandão de Brito, Chief Economist do BCP e por isso com independência não confirmada.

E ouviu-se esta semana Avelino de Jesus, economista e professor no ISEG, que vai ao fundo da questão para mostrar como o BCE ao interferir com as leis económicas se comporta como um aprendiz de feiticeiro colocando a UE em risco de ser vítima do feitiço.
 
«Ora, o juro representa uma das mais elementares leis económicas: é a manifestação das preferências temporais dos indivíduos. Numa economia de escassez sempre preferimos ter um bem hoje a possuí-lo amanhã. O juro representa o custo que atribuímos a ter o bem amanhã em vez de o ter hoje e tem o papel central na obtenção dos equilíbrios económicos entre o consumo, a poupança e o investimento desejados pelos indivíduos.
A intrusão de um agente, a reprimir a formação no mercado de um juro representativo da agregação das preferências temporais dos indivíduos, fixando centralmente, por um longo período, um valor manifestamente abaixo dos desejos mais profundos destes não pode deixar de ter perniciosos efeitos desestruturadores na sociedade.

Porém, as forças para a continuidade dos juros baixos parecem vencer. As tensões e os interesses acumulados são de tal ordem que a inversão traria custos, de curto e médio prazo, que os actuais quadros políticos não comportam. A economia vai por isso piorar, a dependência dos juros baixos vai sofrer aumentos brutais e crescentes. A inversão tem de ocorrer para a economia melhorar mas aquela apenas se verificará no rescaldo de rebentamento da bolha dos juros baixos, que só pode ser catastrófico.

No centro desse acontecimento estará o excesso da tomada de riscos que os bancos centrais cada vez mais temem e verbalizam mas que não conseguirão enfrentar. O monstro que criaram já não é domável. A normalização da política monetária já não parece possível fora de um contexto reconstrutivo a seguir a uma calamidade económica precipitada por um qualquer acontecimento imprevisível, mas provável, dada a enormidade da acumulação de riscos.»

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