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04/08/2019

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (62) O clube dos incréus reforçou-se (XIX)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

Por razões fáceis de entender, estas políticas continuam a merecer a reverência, sobretudo em países como o nosso em que o Estado vive directa e sobretudo indirectamente, pela indução de confiança nos mercados, a expensas do BCE. Proliferam assim as luminárias que vêem a União Europeia e as miríficas políticas de mutualização da dívida como o alfa e ómega da salvação sem esforço das finanças arruinadas da pátria.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

É por estas razões que venho relevar o artigo «O pesadelo das taxas de juro negativas» publicado há dias no Eco, de José Maria Brandão de Brito. Não sendo a priori, como Chief Economist do BCP, um exemplo de independência porque os bancos são penalizados por estas políticas do BCE, o certo é que o artigo toca todos os pontos que prejudicam a médio-longo prazo a economia como um todo, como tenho vindo a salientar nesta série de posts.

Aqui vai a conclusão de Brandão de Brito:

«Taxas de juro muito baixas ou negativas são um doce sonho que – impercetível mas inevitavelmente – se vai transformando num amargo pesadelo. Os agentes económicos ficam excessivamente endividados. O tecido empresarial transforma-se num recreio de zombies e a produtividade da economia colapsa. A capacidade de criação de prosperidade reduz-se. Os mercados financeiros geram ganhos para uma seleta minoria, mas à custa do aumento da instabilidade do sistema económico, cujas crises sempre afetam com maior acutilância os mais frágeis. Como tudo isto não bastasse, a desigualdade aumenta e, com ela, aumenta o extremismo político.»

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