Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/08/2019

ARTIGO DEFUNTO: Como o jornalismo de reverência deixa uma entrevista a Costa transformar-se num instrumento de propaganda

A entrevista da Revista do Expresso a António Costa publicada no fim de semana é um bom exemplo de como uma entrevista frouxa, sem confrontar o entrevistado com os factos, lhe proporciona uma boa oportunidade para fazer agitprop com uma aura de estadista certificado por um jornalismo reverencial.

Passemos em revista algumas declarações de Costa que não resistem aos factos com que os jornalistas do Expresso (por coincidência vindos ambos do Observador) o deveriam ter confrontado.

«... estamos a poucas semanas da conclusão desta legislatura e podemos dizer que cumprimos os compromissos que assumimos»
Revejam-se as nossas mais de 200 Crónicas da avaria que a geringonça está a infligir ao País carregadas de factos ou, para simplificar, leiam-se as Prioridades à la carte de Alexandre Homem Cristo.

«... começou a convergir com a Europa em 2017, 2018... e em 2019 ainda mais vai convergir...»
Deveriam ter-lhe lembrado que isso se deve à Itália, e este ano à Alemanha, porque quase todos os outros países estão a crescer mais depressa e nomeadamente os comparáveis com Portugal que tinham um PIB per capita inferior e nos tão a ultrapassar um a um.

«... temos estado a evoluir em contraciclo com a economia mundial»
Como? Estamos a crescer há décadas menos do que a economia mundial. Perante a evidente baboseira, Costa corrige e acrescenta

«Estamos a crescer acima da média europeia, não estamos a ir à boleia de quem cresce menos.»
Quase todos os outros países europeus estão a crescer mais depressa.

«... sem a devolução de rendimentos não tínhamos reposto a confiança na sociedade portuguesa, que foi a base para o aumento do investimento
Aumento do investimento? Qual aumento? Qual investimento? O investimento público só este ano ultrapassaria (se ultrapassar, o que se duvida) o investimento do governo anterior e a Formação Bruta de Capital fixo em 2018 (34.363,8 milhões) estava ao nível de 2003 (34.705,4 milhões). (Pordata)

«É fazer o investimento público sem necessidade de aumentar o défice.»
«... melhorámos o investimento do ponto de vista de instalações e equipamentos, nas escola, serviços de Saúde, Forças Armadas e de segurança...»
É muito descaramento quando se sabe que é o aumento da carga fiscal e o corte das despesas de capital que tem permitido diminuir o défice à custa da degradação dos serviços públicos, da paralisação do SNS, da inoperacionalidade das Forças Armadas, etc.,  enquanto se dá prioridade a reduzir o horário, aumentar os salários e os efectivos da freguesia eleitoral do governo.

«... estamos a aumentar a população activa...»
Grande realização: a população activa em 2018 (5.232,6 mil) era inferior à de 2013 (5.284,6 mil) (Pordata)

«... quando em Junho derreteram 200 mil toneladas na Gronelândia...»
Esta é uma bacorada ao melhor nível de um Trump e dá uma ideia do calibre da ignorância de Costa. Foram só 3 mil milhões de toneladas por dia ou cerca de 200 mil em cada 6 segundos.

«... melhorar a progressividade e baixar os impostos...»
Para quem bateu em 2018 o recorde de todos os tempos da carga fiscal, esta está ao nível das 200 mil toneladas.

«... (se tivesse tido a maioria)  ... a reforma da floresta teria avançado mais rapidamente»
A não ser as «golas» inflamáveis, não seria difícil porque a reforma da floresta não avançou nada, tal como todas as outras reformas.

1 comentário:

Anónimo disse...

E não falou na "precaridade"?